A moral e o medo - jorge carreira mais
Opinião » 2023-06-03 » Jorge Carreira Maia
No Público online de 28 de Maio, há uma entrevista interessante a Mohan Mohan, antigo gestor da Procter & Gamble, uma multinacional detentora de inúmeros marcas bem conhecidas dos consumidores portugueses. A entrevista tem um curioso título: Se os gestores fossem movidos por valores, não teríamos a crise que enfrentamos hoje. O título é interessante porque reconhece explicitamente que a actual crise se deve às opções dos que têm poder de decisão económica. Mais à frente faz o mesmo reconhecimento relativamente à crise do subprime de 2008 nos EUA, que desencadeou, a partir de 2011, as crises das dívidas soberanas na Europa do Sul, entre elas a portuguesa. O interesse da entrevista deriva ainda de outra coisa, do reconhecimento de que os gestores, por norma, não são movidos por valores morais.
A dado passo, é perguntado o seguinte: Acredita que os valores dos gestores constituem a parte mais importante para se evitar fenómenos como o de 2008, mais do que a regulação e a supervisão? A resposta pode resumir-se no Absolutamente. É evidente que se todos os gestores se pautassem por valores morais irrepreensíveis, muitos dos males que acontecem à humanidade não aconteceriam. Todavia, não há nada de mais equívoco do que julgar que a moral tem poder para resolver este tipo de problemas que atormentam a vida de grande parte da população mundial. Contrariamente ao que é sugerido pelas entrevistadoras, é falso que os valores morais tenham mais capacidade para evitar crises económicas catastróficas do que a regulação e a supervisão, isto é, a política e o direito.
A moral liga-se à consciência de cada um e, como todos sabemos, a sanção da nossa consciência é um fraco elemento dissuasor de comportamentos eticamente reprováveis e juridicamente criminosos. O que se passa no mundo é que os interesses económicos colonizaram a política, e esta tornou-se, em nome do livre mercado, complacente com regras económicas que conduzem aos desastres financeiros que arrastam milhões de pessoas para a miséria. A economia emancipou-se da moral e submeteu a política e, através dela, o direito. A solução não está num apelo aos valores e à consciência moral dos gestores, mas a uma independência da política em relação à economia, à existência de regras estritas de regulação e supervisão, e de penalidades jurídicas dissuasoras de comportamentos perigosos. Talvez daí, do medo, os gestores ganhem consciência moral. Sem isso, pessoas e países estarão sempre expostas ao arbítrio de quem manda no dinheiro. Não é só a moral que deve influenciar a criação do direito. Também o direito pode e deve fomentar a moralidade.
A moral e o medo - jorge carreira mais
Opinião » 2023-06-03 » Jorge Carreira MaiaNo Público online de 28 de Maio, há uma entrevista interessante a Mohan Mohan, antigo gestor da Procter & Gamble, uma multinacional detentora de inúmeros marcas bem conhecidas dos consumidores portugueses. A entrevista tem um curioso título: Se os gestores fossem movidos por valores, não teríamos a crise que enfrentamos hoje. O título é interessante porque reconhece explicitamente que a actual crise se deve às opções dos que têm poder de decisão económica. Mais à frente faz o mesmo reconhecimento relativamente à crise do subprime de 2008 nos EUA, que desencadeou, a partir de 2011, as crises das dívidas soberanas na Europa do Sul, entre elas a portuguesa. O interesse da entrevista deriva ainda de outra coisa, do reconhecimento de que os gestores, por norma, não são movidos por valores morais.
A dado passo, é perguntado o seguinte: Acredita que os valores dos gestores constituem a parte mais importante para se evitar fenómenos como o de 2008, mais do que a regulação e a supervisão? A resposta pode resumir-se no Absolutamente. É evidente que se todos os gestores se pautassem por valores morais irrepreensíveis, muitos dos males que acontecem à humanidade não aconteceriam. Todavia, não há nada de mais equívoco do que julgar que a moral tem poder para resolver este tipo de problemas que atormentam a vida de grande parte da população mundial. Contrariamente ao que é sugerido pelas entrevistadoras, é falso que os valores morais tenham mais capacidade para evitar crises económicas catastróficas do que a regulação e a supervisão, isto é, a política e o direito.
A moral liga-se à consciência de cada um e, como todos sabemos, a sanção da nossa consciência é um fraco elemento dissuasor de comportamentos eticamente reprováveis e juridicamente criminosos. O que se passa no mundo é que os interesses económicos colonizaram a política, e esta tornou-se, em nome do livre mercado, complacente com regras económicas que conduzem aos desastres financeiros que arrastam milhões de pessoas para a miséria. A economia emancipou-se da moral e submeteu a política e, através dela, o direito. A solução não está num apelo aos valores e à consciência moral dos gestores, mas a uma independência da política em relação à economia, à existência de regras estritas de regulação e supervisão, e de penalidades jurídicas dissuasoras de comportamentos perigosos. Talvez daí, do medo, os gestores ganhem consciência moral. Sem isso, pessoas e países estarão sempre expostas ao arbítrio de quem manda no dinheiro. Não é só a moral que deve influenciar a criação do direito. Também o direito pode e deve fomentar a moralidade.
Activo tóxico » 2024-09-04 » Hélder Dias |
"Este é o meu novo filho" » 2024-08-03 » Hélder Dias |
Candidato de peso... para afundar um partido » 2024-07-23 » Hélder Dias |
O Orelhas... » 2024-07-16 » Hélder Dias |
Lady Gago » 2024-07-09 » Hélder Dias |
Na aldeia de Zibreira passa o rio Almonda - isilda loureiro » 2024-06-23 "O rio da minha aldeia", fazendo lembrar o poema de Fernando Pessoa... Houve tempos em que o local conhecido por Azenha, no termo da aldeia de Zibreira, após descermos uma ladeira ladeada de terrenos agrícolas e hortas, teve um moinho com gente e muita vida. |
Cogitações por causa do 25 de Novembro e dos avanços da extrema-direita - antónio mário santos » 2024-06-23 » António Mário Santos No momento em que do centro direita à direita radical, aproveitando a viragem das últimas eleições legislativas, se organizou uma associação de interesses para diminuir o 25 de Abril, realçando o golpe militar do 25 de Novembro, num crescendo de recuperação selectiva do revanchismo das elites económicas destronadas pela revolução, ultrapassando a concepção social-democrata do próprio PS (Manuel Alegre distingue-o nas suas Memórias Minhas, criticando a viragem para a 3ª via de Blair, continuando a preferir chamar ao seu partido, por inteiro, Partido Socialista), abriu-se um clamoroso protesto nos órgãos de informação nacionais. |
O futebol e o radicalismo de direita - jorge carreira maia » 2024-06-23 » Jorge Carreira Maia
Decorre o Europeu de futebol, hora em que o fervor nacionalista se exalta. O futebol, na sua dimensão industrial, foi colonizado por perspectivas ideológicas que fomentam, na consciência dos adeptos, uma visão do mundo muito específica. |
Toma lá... » 2024-06-19 » Hélder Dias |
Lições da História - acácio gouveia » 2024-06-13 » Acácio Gouveia “A História não se repete, mas rima por vezes”, Mark Twain Vinte e sete meses após o início da guerra na Ucrânia, temos generais e comentadores nos meios de comunicação social portugueses: (I) a justificar a legitimidade da invasão; (II) a profetizar a total e inelutável vitória de Putin; (III) e tentar convencer-nos que este assunto tem pouco ou nada a ver com Portugal e com os demais países europeus. |