A pandemia, o Estado e os portugueses - jorge carreira maia
" Confiar que parte dos cidadãos iria comportar-se racionalmente no Natal, sem que houvesse qualquer proibição e ameaça, foi um acto de grande irresponsabilidade política"
Se se observar o comportamento dos portugueses perante a pandemia, talvez seja possível ter um vislumbre daquilo que somos e de como gostamos de ser governados. Obviamente que não nos comportamos todas da mesma forma e não gostamos todos de ser governados da mesma maneira. No entanto, pode-se argumentar que temos mais inclinação para certas coisas do que para outras. Tanto no primeiro confinamento como no actual, o comportamento dos portugueses tem sido exemplar e os resultados são óptimos na contenção do perigo. Quando, porém, os portugueses ficaram entregues à sua responsabilidade, quando o enfrentamento da pandemia dependeu da autonomia de cada um, os resultados foram catastróficos. Portugal passou de um caso exemplar para a situação de país, proporcionalmente, com mais contágios em todo o mundo.
Quando é que as decisões políticas foram eficazes? Quando foram drásticas e impostas pela força. Isso aconteceu no primeiro confinamento e está a acontecer no actual. Quando é que as decisões políticas foram ineficazes? Quando se entendeu confiar no comportamento razoável dos portugueses, em vez de se exercer uma autoridade muito clara. A catástrofe do mês de Janeiro deveu-se a uma errada interpretação política – a começar no governo e no Presidente da República – do comportamento de parte significativa dos portugueses, o que conduziu a consequências terríveis. Confiar que parte dos cidadãos iria comportar-se racionalmente no Natal, sem que houvesse qualquer proibição e ameaça, foi um acto de grande irresponsabilidade política tanto do governo como do Presidente da República, bem como dos partidos representados na Assembleia.
O que diz isto sobre os portugueses, ou parte significativa deles? Diz que estão muito dependentes da autoridade do Estado. Diz que gostam pouco da autonomia individual, quando esta implica responsabilidade pessoal. Quando a autoridade do Estado se exerce de forma clara e ameaçadora, os portugueses obedecem. Quando o Estado apela a comportamentos racionais dos cidadãos, sem exercer autoridade, parte significativa das pessoas comporta-se de forma perigosa e irracional. Este é um problema estrutural na nossa sociedade, a ausência de um comportamento liberal. Um comportamento liberal significa aqui que os indivíduos agem razoavelmente sem necessitarem da ameaça do Estado. Usam a sua liberdade para se conter e evitar situações perigosas. Enquanto parte dos portugueses dispensar este comportamento liberal, o Estado será um pai – ora benevolente, ora ríspido – que lhe ditará como se deve comportar.
A pandemia, o Estado e os portugueses - jorge carreira maia
Confiar que parte dos cidadãos iria comportar-se racionalmente no Natal, sem que houvesse qualquer proibição e ameaça, foi um acto de grande irresponsabilidade política
Se se observar o comportamento dos portugueses perante a pandemia, talvez seja possível ter um vislumbre daquilo que somos e de como gostamos de ser governados. Obviamente que não nos comportamos todas da mesma forma e não gostamos todos de ser governados da mesma maneira. No entanto, pode-se argumentar que temos mais inclinação para certas coisas do que para outras. Tanto no primeiro confinamento como no actual, o comportamento dos portugueses tem sido exemplar e os resultados são óptimos na contenção do perigo. Quando, porém, os portugueses ficaram entregues à sua responsabilidade, quando o enfrentamento da pandemia dependeu da autonomia de cada um, os resultados foram catastróficos. Portugal passou de um caso exemplar para a situação de país, proporcionalmente, com mais contágios em todo o mundo.
Quando é que as decisões políticas foram eficazes? Quando foram drásticas e impostas pela força. Isso aconteceu no primeiro confinamento e está a acontecer no actual. Quando é que as decisões políticas foram ineficazes? Quando se entendeu confiar no comportamento razoável dos portugueses, em vez de se exercer uma autoridade muito clara. A catástrofe do mês de Janeiro deveu-se a uma errada interpretação política – a começar no governo e no Presidente da República – do comportamento de parte significativa dos portugueses, o que conduziu a consequências terríveis. Confiar que parte dos cidadãos iria comportar-se racionalmente no Natal, sem que houvesse qualquer proibição e ameaça, foi um acto de grande irresponsabilidade política tanto do governo como do Presidente da República, bem como dos partidos representados na Assembleia.
O que diz isto sobre os portugueses, ou parte significativa deles? Diz que estão muito dependentes da autoridade do Estado. Diz que gostam pouco da autonomia individual, quando esta implica responsabilidade pessoal. Quando a autoridade do Estado se exerce de forma clara e ameaçadora, os portugueses obedecem. Quando o Estado apela a comportamentos racionais dos cidadãos, sem exercer autoridade, parte significativa das pessoas comporta-se de forma perigosa e irracional. Este é um problema estrutural na nossa sociedade, a ausência de um comportamento liberal. Um comportamento liberal significa aqui que os indivíduos agem razoavelmente sem necessitarem da ameaça do Estado. Usam a sua liberdade para se conter e evitar situações perigosas. Enquanto parte dos portugueses dispensar este comportamento liberal, o Estado será um pai – ora benevolente, ora ríspido – que lhe ditará como se deve comportar.
![]() Dizia-se do último czar da Rússia, Nicolau II, que a sua opinião era a opinião da última pessoa com quem tinha falado. Cem anos depois, Nicolau II reencarnou em alguma daquela rapaziada que tomou conta dos principais partidos da nossa democracia. |
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![]() O herói nacional, melhor jogador de futebol do mundo de sempre, segundo dizem, foi protagonista numa daquelas histórias que são matéria-prima para solidificar lendas. Nessa história, sublinhando as origens humildes, o estratosférico conquista mais um laço com o Zé comum. |
![]() Apesar da limitação de vacinas nesta fase, o país tem vindo a ser confrontado com variados episódios de vacinação fora do que está priorizado. Há sempre alguém que se julga acima das normas ou que faz as suas próprias normas e ultrapassa assim os que estão na fila, ou então por via de terceiros chegam primeiro à seringa. |
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PSD: a morte há muito anunciada - inês vidal |
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