Pornografia na sala de aula
Opinião » 2023-03-26 » Jorge Carreira Maia"Um encarregado de educação, nos EUA, queixou-se de que os alunos foram expostos a pornografia, numa aula sobre arte do Renascimento."
Um encarregado de educação queixou-se da nudez a que os alunos, de 11 e 12 anos, de uma escola pública da Florida (EUA), tinham sido sujeitos, numa aula sobre a arte do Renascimento. Foram expostos a pornografia, argumentou (ver aqui). Tratava-se de reproduções da estátua de David e da pintura A Criação de Adão, ambas de Miguel Ângelo, bem como de O Nascimento de Vénus, de Sandro Botticelli. A definição de pornografia é disputada, mas a proposta por Caroline West, na entrada “Pornography and Censorship”, da Stanford Encyclopaedia of Philosophy, é uma definição aceitável: Pornografia é material sexualmente explícito (verbal ou pictórico) que é principalmente concebido para produzir excitação sexual nos espectadores. A alegação do encarregado de educação é manifestamente falsa, pois as obras em questão estão longe de preencherem os critérios da definição de pornografia.
Podemos pensar que se tratou de um caso de excesso doentio de puritanismo, um episódio sem relevo. Seria cair no erro. A directora da escola pública foi obrigada a apresentar a demissão. O incidente é revelador de um profundo conflito, de natureza política, que está a atravessar as sociedades ocidentais, embora, de momento, seja mais explícito nos EUA ou no Brasil. O que está em jogo é a relação muito tensa entre uma parte da sociedade que adopta valores liberais, não apenas na economia, mas no modo de vida, onde a liberdade individual é o bem supremo a respeitar, e outra parte dessa mesma sociedade que tem uma perspectiva comunitarista conservadora, que se sente perdida num mundo onde os valores liberais predominam, nomeadamente, os que se relacionam com a sexualidade. Para se perceber esta posição vale a pena ler um livro de Rod Dreher, The Benedict Option. A Strategy for Christians in a Post-Christian Nation.
Este tipo de conservadorismo comunitarista é um dos elementos estruturais daquilo a que os cientistas políticos Roger Eatwell e Matthew Goodwin denominam como nacional-populismo e que está por detrás de políticos como Donald Trump, e parte substancial dos Republicanos, de Jair Bolsonaro e de inúmeros movimentos e partidos políticos na Europa, entre eles o Chega. A radicalização política a que se assiste não se funda em problemas da distribuição de rendimentos, embora estes façam parte da equação, mas num conflito cultural sobre o modo como se deve organizar a sociedade, de que o episódio da interpretação da arte renascentista como pornografia é um reflexo. A questão que se coloca é a de saber até que ponto as comunidades políticas e a liberdade individual como bem último são compatíveis.
Pornografia na sala de aula
Opinião » 2023-03-26 » Jorge Carreira MaiaUm encarregado de educação, nos EUA, queixou-se de que os alunos foram expostos a pornografia, numa aula sobre arte do Renascimento.
Um encarregado de educação queixou-se da nudez a que os alunos, de 11 e 12 anos, de uma escola pública da Florida (EUA), tinham sido sujeitos, numa aula sobre a arte do Renascimento. Foram expostos a pornografia, argumentou (ver aqui). Tratava-se de reproduções da estátua de David e da pintura A Criação de Adão, ambas de Miguel Ângelo, bem como de O Nascimento de Vénus, de Sandro Botticelli. A definição de pornografia é disputada, mas a proposta por Caroline West, na entrada “Pornography and Censorship”, da Stanford Encyclopaedia of Philosophy, é uma definição aceitável: Pornografia é material sexualmente explícito (verbal ou pictórico) que é principalmente concebido para produzir excitação sexual nos espectadores. A alegação do encarregado de educação é manifestamente falsa, pois as obras em questão estão longe de preencherem os critérios da definição de pornografia.
Podemos pensar que se tratou de um caso de excesso doentio de puritanismo, um episódio sem relevo. Seria cair no erro. A directora da escola pública foi obrigada a apresentar a demissão. O incidente é revelador de um profundo conflito, de natureza política, que está a atravessar as sociedades ocidentais, embora, de momento, seja mais explícito nos EUA ou no Brasil. O que está em jogo é a relação muito tensa entre uma parte da sociedade que adopta valores liberais, não apenas na economia, mas no modo de vida, onde a liberdade individual é o bem supremo a respeitar, e outra parte dessa mesma sociedade que tem uma perspectiva comunitarista conservadora, que se sente perdida num mundo onde os valores liberais predominam, nomeadamente, os que se relacionam com a sexualidade. Para se perceber esta posição vale a pena ler um livro de Rod Dreher, The Benedict Option. A Strategy for Christians in a Post-Christian Nation.
Este tipo de conservadorismo comunitarista é um dos elementos estruturais daquilo a que os cientistas políticos Roger Eatwell e Matthew Goodwin denominam como nacional-populismo e que está por detrás de políticos como Donald Trump, e parte substancial dos Republicanos, de Jair Bolsonaro e de inúmeros movimentos e partidos políticos na Europa, entre eles o Chega. A radicalização política a que se assiste não se funda em problemas da distribuição de rendimentos, embora estes façam parte da equação, mas num conflito cultural sobre o modo como se deve organizar a sociedade, de que o episódio da interpretação da arte renascentista como pornografia é um reflexo. A questão que se coloca é a de saber até que ponto as comunidades políticas e a liberdade individual como bem último são compatíveis.
Caminho de Abril - maria augusta torcato » 2024-04-22 » Maria Augusta Torcato Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável. |
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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» 2024-04-22
» Maria Augusta Torcato
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» 2024-04-10
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