Menos que as acções do BES
Opinião » 2014-10-24 » Jorge Carreira Maia
Agamémnon é o chefe dos reis gregos que destruíram Tróia. A sua vitória esteve, porém, ligada ao sacrifício de Ifigénia, sua filha, cuja imolação foi por ele autorizada para convencer os deuses a deixarem rumar a armada grega para Tróia. Vitorioso, voltou para a pátria onde o esperava não os louros da vitória mas a morte às mãos da mulher, Clitmnestra. Em resumo, a vitória política assenta no sacrifício instrumental de um inocente e torna-se o caminho mais rápido para a derrota. Com este modelo podemos interpretar o destino político de homens como Guterres, Barroso, Sócrates.
Concentremo-nos, contudo, em Passos Coelho. Ainda há uns escassos três anos, o actual primeiro-ministro era alguém exuberante, cheio de ideias sobre o destino da pátria e a reforma dos costumes que iria trazer à sociedade portuguesa. Não foi uma Ifigénia que foi sacrificada aos novos deuses, os deuses do mercado, foram centenas de milhar ou milhões que Passos Coelho decidiu oferecer em holocausto. Sem compaixão, movido pelo desígnio de purificar a sociedade portuguesa de gente que não se adapta ao mundo novo, o actual primeiro-ministro perseguiu, empobreceu e destruiu tudo o que tinha à mão. Eis a sua vitória, a desarticulação da Saúde, da Educação, da Segurança Social, da Ciência. Destruição, destruição, destruição.
Olhemos hoje para o homem, para aquele super-herói do combate pela sociedade liberal. Onde está? Desapareceu. Onde havia a alegre vanglória do castigador, agora há uma melancolia infinita. Parece que vive assombrado pelo clamor das vítimas que ofereceu em hecatombe. Não dá um passo sem que não tenha suores frios, não vá surgir alguma Clitmnestra. Na verdade, toda a melancolia e todo o temor do primeiro-ministro são inúteis. A sombra da sua derrota já caminha para ele e ele, outrora tão soberbo e ufano, sente a armadilha que a pátria lhe prepara. Todos as suas utopias do livre mercado, toda a construção do homem novo racional e liberal, em nome das quais semeou pobreza e desalento, valem agora menos que as acções do BES. Um destino de Agamémnon.
www.kyrieeleison-jcm.blogspot.com
Menos que as acções do BES
Opinião » 2014-10-24 » Jorge Carreira MaiaAgamémnon é o chefe dos reis gregos que destruíram Tróia. A sua vitória esteve, porém, ligada ao sacrifício de Ifigénia, sua filha, cuja imolação foi por ele autorizada para convencer os deuses a deixarem rumar a armada grega para Tróia. Vitorioso, voltou para a pátria onde o esperava não os louros da vitória mas a morte às mãos da mulher, Clitmnestra. Em resumo, a vitória política assenta no sacrifício instrumental de um inocente e torna-se o caminho mais rápido para a derrota. Com este modelo podemos interpretar o destino político de homens como Guterres, Barroso, Sócrates.
Concentremo-nos, contudo, em Passos Coelho. Ainda há uns escassos três anos, o actual primeiro-ministro era alguém exuberante, cheio de ideias sobre o destino da pátria e a reforma dos costumes que iria trazer à sociedade portuguesa. Não foi uma Ifigénia que foi sacrificada aos novos deuses, os deuses do mercado, foram centenas de milhar ou milhões que Passos Coelho decidiu oferecer em holocausto. Sem compaixão, movido pelo desígnio de purificar a sociedade portuguesa de gente que não se adapta ao mundo novo, o actual primeiro-ministro perseguiu, empobreceu e destruiu tudo o que tinha à mão. Eis a sua vitória, a desarticulação da Saúde, da Educação, da Segurança Social, da Ciência. Destruição, destruição, destruição.
Olhemos hoje para o homem, para aquele super-herói do combate pela sociedade liberal. Onde está? Desapareceu. Onde havia a alegre vanglória do castigador, agora há uma melancolia infinita. Parece que vive assombrado pelo clamor das vítimas que ofereceu em hecatombe. Não dá um passo sem que não tenha suores frios, não vá surgir alguma Clitmnestra. Na verdade, toda a melancolia e todo o temor do primeiro-ministro são inúteis. A sombra da sua derrota já caminha para ele e ele, outrora tão soberbo e ufano, sente a armadilha que a pátria lhe prepara. Todos as suas utopias do livre mercado, toda a construção do homem novo racional e liberal, em nome das quais semeou pobreza e desalento, valem agora menos que as acções do BES. Um destino de Agamémnon.
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O miúdo vai à frente » 2024-04-25 » Hélder Dias |
Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia » 2024-04-24 » Jorge Carreira Maia A publicação do livro Identidade e Família – Entre a Consistência da Tradição e os Desafios da Modernidade, apresentado por Passos Coelho, gerou uma inusitada efervescência, o que foi uma vitória para os organizadores desta obra colectiva. |
Caminho de Abril - maria augusta torcato » 2024-04-22 » Maria Augusta Torcato Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável. |
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
» 2024-04-22
» Maria Augusta Torcato
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