O terrível peso do passado
Opinião » 2015-09-11 » Jorge Carreira Maia"O grande problema de Portugal talvez não seja político nem financeiro. Talvez seja económico e prende-se com a desadequação de grande parte das empresas (empresários e trabalhadores) às exigências de um mercado global..."
A actual pré-campanha eleitoral parece um estranho episódio neo-realista. Talvez isto não seja uma especificidade portuguesa. Talvez todas as campanhas eleitorais tenham uma natureza neo-realista devido à clivagem entre direita e esquerda. Este cenário neo-realista é o retrato impiedoso de um país atado de pés e mãos pela sua própria economia e pela impotência do Estado em mobilizar a comunidade para alterar a situação.
O grande problema de Portugal talvez não seja político nem financeiro. Talvez seja económico e prende-se com a desadequação de grande parte das empresas (empresários e trabalhadores) às exigências de um mercado global e à necessidade constante, para poder sobreviver num clima muito competitivo, de se reinventar continuamente produtos, técnicas e organizações. O drama de muitas empresas é que são dirigidas por pessoas mais adequadas ao século XIX do que ao XXI. A tragédia de muitos desempregados é a sua desadequação tecnológica. O peso do passado é terrível.
Houve dois governantes que perceberam o cerne do problema. Guterres e Sócrates. Perceberam que o triângulo Educação – Tecnologia – Ciência era o motor da reversão da situação. Deste triângulo, devido à inteligência e à persistência de Mariano Gago, Portugal deu passos decisivos, agora em vias de destruição, nas áreas da ciência e da tecnologia. A grande falência – para além da dificuldade de fazer penetrar o conhecimento e a inovação tecnológica no tecido empresarial – foi a educação. Desde a visão romântica de Guterres aos devaneios tecnológicos de Sócrates falhou-se o essencial: a construção de uma escola pública de grande qualidade e adequada às exigências do mundo de hoje. Também a escola portuguesa continua mais perto do século XIX do que do XXI. Também aqui o peso do passado é terrível.
A educação e a formação são as chaves para abrir alguma possibilidade de futuro para o país. Elas só funcionam, contudo, se o investimento público na área for pensado tendo em conta o país que existe (e não o que se inventa) e se for acompanhado por uma exigência rigorosa na vida escolar e na formação. O problema é que o peso do passado impede de olhar a situação. A direita a única coisa que pensa é destruir o ensino público, fiel a um antigo sonho de entregar as escolas a supostos empresários da educação. Os socialistas, presos à sombra das paixões de Guterres e dos devaneios de Sócrates, pouco mais têm a dizer sobre a matéria. Os outros, seja o que for que digam, não contam. Em vez de pensarmos rigorosamente o futuro, continuaremos presos ao neo-realismo que alimenta direita e esquerda. Terrível o peso do passado.
O terrível peso do passado
Opinião » 2015-09-11 » Jorge Carreira MaiaO grande problema de Portugal talvez não seja político nem financeiro. Talvez seja económico e prende-se com a desadequação de grande parte das empresas (empresários e trabalhadores) às exigências de um mercado global...
A actual pré-campanha eleitoral parece um estranho episódio neo-realista. Talvez isto não seja uma especificidade portuguesa. Talvez todas as campanhas eleitorais tenham uma natureza neo-realista devido à clivagem entre direita e esquerda. Este cenário neo-realista é o retrato impiedoso de um país atado de pés e mãos pela sua própria economia e pela impotência do Estado em mobilizar a comunidade para alterar a situação.
O grande problema de Portugal talvez não seja político nem financeiro. Talvez seja económico e prende-se com a desadequação de grande parte das empresas (empresários e trabalhadores) às exigências de um mercado global e à necessidade constante, para poder sobreviver num clima muito competitivo, de se reinventar continuamente produtos, técnicas e organizações. O drama de muitas empresas é que são dirigidas por pessoas mais adequadas ao século XIX do que ao XXI. A tragédia de muitos desempregados é a sua desadequação tecnológica. O peso do passado é terrível.
Houve dois governantes que perceberam o cerne do problema. Guterres e Sócrates. Perceberam que o triângulo Educação – Tecnologia – Ciência era o motor da reversão da situação. Deste triângulo, devido à inteligência e à persistência de Mariano Gago, Portugal deu passos decisivos, agora em vias de destruição, nas áreas da ciência e da tecnologia. A grande falência – para além da dificuldade de fazer penetrar o conhecimento e a inovação tecnológica no tecido empresarial – foi a educação. Desde a visão romântica de Guterres aos devaneios tecnológicos de Sócrates falhou-se o essencial: a construção de uma escola pública de grande qualidade e adequada às exigências do mundo de hoje. Também a escola portuguesa continua mais perto do século XIX do que do XXI. Também aqui o peso do passado é terrível.
A educação e a formação são as chaves para abrir alguma possibilidade de futuro para o país. Elas só funcionam, contudo, se o investimento público na área for pensado tendo em conta o país que existe (e não o que se inventa) e se for acompanhado por uma exigência rigorosa na vida escolar e na formação. O problema é que o peso do passado impede de olhar a situação. A direita a única coisa que pensa é destruir o ensino público, fiel a um antigo sonho de entregar as escolas a supostos empresários da educação. Os socialistas, presos à sombra das paixões de Guterres e dos devaneios de Sócrates, pouco mais têm a dizer sobre a matéria. Os outros, seja o que for que digam, não contam. Em vez de pensarmos rigorosamente o futuro, continuaremos presos ao neo-realismo que alimenta direita e esquerda. Terrível o peso do passado.
Caminho de Abril - maria augusta torcato » 2024-04-22 » Maria Augusta Torcato Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável. |
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
|
» 2024-04-22
» Maria Augusta Torcato
Caminho de Abril - maria augusta torcato |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |