2020, um ano para esquecer? - jorge carreira maia
"Se tudo correr bem com a vacina e com a democracia americana, talvez o ano de 2020 seja um ano não para esquecer, mas para lembrar. "
O ano de 2020 não foi fácil. A pandemia desestruturou os nossos hábitos e começou a desfazer a relação tradicional que tínhamos com a vida. Introduziu a incerteza nas decisões, o medo nos comportamentos, o afastamento entre pessoas. Deu lugar a que pululassem na esfera pública as mais descabeladas e perigosas ideias sobre teorias conspirativas e promoveu a menorização dos perigos que a pandemia representa, inclusive com o beneplácito e a participação de quem mais se lhe deveria opor. À doença foi-lhe acrescentada uma dose enorme de irracionalidade.
Um segundo acontecimento extraordinário veio dos EUA. Assistiu-se em directo a uma tentativa de subversão da democracia americana. Uma subversão fortemente apoiada pela massa e que tem tentado tudo para evitar que o vencedor das eleições assuma o cargo. Quando isto se passa numa república das bananas, ninguém estranha. Quando os EUA estão à beira de se transformarem, à vista de todos, em república das bananas, alguma coisa perigosa anda no ar. A irracionalidade que se encontra em muita gente relativamente à pandemia é gémea daquela que apoia a tentativa de subversão dos resultados eleitorais nos EUA.
O ano de 2020 foi, deste modo, um ano em que as forças mais obscuras e perigosas que habitam o rebanho humano encontraram campo propício para lançarem o caos e ameaçarem a vida civilizada. São forças terríveis e têm ao seu serviço instrumentos poderosos, entre eles a comunicação instantânea trazida pelas redes sociais. Aos mais distraídos, convém lembrar que essas forças, no século XX, desencadearam duas guerras mundiais. No entanto, talvez devamos dar alguma atenção à palavra de S. Paulo quando diz ‘onde o pecado abundou, superabundou a graça’. Onde a irracionalidade cresceu, também a razão se excedeu.
A resposta da racionalidade científica à pandemia é um acontecimento digno de realce. É notável como em poucos meses se acumulou uma quantidade de conhecimento enorme sobre a doença e como se chegou a um conjunto de vacinas que permitirão lutar com mais esperança contra a ameaça. Também está a ser, até à hora em que escrevo, notável a resposta das instituições democráticas americanas à ameaça que sobre elas impende. Tanto o sistema eleitoral dos estados federados como os tribunais têm conseguido fazer prevalecer a razão democrática sobre a irracionalidade autoritária. Se tudo correr bem com a vacina e com a democracia americana, talvez o ano de 2020 seja um ano não para esquecer, mas para lembrar. O ano em que a razão científica e a razão democrática venceram as forças obscuras da irracionalidade.
2020, um ano para esquecer? - jorge carreira maia
Se tudo correr bem com a vacina e com a democracia americana, talvez o ano de 2020 seja um ano não para esquecer, mas para lembrar.
O ano de 2020 não foi fácil. A pandemia desestruturou os nossos hábitos e começou a desfazer a relação tradicional que tínhamos com a vida. Introduziu a incerteza nas decisões, o medo nos comportamentos, o afastamento entre pessoas. Deu lugar a que pululassem na esfera pública as mais descabeladas e perigosas ideias sobre teorias conspirativas e promoveu a menorização dos perigos que a pandemia representa, inclusive com o beneplácito e a participação de quem mais se lhe deveria opor. À doença foi-lhe acrescentada uma dose enorme de irracionalidade.
Um segundo acontecimento extraordinário veio dos EUA. Assistiu-se em directo a uma tentativa de subversão da democracia americana. Uma subversão fortemente apoiada pela massa e que tem tentado tudo para evitar que o vencedor das eleições assuma o cargo. Quando isto se passa numa república das bananas, ninguém estranha. Quando os EUA estão à beira de se transformarem, à vista de todos, em república das bananas, alguma coisa perigosa anda no ar. A irracionalidade que se encontra em muita gente relativamente à pandemia é gémea daquela que apoia a tentativa de subversão dos resultados eleitorais nos EUA.
O ano de 2020 foi, deste modo, um ano em que as forças mais obscuras e perigosas que habitam o rebanho humano encontraram campo propício para lançarem o caos e ameaçarem a vida civilizada. São forças terríveis e têm ao seu serviço instrumentos poderosos, entre eles a comunicação instantânea trazida pelas redes sociais. Aos mais distraídos, convém lembrar que essas forças, no século XX, desencadearam duas guerras mundiais. No entanto, talvez devamos dar alguma atenção à palavra de S. Paulo quando diz ‘onde o pecado abundou, superabundou a graça’. Onde a irracionalidade cresceu, também a razão se excedeu.
A resposta da racionalidade científica à pandemia é um acontecimento digno de realce. É notável como em poucos meses se acumulou uma quantidade de conhecimento enorme sobre a doença e como se chegou a um conjunto de vacinas que permitirão lutar com mais esperança contra a ameaça. Também está a ser, até à hora em que escrevo, notável a resposta das instituições democráticas americanas à ameaça que sobre elas impende. Tanto o sistema eleitoral dos estados federados como os tribunais têm conseguido fazer prevalecer a razão democrática sobre a irracionalidade autoritária. Se tudo correr bem com a vacina e com a democracia americana, talvez o ano de 2020 seja um ano não para esquecer, mas para lembrar. O ano em que a razão científica e a razão democrática venceram as forças obscuras da irracionalidade.
![]() 1. Santo António era, na verdade, uma pequena aldeia, um alinhamento de casas que se foi somando ao longo da medieval “estrada de Alcorochel”, bem na periferia da vila. No final do século XX, a gente mais velha ainda dizia que ia à vila, que começava a meio da ladeira de Santiago. |
![]() Fartei-me de andar à boleia quando era novo. Havia a teoria de que duas pessoas seriam o ideal para nos fazermos à estrada, que só uma era aborrecido e três já seria gente a mais para fazer parar um carro. Em A Arte da Viagem-Uma Poética da Geografia, o filósofo francês Michel Onfray diz o mesmo para o acto de viajar em geral, com o qual concordo em parte, pois há situações em que viajar sozinho tem as suas vantagens (o sentido de observação é dez vezes maior), embora outras em que a ausência tem o peso de uma desoladora presença. |
![]() A cidade apresenta-se engalanada. Assinala-se a feira da época, uma vez mais integrada na época da Idade Moderna Portuguesa (séc. XVI), ainda no reinado de D. João III. Talvez por influência da igualdade do género, e quando da comemoração do 130. |
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Gostamos de ver as coisas a acontecer. Gostamos de cidades dinâmicas, hipóteses e oportunidades. Gostamos do poder de escolha e de ter a possibilidade de optar, seja pelo sim ou pelo não, por fazer ou ficar a ver. |
![]() No Público online de 28 de Maio, há uma entrevista interessante a Mohan Mohan, antigo gestor da Procter & Gamble, uma multinacional detentora de inúmeros marcas bem conhecidas dos consumidores portugueses. A entrevista tem um curioso título: Se os gestores fossem movidos por valores, não teríamos a crise que enfrentamos hoje. |
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![]() Vertendo a prosápia para politicamente correcto, e como assegura dito antigo, mais depressa se apanha uma pessoa dada a fantasias e à deturpação da realidade do que um cidadão com deficiência ao nível da locomoção. |
![]() Há Palladio para além de Vicenza, mas pensar em Vicenza é pensar em Palladio, Andrea Palladio, o grande arquitecto do Renascimento Italiano. Daí não aceitar o sacrilégio de ir de comboio de Pádua a Verona sem pôr os pés, mas sobretudo os olhos, em Vicenza. |
![]() Acredito que o calor súbito destrambelhe o mais avisado. As mudanças bruscas de temperatura acompanhadas de ventos em assobiadelas enlouquecidas, desatinam os mais precautos, já de si com os nervos a desmalharam a teia da lucidez, após anos de grande aperto, como os da pandemia covídica. |
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