A bicicleta - rui anastácio
Opinião » 2020-10-09 » Rui Anastácio"Chegou a hora de os homens de hoje respeitarem o trabalho dos homens de ontem."
No meu concelho há uma terra onde tenho alguns bons amigos. Essa terra chama-se Vila Moreira. Foi lá que encontrei o meu primeiro trabalho. Tinha então 15 anos e uma bicicleta amarela que me levava a quase todos os sítios onde queria ir.
Naquela manhã de Junho, tinha decidido que iria comprar a máquina fotográfica que tinha visto no Sr. Fernando da papelaria, custava 60 contos, uma pequena fortuna para mim. Pelo menos 3 meses de trabalho, 10 horas por dia, 6 dias por semana. A decisão estava tomada, nada me iria deter. As sirenes das fábricas acabavam de tocar e eu já lá estava. Eu e a minha bicicleta. O reboliço das entradas nas fábricas tinha terminado. Avistei ao longe um senhor já com alguma idade, vinha numa pasteleira preta. Certamente ele saberia onde eu poderia encontrar trabalho.
Quando nos cruzámos, trocámos olhares e eu ganhei coragem. O senhor sabe onde poderei arranjar trabalho? O menino vá ali àquela fábrica do lado esquerdo que eles têm trabalho. E tinham. Descobri, mais tarde, que o senhor era o dono da fábrica e que curiosamente andava de bicicleta como eu. Nessa altura, levava-se 10 minutos a arranjar trabalho em Vila Moreira.
Hoje, quando passo em Vila Moreira, fico com um sabor amargo na boca. A “Vila” morreu e já quase ninguém olha por ela, longe vão os dourados anos 80. Mergulhada numa profunda crise social, só as inúmeras fabricas semi-abandonadas nos fazem lembrar a dinâmica económica de outros tempos.
As crises sempre foram e sempre serão um enorme desafio. É necessária uma total reinvenção do território, preservando as memórias e avançando em direcção ao futuro.
Vila Moreira necessita de um profundo plano de revitalização sócio económica, necessita de uma visão arrojada, afinal a “Vila” está a 10 minutos da A1.
Claro que toda aquela zona industrial, caótica, terá de ser total ou parcialmente demolida. Claro que, quer o território quer as pessoas, terão de se reinventar. Sangue, muito sangue novo, terá que ser injectado nestes territórios. Outrora muito foi construído com sangue, suor e lágrimas.
Chegou a hora de respeitar o trabalho de tantos. Chegou a hora de os homens de hoje respeitarem o trabalho dos homens de ontem.
A bicicleta - rui anastácio
Opinião » 2020-10-09 » Rui AnastácioChegou a hora de os homens de hoje respeitarem o trabalho dos homens de ontem.
No meu concelho há uma terra onde tenho alguns bons amigos. Essa terra chama-se Vila Moreira. Foi lá que encontrei o meu primeiro trabalho. Tinha então 15 anos e uma bicicleta amarela que me levava a quase todos os sítios onde queria ir.
Naquela manhã de Junho, tinha decidido que iria comprar a máquina fotográfica que tinha visto no Sr. Fernando da papelaria, custava 60 contos, uma pequena fortuna para mim. Pelo menos 3 meses de trabalho, 10 horas por dia, 6 dias por semana. A decisão estava tomada, nada me iria deter. As sirenes das fábricas acabavam de tocar e eu já lá estava. Eu e a minha bicicleta. O reboliço das entradas nas fábricas tinha terminado. Avistei ao longe um senhor já com alguma idade, vinha numa pasteleira preta. Certamente ele saberia onde eu poderia encontrar trabalho.
Quando nos cruzámos, trocámos olhares e eu ganhei coragem. O senhor sabe onde poderei arranjar trabalho? O menino vá ali àquela fábrica do lado esquerdo que eles têm trabalho. E tinham. Descobri, mais tarde, que o senhor era o dono da fábrica e que curiosamente andava de bicicleta como eu. Nessa altura, levava-se 10 minutos a arranjar trabalho em Vila Moreira.
Hoje, quando passo em Vila Moreira, fico com um sabor amargo na boca. A “Vila” morreu e já quase ninguém olha por ela, longe vão os dourados anos 80. Mergulhada numa profunda crise social, só as inúmeras fabricas semi-abandonadas nos fazem lembrar a dinâmica económica de outros tempos.
As crises sempre foram e sempre serão um enorme desafio. É necessária uma total reinvenção do território, preservando as memórias e avançando em direcção ao futuro.
Vila Moreira necessita de um profundo plano de revitalização sócio económica, necessita de uma visão arrojada, afinal a “Vila” está a 10 minutos da A1.
Claro que toda aquela zona industrial, caótica, terá de ser total ou parcialmente demolida. Claro que, quer o território quer as pessoas, terão de se reinventar. Sangue, muito sangue novo, terá que ser injectado nestes territórios. Outrora muito foi construído com sangue, suor e lágrimas.
Chegou a hora de respeitar o trabalho de tantos. Chegou a hora de os homens de hoje respeitarem o trabalho dos homens de ontem.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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