Por onde ir? - acácio gouveia
"A menos que o capitalismo se renove de forma radical, não é seguramente regime que auspicie futuro risonho para a Humanidade."
É gratificante apercebermo-nos de que há jovens que canalizam a sua irrequietude para o pensamento crítico e para opinar sobre política. O texto da jovem Mariana Varela é um bom ponto de partida para discussão sobre perspectivas de alternativas ao caminho actual do mundo.
Concordando ou não com todos os aspectos da análise exposta, o facto é que o actual estado de coisas não augura futuro esperançoso para os jovens. “Que fazer?”, questão que Lenine colocava em 1902, mantém-se actual. Só que as soluções propostas nessa icónica publicação, demonstrou-o a História, falharam. Pode dizer-se que na União Soviética, nascida da Revolução de Outubro, se construiu a única verdadeira alternativa ao capitalismo. O êxito inicial espantou os próprios dirigentes bolcheviques quando comemoraram o primeiro ano da Revolução. Na década de vinte, a URSS conseguiu sobreviver às tremendas dificuldades colocadas pelas rebeliões reaccionárias apoiadas pelas grandes potências. Sobreviveu à invasão nazi durante a II Grande Guerra e reconstruiu-se sem as injeções de capital do Plano Marshall. Alargou consideravelmente a sua esfera de influência e tornou-se superpotência. Iniciou e liderou durante uma década a exploração do espaço. Contudo, não chegou celebrar três quartos de século de existência. Em 1991 implodia, arrastando todos os regimes socialistas europeus e não só.
Hoje em dia, a despeito da nomenclatura de partidos como o PC Chinês, só se podem considerar verdadeiramente socialistas dois regimes: o da Coreia do Norte e o de Cuba. Quanto ao primeiro, não vale a pena, creio, tecer quaisquer considerações. Já em Cuba pode constatar-se um discreto e progressivo abandono do socialismo.
Porém, o capitalismo, a despeito de todo o cortejo de crises, tem-se mantido ao longo de séculos. Urge meditar nesta incontornável verdade e parece-me que a conclusão não poderá ser outra senão que a alternativa socialista (no sentido marxista-leninista e não na actual conotação de ideologia de centro esquerda) é inválida. Uma formidável superpotência, como a URSS, não cai sem que haja causas internas. Muitos dos atributos negativos que Mariana, não sem razão, aponta ao capitalismo, encontravam-se presentes nos regimes socialistas. As pessoas não eram felizes. Posso afiançar eu, que viajei pela Hungria, Roménia e Jugoslávia em 1980 e tive oportunidade de conviver também com jovens polacos e da RDA (Alemanha de Leste). As diversas formas de alienação do trabalhador pela máquina produtiva, sabiamente dissecadas por Karl Marx, estavam também presentes nos regimes. Eram mesmo mais gravosas que nos regimes capitalistas democráticos. No que toca a política ambiental, pior do que desinteresse pelo meio-ambiente, acalentavam uma posição de hostilidade para com a natureza. A secagem do mar Aral, iniciada durante o período soviético, era vista como a correcção dum “erro da natureza”. O regime maoista foi campeão na desflorestação e tentativa de extinção de aves.
Mas, permita-se-me um regresso ao capitalismo e meditar nas razões do seu “sucesso”, ou, melhor dizendo, da sua sobrevivência. Uma desvantagem fatal dos sistemas nascidos da Revolução de Outubro foi a rigidez ideológica que travou o espírito crítico e liberdade de pensamento, fonte de inovação adaptativa. Já o capitalismo, mais preocupado com os resultados práticos do que com pureza ideológica, tem demonstrado uma capacidade de adaptação pragmática ao ponto de não rejeitar enxertos, se assim se pode dizer, “marxistas”, para se reformar. Nesta adaptabilidade do capitalismo estará a explicação para a sua resiliência face a crises de proporções bíblicas, como a Grande Depressão, iniciada em 1929. Aliás, é difícil negar que não há capitalismo, mas capitalismos. Muito diferentes são a versão chinesa - capitalismo puro e duro - e as variantes social-democratas típicas dos países nórdicos.
Mas, goste-se ou não, o facto é que o capitalismo, nos últimos decénios, permitiu que centenas de seres humanos ultrapassassem o limiar da pobreza, da China e sul da Ásia até à América Latina. Porém, a situação é mais complexa e o futuro perspectiva-se nada promissor. Se, no pós-guerra, as classes operárias e trabalhadores de um modo geral viram a sua situação económica melhorar substancialmente, registando-se um movimento de ascensão social nos EUA e Europa, já desde os anos 70 se vem notando uma degradação do nível de vida da classe média, acompanhada de aumento da riqueza dos muito ricos, aumentando assim o fosso entre as classes sociais. Quer isto dizer que o velho Karl Marx talvez não esteja tão errado assim, ao prever que o capitalismo empurraria crescentes camadas da população para a proletarização.
A menos que o capitalismo se renove de forma radical, não é seguramente regime que auspicie futuro risonho para a Humanidade. O problema continua a ser: onde está a alternativa?
Por onde ir? - acácio gouveia
A menos que o capitalismo se renove de forma radical, não é seguramente regime que auspicie futuro risonho para a Humanidade.
É gratificante apercebermo-nos de que há jovens que canalizam a sua irrequietude para o pensamento crítico e para opinar sobre política. O texto da jovem Mariana Varela é um bom ponto de partida para discussão sobre perspectivas de alternativas ao caminho actual do mundo.
Concordando ou não com todos os aspectos da análise exposta, o facto é que o actual estado de coisas não augura futuro esperançoso para os jovens. “Que fazer?”, questão que Lenine colocava em 1902, mantém-se actual. Só que as soluções propostas nessa icónica publicação, demonstrou-o a História, falharam. Pode dizer-se que na União Soviética, nascida da Revolução de Outubro, se construiu a única verdadeira alternativa ao capitalismo. O êxito inicial espantou os próprios dirigentes bolcheviques quando comemoraram o primeiro ano da Revolução. Na década de vinte, a URSS conseguiu sobreviver às tremendas dificuldades colocadas pelas rebeliões reaccionárias apoiadas pelas grandes potências. Sobreviveu à invasão nazi durante a II Grande Guerra e reconstruiu-se sem as injeções de capital do Plano Marshall. Alargou consideravelmente a sua esfera de influência e tornou-se superpotência. Iniciou e liderou durante uma década a exploração do espaço. Contudo, não chegou celebrar três quartos de século de existência. Em 1991 implodia, arrastando todos os regimes socialistas europeus e não só.
Hoje em dia, a despeito da nomenclatura de partidos como o PC Chinês, só se podem considerar verdadeiramente socialistas dois regimes: o da Coreia do Norte e o de Cuba. Quanto ao primeiro, não vale a pena, creio, tecer quaisquer considerações. Já em Cuba pode constatar-se um discreto e progressivo abandono do socialismo.
Porém, o capitalismo, a despeito de todo o cortejo de crises, tem-se mantido ao longo de séculos. Urge meditar nesta incontornável verdade e parece-me que a conclusão não poderá ser outra senão que a alternativa socialista (no sentido marxista-leninista e não na actual conotação de ideologia de centro esquerda) é inválida. Uma formidável superpotência, como a URSS, não cai sem que haja causas internas. Muitos dos atributos negativos que Mariana, não sem razão, aponta ao capitalismo, encontravam-se presentes nos regimes socialistas. As pessoas não eram felizes. Posso afiançar eu, que viajei pela Hungria, Roménia e Jugoslávia em 1980 e tive oportunidade de conviver também com jovens polacos e da RDA (Alemanha de Leste). As diversas formas de alienação do trabalhador pela máquina produtiva, sabiamente dissecadas por Karl Marx, estavam também presentes nos regimes. Eram mesmo mais gravosas que nos regimes capitalistas democráticos. No que toca a política ambiental, pior do que desinteresse pelo meio-ambiente, acalentavam uma posição de hostilidade para com a natureza. A secagem do mar Aral, iniciada durante o período soviético, era vista como a correcção dum “erro da natureza”. O regime maoista foi campeão na desflorestação e tentativa de extinção de aves.
Mas, permita-se-me um regresso ao capitalismo e meditar nas razões do seu “sucesso”, ou, melhor dizendo, da sua sobrevivência. Uma desvantagem fatal dos sistemas nascidos da Revolução de Outubro foi a rigidez ideológica que travou o espírito crítico e liberdade de pensamento, fonte de inovação adaptativa. Já o capitalismo, mais preocupado com os resultados práticos do que com pureza ideológica, tem demonstrado uma capacidade de adaptação pragmática ao ponto de não rejeitar enxertos, se assim se pode dizer, “marxistas”, para se reformar. Nesta adaptabilidade do capitalismo estará a explicação para a sua resiliência face a crises de proporções bíblicas, como a Grande Depressão, iniciada em 1929. Aliás, é difícil negar que não há capitalismo, mas capitalismos. Muito diferentes são a versão chinesa - capitalismo puro e duro - e as variantes social-democratas típicas dos países nórdicos.
Mas, goste-se ou não, o facto é que o capitalismo, nos últimos decénios, permitiu que centenas de seres humanos ultrapassassem o limiar da pobreza, da China e sul da Ásia até à América Latina. Porém, a situação é mais complexa e o futuro perspectiva-se nada promissor. Se, no pós-guerra, as classes operárias e trabalhadores de um modo geral viram a sua situação económica melhorar substancialmente, registando-se um movimento de ascensão social nos EUA e Europa, já desde os anos 70 se vem notando uma degradação do nível de vida da classe média, acompanhada de aumento da riqueza dos muito ricos, aumentando assim o fosso entre as classes sociais. Quer isto dizer que o velho Karl Marx talvez não esteja tão errado assim, ao prever que o capitalismo empurraria crescentes camadas da população para a proletarização.
A menos que o capitalismo se renove de forma radical, não é seguramente regime que auspicie futuro risonho para a Humanidade. O problema continua a ser: onde está a alternativa?
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Mais do que rumor, é já certo que a IA é capaz de usar linguagem ininteligível para os humanos com o objectivo de ser mais eficaz. |
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![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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