Knut Hamsun
Opinião » 2016-10-20 » Jorge Carreira Maia"Por muito que as posições políticas de Hamsun nos ofendam, e elas têm muito para ofender, os livros que escreveu merecem ser lidos."
Como estamos em maré de Prémio Nobel da Literatura, este ano aberto a larga controvérsia, viajemos até 1920. Nesse longínquo ano, a academia sueca decidiu laurear o norueguês Knut Hamsun. Na altura, ele tinha ultrapassado a casa dos sessenta anos, mas ainda estava longe o tempo em que ele ostentaria as posições políticas que o conduziram a sérios problemas com a justiça e a um grande ostracismo, tanto pessoal como literário, do qual só lentamente a sua obra tem vindo a sair. Na verdade, Hamsun foi um apoiante convicto do nazismo, tendo suportado a ocupação alemã da Noruega e o respectivo governo fantoche. Depois da guerra foi detido por traição e julgado.
Este apoio está em linha com posições ideológicas que se manifestaram desde muito cedo. O escritor norueguês cultivava, por um lado, um exacerbado individualismo. Por outro, uma crítica sistemática à modernidade ocidental. Estes dois traços, que não têm necessariamente de conduzir a um apoio à ideologia nacional-socialista, são centrais na sua obra literária. Os heróis são individualistas ostensivos, em conflito com as normas burocráticas da sociedade moderna. A vitória do indivíduo não se deve à trama das relações sociais, mas à sua vontade determinada em superar os obstáculos, sejam os colocados pela sociedade, sejam os que existem na natureza. Este incensar da vontade, algo que poderia também acontecer em alguém de orientação liberal e democrática, combina-se com a rejeição da modernidade, a qual é vista como um perigo para a relação fundamental do homem com a terra, por exemplo, no romance Os Frutos da Terra.
Knut Hamsun foi, apesar do seu anti-modernismo, um dos escritores mais importantes da transição do século XIX para o XX e um dos mais inovadores. Foi pioneiro no uso de técnicas literárias como o monólogo interior e a corrente de consciência que viriam a marcar toda a literatura do século XX. Para lá da personagem política que foi, Hamsun merece ser lido e relido. A Cavalo de Ferro Editores está a prestar um enorme serviço à cultura portuguesa e aos leitores ao traduzir algumas das suas obras (Fome, Pan, Victoria, Mistérios e Os Frutos da Terra). Por muito que as posições políticas de Hamsun nos ofendam, e elas têm muito para ofender, os livros que escreveu merecem ser lidos. Pode-se começar, por exemplo, com o extraordinário, embora estranho, Fome. Ou para quem ama o mundo rural com Os Frutos da Terra. Boa leitura.
Knut Hamsun
Opinião » 2016-10-20 » Jorge Carreira MaiaPor muito que as posições políticas de Hamsun nos ofendam, e elas têm muito para ofender, os livros que escreveu merecem ser lidos.
Como estamos em maré de Prémio Nobel da Literatura, este ano aberto a larga controvérsia, viajemos até 1920. Nesse longínquo ano, a academia sueca decidiu laurear o norueguês Knut Hamsun. Na altura, ele tinha ultrapassado a casa dos sessenta anos, mas ainda estava longe o tempo em que ele ostentaria as posições políticas que o conduziram a sérios problemas com a justiça e a um grande ostracismo, tanto pessoal como literário, do qual só lentamente a sua obra tem vindo a sair. Na verdade, Hamsun foi um apoiante convicto do nazismo, tendo suportado a ocupação alemã da Noruega e o respectivo governo fantoche. Depois da guerra foi detido por traição e julgado.
Este apoio está em linha com posições ideológicas que se manifestaram desde muito cedo. O escritor norueguês cultivava, por um lado, um exacerbado individualismo. Por outro, uma crítica sistemática à modernidade ocidental. Estes dois traços, que não têm necessariamente de conduzir a um apoio à ideologia nacional-socialista, são centrais na sua obra literária. Os heróis são individualistas ostensivos, em conflito com as normas burocráticas da sociedade moderna. A vitória do indivíduo não se deve à trama das relações sociais, mas à sua vontade determinada em superar os obstáculos, sejam os colocados pela sociedade, sejam os que existem na natureza. Este incensar da vontade, algo que poderia também acontecer em alguém de orientação liberal e democrática, combina-se com a rejeição da modernidade, a qual é vista como um perigo para a relação fundamental do homem com a terra, por exemplo, no romance Os Frutos da Terra.
Knut Hamsun foi, apesar do seu anti-modernismo, um dos escritores mais importantes da transição do século XIX para o XX e um dos mais inovadores. Foi pioneiro no uso de técnicas literárias como o monólogo interior e a corrente de consciência que viriam a marcar toda a literatura do século XX. Para lá da personagem política que foi, Hamsun merece ser lido e relido. A Cavalo de Ferro Editores está a prestar um enorme serviço à cultura portuguesa e aos leitores ao traduzir algumas das suas obras (Fome, Pan, Victoria, Mistérios e Os Frutos da Terra). Por muito que as posições políticas de Hamsun nos ofendam, e elas têm muito para ofender, os livros que escreveu merecem ser lidos. Pode-se começar, por exemplo, com o extraordinário, embora estranho, Fome. Ou para quem ama o mundo rural com Os Frutos da Terra. Boa leitura.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
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» 2024-03-18
» Hélder Dias
Eleições "livres"... |
» 2024-03-08
» Jorge Carreira Maia
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» 2024-03-08
» Pedro Ferreira
A carne e os ossos - pedro borges ferreira |