Agustina, a crise na direita, a doença da social-democracia e a teia
Opinião » 2019-06-07 » Jorge Carreira Maia"A morte de Agustina, as crises da direita e da social-democracia europeia e a teia, no artigo da quinzena."
AGUSTINA BESSA-LUÍS. O século XX português teve uma mão cheia de excelentes romancistas. A atribuição do Nobel a Saramago reconheceu isso. Se tivesse sido a Agustina, não teria ficado mal entregue. A sua obra é a mais desafiante de todas as obras romanescas portuguesas do século passado. A iluminação da natureza humana, a exploração das suas motivações mais recônditas, a capacidade de ver o real, tornam-na uma leitura obrigatória. Morreu na segunda-feira, ao 96 anos. Fará parte do cânone da literatura portuguesa. É preciso, porém, que os leitores continuem a ler os seus livros.
A CRISE NA DIREITA. O Presidente da República, saudoso do papel de comentador, decidiu perorar sobre uma eventual crise na direita. Rui Rio respondeu dizendo que se há crise, ela é do regime e não da direita. Centeno afiançou-nos que o regime está de saúde. É verdade que o regime tem tido capacidade para encontrar soluções políticas diferenciadas e sobreviver. Claro que o PSD e o CDS parecem viver uma crise, mas isso apenas se deve ao facto de estarem afastados do poder. Os partidos de vocação governativa sempre que estão na oposição parecem moribundos, mas se conseguem chegar ao poder, revigoram-se e tornam-se atletas de alta competição.
A DOENÇA DA SOCIAL-DEMOCRACIA EUROPEIA. Verdadeira crise é aquela que se abateu sobre a social-democracia europeia. Com exclusão dos socialistas portugueses e espanhóis, a tradição política social-democrata europeia está em estado comatoso. O desaparecimento do PS francês e as votações humilhantes dos trabalhistas ingleses e do SPD alemão, nas europeias, dão-nos um quadro clínico de prognóstico muito reservado. É possível que estas velhas instituições políticas, nascidas dos efeitos sociais da Revolução Industrial, comecem a não encontrar lugar no novo universo político gerado pela globalização e a revolução digital.
O PROBLEMA DA TEIA. O novo processo judicial que envolve autarcas socialistas do norte do país é, esse sim, uma péssima notícia para o regime. Independentemente da existência ou não de culpa por parte dos arguidos, este tipo de processos reforça a voz popular que tende a generalizar, de forma injusta, a ideia de que todos os políticos são corruptos. Aquele lugar-comum que os partidos propagam, quando são atingidos por casos de polícia, de que as questões de justiça são tratadas pela justiça, é um expediente inútil para não assumir que casos de justiça que envolvem políticos são também, aos olhos dos cidadãos, casos políticos. Não vale a pena tapar o sol com a peneira.
Agustina, a crise na direita, a doença da social-democracia e a teia
Opinião » 2019-06-07 » Jorge Carreira MaiaA morte de Agustina, as crises da direita e da social-democracia europeia e a teia, no artigo da quinzena.
AGUSTINA BESSA-LUÍS. O século XX português teve uma mão cheia de excelentes romancistas. A atribuição do Nobel a Saramago reconheceu isso. Se tivesse sido a Agustina, não teria ficado mal entregue. A sua obra é a mais desafiante de todas as obras romanescas portuguesas do século passado. A iluminação da natureza humana, a exploração das suas motivações mais recônditas, a capacidade de ver o real, tornam-na uma leitura obrigatória. Morreu na segunda-feira, ao 96 anos. Fará parte do cânone da literatura portuguesa. É preciso, porém, que os leitores continuem a ler os seus livros.
A CRISE NA DIREITA. O Presidente da República, saudoso do papel de comentador, decidiu perorar sobre uma eventual crise na direita. Rui Rio respondeu dizendo que se há crise, ela é do regime e não da direita. Centeno afiançou-nos que o regime está de saúde. É verdade que o regime tem tido capacidade para encontrar soluções políticas diferenciadas e sobreviver. Claro que o PSD e o CDS parecem viver uma crise, mas isso apenas se deve ao facto de estarem afastados do poder. Os partidos de vocação governativa sempre que estão na oposição parecem moribundos, mas se conseguem chegar ao poder, revigoram-se e tornam-se atletas de alta competição.
A DOENÇA DA SOCIAL-DEMOCRACIA EUROPEIA. Verdadeira crise é aquela que se abateu sobre a social-democracia europeia. Com exclusão dos socialistas portugueses e espanhóis, a tradição política social-democrata europeia está em estado comatoso. O desaparecimento do PS francês e as votações humilhantes dos trabalhistas ingleses e do SPD alemão, nas europeias, dão-nos um quadro clínico de prognóstico muito reservado. É possível que estas velhas instituições políticas, nascidas dos efeitos sociais da Revolução Industrial, comecem a não encontrar lugar no novo universo político gerado pela globalização e a revolução digital.
O PROBLEMA DA TEIA. O novo processo judicial que envolve autarcas socialistas do norte do país é, esse sim, uma péssima notícia para o regime. Independentemente da existência ou não de culpa por parte dos arguidos, este tipo de processos reforça a voz popular que tende a generalizar, de forma injusta, a ideia de que todos os políticos são corruptos. Aquele lugar-comum que os partidos propagam, quando são atingidos por casos de polícia, de que as questões de justiça são tratadas pela justiça, é um expediente inútil para não assumir que casos de justiça que envolvem políticos são também, aos olhos dos cidadãos, casos políticos. Não vale a pena tapar o sol com a peneira.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato |
» 2024-03-18
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» Pedro Ferreira
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