• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Terça, 22 Outubro 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Sex.
 18° / 12°
Períodos nublados
Qui.
 24° / 13°
Céu nublado
Qua.
 25° / 14°
Céu limpo
Torres Novas
Hoje  25° / 13°
Períodos nublados
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

Na aldeia de Zibreira passa o rio Almonda - isilda loureiro

Opinião  »  2024-06-23 

"O rio da minha aldeia", fazendo lembrar o poema de Fernando Pessoa...

Houve tempos em que o local conhecido por Azenha, no termo da aldeia de Zibreira, após descermos uma ladeira ladeada de terrenos agrícolas e hortas, teve um moinho com gente e muita vida. No fim da ladeira da aldeia houve vida. Hoje há um vazio assustador.

O rio Almonda foi escondido, não se vê vivalma e todo o espaço é uma ruína perturbadora.
Foi o sítio da Ti Benvinda e do Ti Miguel Lourenço, os meus avós. Aí nasceram os seus nove filhos. Por ali cresceram, aprenderam a nadar, a pescar e a trabalhar no moinho que os alimentava. Subiam ao centro da aldeia para ir à escola, à missa e fazer as compras na loja do Cartuchinho.

Depois veio a industrialização, com que não conseguiram concorrer. Os moinhos haveriam de perecer. Era tempo de progresso e de enormes dificuldades para quem ganhava o pão nos moinhos movidos pelas águas do rio.

Muito cedo chegou a doença que levaria o meu avô aos 65 anos. Foram forçados a vender o sítio de toda a vida, as casas que viram os filhos nascer e crescer. Deixaram o rio à aldeia e as casas aos seus novos proprietários.

Enquanto o moinho da Azenha de Zibreira lhes pertenceu, o rio foi das gentes que aí lavavam a sua roupa, as mantas no Verão… Era o rio dos piqueniques, do namoro, dos convívios, dos passeios no dia da Espiga... era o rio de todos.

Aí se cantavam as alegrias e contavam os lamentos. O som da água misturava-se com o chilrear das aves, com o bater da roupa na pedra, sem abafar os risos e as conversas da gente que fazia do trabalho um momento de confraternização.

Mergulhadas na água, as mulheres lavavam e batiam a roupa na pedra. As burras e as carroças transportariam as roupas lavadas. Outras vezes, a roupa era levada a pé, à cabeça, nos alguidares que balançavam, acompanhando o ritmo dos corpos cansados, a quem esperava o resto da labuta diária.

Quantas vezes não se embalavam e ganhavam força para a subida na conversa com a Ti Benvinda, que oferecia café e pão acabado de cozer no forno. Davam dois dedos de conversa e lá subiam ao povoado. A Azenha de Zibreira trazia gente das terras à volta. Vinha gente de todo o lado.

Hoje, a degradação do lugar parece assombrar o lugar que foi paradisíaco. Tudo caíu. O rio não se vê. Apenas se escuta o marulhar das águas escondidas, que passam em direcção ao caminho das hortas e rumo à cidade. No sítio por onde se chegava ao rio, está agora um portão que roubou o rio à aldeia. Foi arrombado por algum curioso que o escancarou, deixando ver ao fundo um tapume que selou e encerrou o rio que foi de todos.

Aos poucos, mataram a Azenha de Zibreira, encerraram o rio e deixaram um cenário para filme de terror. Fica a esperança de um dia a Azenha poder deixar de ser um monte de ruínas, que as margens do rio se libertem das muralhas de silvas que por ali cresceram e que o rio possa voltar a ser visto por todos.

 

 

 Outras notícias - Opinião


30 anos: o JT e a política - joão carlos lopes »  2024-09-30  »  João Carlos Lopes

Dir-se-ia que três décadas passaram num ápice. No entanto, foram cerca de 11 mil dias iguais a outros 11 mil dias dos que passaram e dos que hão-de vir. Temos, felizmente, uma concepção e uma percepção emocional da história, como se o corpo vivo da sociedade tivesse os mesmos humores da biologia humana.
(ler mais...)


Não tenho nada para dizer - carlos tomé »  2024-09-23  »  Carlos Tomé

Quando se pergunta a alguém, que nunca teve os holofotes apontados para si, se quer ser entrevistado para um jornal local ou regional, ele diz logo “Entrevistado? Mas não tenho nada para dizer!”.

 Essa é a resposta que surge mais vezes de gente que nunca teve possibilidade de dar a sua opinião ou de contar um episódio da sua vida, só porque acha que isso não é importante,

 Toda a gente está inundada pelos canhenhos oficiais do que é importante para a nossa vida e depois dessa verdadeira lavagem ao cérebro é mais que óbvio que o que dizem que é importante está lá por cima a cagar sentenças por tudo e por nada.
(ler mais...)


Três décadas a dar notícias - antónio gomes »  2024-09-23  »  António Gomes

Para lembrar o 30.º aniversário do renascimento do “Jornal Torrejano”, terei de começar, obrigatoriamente, lembrando aqui e homenageando com a devida humildade, o Joaquim da Silva Lopes, infelizmente já falecido.
(ler mais...)


Numa floresta de lobos o Jornal Torrejano tem sido o seu Capuchinho Vermelho - antónio mário santos »  2024-09-23  »  António Mário Santos

Uma existência de trinta anos é um certificado de responsabilidade.

Um jornal adulto. Com tarimba, memória, provas dadas. Nasceu como uma urgência local duma informação séria, transparente, num concelho em que a informação era controlada pelo conservadorismo católico e o centrismo municipal subsidiado da Rádio Local.
(ler mais...)


Trente Glorieuses - carlos paiva »  2024-09-23  »  Carlos Paiva

Os gloriosos trinta, a expressão original onde me fui inspirar, tem pouco que ver com longevidade e muito com mudança, desenvolvimento, crescimento, progresso. Refere-se às três décadas pós segunda guerra mundial, em que a Europa galopou para se reconstruir, em mais dimensões que meramente a literal.
(ler mais...)


30 anos contra o silêncio - josé mota pereira »  2024-09-23  »  José Mota Pereira

Nos cerca de 900 anos de história, se dermos como assente que se esta se terá iniciado com as aventuras de D. Afonso Henriques nesta aba da Serra de Aire, os 30 anos de vida do “Jornal Torrejano”, são um tempo muito breve.
(ler mais...)


A dimensão intelectual da extrema-direita - jorge carreira maia »  2024-09-23  »  Jorge Carreira Maia

Quando se avalia o crescimento da extrema-direita, raramente se dá atenção à dimensão cultural. Esta é rasurada de imediato pois considera-se que quem apoia o populismo radical é, por natureza, inculto, crente em teorias da conspiração e se, por um acaso improvável, consegue distinguir o verdadeiro do falso, é para escolher o falso e escarnecer o verdadeiro.
(ler mais...)


Falta poesia nos corações (ditos) humanos »  2024-09-19  »  Maria Augusta Torcato

No passado mês de agosto revisitei a peça de teatro de Bertolt Brecht “Mãe coragem”. O espaço em que a mesma foi representada é extraordinário, as ruínas do Convento do Carmo. A peça anterior a que tinha assistido naquele espaço, “As troianas”, também me havia suscitado a reflexão sobre o modo como as situações humanas se vão repetindo ao longo dos tempos.
(ler mais...)


Ministro ou líder do CDS? »  2024-09-17  »  Hélder Dias

Olivença... »  2024-09-17  »  Hélder Dias
 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-09-30  »  João Carlos Lopes 30 anos: o JT e a política - joão carlos lopes
»  2024-09-23  »  António Mário Santos Numa floresta de lobos o Jornal Torrejano tem sido o seu Capuchinho Vermelho - antónio mário santos
»  2024-09-23  »  António Gomes Três décadas a dar notícias - antónio gomes
»  2024-09-23  »  Carlos Tomé Não tenho nada para dizer - carlos tomé
»  2024-09-23  »  Jorge Carreira Maia A dimensão intelectual da extrema-direita - jorge carreira maia