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Morreu José Ribeiro Sineiro, um torrejano notável

Sociedade  »  2024-02-19 

Morreu hoje segunda-feira, ao fim da tarde, José Ribeiro Sineiro, uma das figuras marcantes da segunda metade do século XX torrejano. Foi um lutador contra a ditadura salazarista, animador cultural nas áreas do cine-clubismo e do património, teve um papel determinante nalgumas realizações culturais na cidade. Estava hospitalizado há dias, depois do seu estado de saúde se ter deteriorado. Faria 89 anos em Março.

Filho de José Lopo Antunes, de Monsanto da Beira, e de Leocádia da Conceição Ribeiro, vendedora na praça, José Ribeiro Sineiro nasceu em Torres Novas a 26 de Março de 1935, tendo passado a infância nas Casas Altas, onde morava a família, num cenário de aventuras e brincadeiras que se estendia ao Moinho da Cova, ao Outeiro do Fogo e ao Caldeirão, de onde acedia à ladeira que ia dar às escolas primárias, no Salvador.
Já adolescente, frequentou a primitiva escola industrial no curso nocturno, contactando com homens como António Maia, um operário da Casa Nery que já tinha estado preso, conheceu Ernesto Pinto Ângelo, professor que tinha grandes preocupações culturais e que seria presidente do Choral Pydellius e do Clube Desportivo de Torres Novas, duas pessoas que o marcaram.

Em 1958 vieram as pseudo-eleições e a campanha de Humberto Delgado e em sua casa começou a aparecer o “República”. Nas Casas Altas, a família de José Ribeiro era a única que tinha electricidade e rádio em casa, e lá iam furtivamente alguns vizinhos para ouvirem a BBC e a Rádio Moscovo.

Profissionalmente, José Ribeiro tinha trabalhado, como electricista, na oficina de António Vasco da Silva, depois na de Nuno Garcia, homem da oposição ao regime, mas demorou-se pouco na vila e seguiu para Lisboa, ingressando na UTIC, onde estabelece ligações políticas com o movimento da juventude trabalhadora, de orientação comunista. No dia 17 de Março de 1960 é preso e conduzido à sede da PIDE, na António Maria Cardoso. Passou pela “estátua”, uma das clássicas torturas da antiga polícia política, é agredido e queimado com cigarros numa sessão que durou cinco dias e quatro noites, tendo feito os 25 anos nesses dias negros. É julgado e condenado a dois anos de prisão e medidas de segurança, que o levam a estar três anos e meio isolado numa cela do forte de Peniche, depois de ter estado na prisão de Caxias. Somando todos os períodos em que esteve isolado, passou mais de um ano sem sair da cela, sem ver mais ninguém a não ser o guarda. Até a comida lhe iam levar à cela. Na cadeia conviveu com importantes quadros políticos do PCP como António Dias Lourenço, Octávio Pato, José Magro e Júlio Fogaça, entre outros. Nos mais de cinco anos em que esteve preso, nunca lhe foi permitida uma visita no parlatório. Saiu da prisão em 1965.

Ficou com residência fixa em Torres Novas, não podia sair do concelho e era obrigado a apresentar-se todos os meses no posto da GNR, não podendo pertencer a corpos sociais de quaisquer colectividades. Continuou a sua vida profissional de electricista, montando pequena oficina no Caldeirão.

Neste regresso a Torres Novas, o Cine-Clube foi a saída para continuar a sua participação cívica e cultural: as direcções das colectividades tinham de ir à aprovação governamental, mas faziam-se “comissões de apoio à direcção” e foi assim que José Ribeiro deu o seu contributo a importantes iniciativas do Cine-Clube de Torres Novas na segunda metade da década de 60 do século passado. Com o beneplácito do presidente da Câmara, Fernando Cunha, que sempre se responsabilizou perante a PIDE em abrir a porta do Virgínia para iniciativas culturais conotadas com a oposição, integrou a equipa do Bang-Bang, réplica local do célebre programa de televisão Zip-Zip, com Nuno Cordeiro, Machado e João José Lopes “Espanhol”.

Em 1969 deu apoio directo à logística da oposição, na CDE, na preparação dos cadernos eleitorais, mas trabalhando clandestinamente. Publicamente, aparecia a sua mulher, Benvinda Lopes Ribeiro.

Depois do 25 de Abril de 1974, foi militante e dirigente regional e nacional do MDP/CDE, fundou e animou o jornal regional “A Forja” (1975-1982), sediado em Torres Novas e que pretendia afirmar-se como jornal regional. Fundou e foi principal dirigente da Associação de Defesa do Património de Torres Novas, em 1978, tendo sido o grande divulgador e impulsionador, em Torres Novas, do movimento de ideias em defesa do património cultural e do ambiente. Nesse período, publica centenas de artigos em jornais locais sobre temas do património e da cultura em Torres Novas. Mais tarde, em 2010 publicaria, em edição do município, um livro sobre a história da implantação da electricidade em Torres Novas, “A iluminação pública e a electricidade na vila de Torres Novas – subsídios e documentos.”

Mas sua acção como dirigente da Associação de Defesa do Património iria deixar uma marca imorredoira no panorama cultural torrejano.

Na verdade, ficaram a dever-se à sua visão e iniciativa as primeiras movimentações para que a Casa Mogo de Melo fosse reabilitada para albergar o Museu Municipal, ainda em finais da década de 70, como também os primeiros contactos com a EDP com vista à salvaguarda da Central do Caldeirão enquanto património público. Foi dele o lançamento da ideia das comemorações do VIII Centenário do Foral, a maior realização cultural que Torres Novas já conheceu. José Ribeiro Sineiro teve também um papel decisivo e determinante em todo o processo que levou à constituição da comissão pró-Museu Etnográfico e das acções de recolha que resultaram na colecção de etnografia e arqueologia industrial, depositada a partir de 1985 na antiga garagem Claras. Foi José Ribeiro que convenceu Joaquim Rodrigues Bicho a resgatar os seus velhos escritos de jornal sobre o património artístico para guias de visitas ao património concelhio, então realizadas sob a égide da Associação de Defesa do Património, no início dos anos 80, o que levaria à publicação do primeiro livro daquele autor, num passo, talvez decisivo, para a futura actividade de Joaquim Bicho na sua futura carreira de escritor. Foi José Ribeiro Sineiro que deu a ideia, no seio da comissão do foral, do convite a Luís Filipe de Abreu para conceber aquele que seria o painel de azulejos do centenário, a mais valiosa peça de arte pública existente na cidade.

Inclinação antiga, nunca deixou de aperfeiçoar a sua arte de escultor, trabalhando em madeira peças de pequeno e médio porte. Fez várias exposições e as suas esculturas estão espalhadas por todo o país, levadas ou compradas por amigos. Uma das principais rotundas da cidade de Torres Novas, junto à Escola Secundária Artur Gonçalves, tem uma escultura de sua autoria, ampliada em aço, uma das mais bonitas peças de arte exterior de Torres Novas.

Em 2000 foi agraciado com a medalha de Mérito Municipal da Cultura pelo município de Torres Novas.

José Ribeiro foi co-fundador da Cooperativa Editora Jornal Torrejano, que edita este jornal. À sua família, o JT envia sentidas condolências. J.C.L.

 

 

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