Vinte dos trinta são meus - inês vidal
Sociedade » 2024-09-27
Esta é a minha relação – excluindo obviamente todas aquelas inerentes ao simples facto de eu existir – mais longa de todas. Se o jornal completa 30 anos e eu 43, é fácil de ver há quanto tempo nos vamos cruzando por essas ruas e vielas da vila. Ou direi antes, da vida. Juntando isso ao facto de eu ter começado a trabalhar com apenas 21 anos, chegamos ao resultado final.
Amantizei-me com o Jornal Torrejano no ano de 2002. Estamos em 2024 e não me imagino com nenhum outro. É costume dizer-se que podemos trocar de mulher, de carro, mas nunca de clube de futebol. Eu, apesar de sportinguista para sempre, adapto o dizer a meu jeito: podemos trocar de tudo, mas nunca de jornal.
Todos sabem – não escrevesse eu este texto todos os anos – que me fiz jornalista nesta casa. Desta vez vou mais longe. Não só me fiz jornalista, como também me fiz mulher, leitora, lutadora, pretensa escritora, enfim. Pessoa completa.
Nas últimas décadas, vi o melhor e o pior das pessoas. Tornei-me também eu melhor, muito mais vezes do que pior. Conheci as mais fantásticas das pessoas, ouvi as mais mirabolantes estórias, falei com pessoas a quem nunca imaginei chegar, chorei vezes de mais nas mãos dos mais cruéis. Tive a sorte de, ao longo deste período, que já perfaz mais de metade da minha vida, me rodear de pessoas que foram muito mais do que colegas e se tornaram amigos, família, colo, mestres. Tive os primeiros vislumbres do mundo real. Aprendi a escrever, a interrogar e a interrogar-me. Tornei-me um nome. Alguém.
Mas o Jornal Torrejano vai muito além daquilo que tem sido para mim. Aliás, essa é uma ínfima parte, indiferente mesmo, daquele que tem sido o papel do meu jornal. Há 30 anos tínhamos dois jornais no concelho, um com sede em Riachos e sempre com as raízes bem definidas e outro com casa na cidade, assumidamente ligado à Igreja, com uma linha editorial que reflectia bem isso. Brandos costumes, como se queria, sem levantar poeira, ou com todos os cuidados para não comprar inimizades. Notícias ficavam por ser dadas. Caladas. Uma espécie de folhetim com novas por encomenda de quem mandava.
O JT nasceu nesse contexto e desse contexto: a necessidade de haver na cidade um jornal que o fosse, custasse o que custasse, a quem custasse. Um jornal sem dono, independente, pluralista. E assim tem sido. Há três décadas. E por mais que se pudesse acreditar que os leitores procuravam apenas um folhetim pacato, que mais não partilhasse do que horários de missas e um atualizado obituário, eis que fomos todos surpreendidos. O JT é hoje o principal jornal do concelho e os leitores continuam leitores, diria mesmo mais leitores, já que agora sim, lêem notícias que efectivamente o são.
Não posso falar do JT e dos seus 30 anos, sem agradecer em primeira mão a quem percebeu e acreditou que Torres Novas merecia um jornal. Os meus Lopes. O Joaquim e o João que, de máquina de escrever em punho, num qualquer vão de escadas, trouxeram a segunda série do velhinho Jornal Torrejano à luz do dia. Mais do que qualquer faculdade, foram responsáveis pela formação de dezenas de bons jornalistas, mostrando-lhes o que realmente se esperava da profissão. Com eles, também uma série de fantásticos cronistas alinharam desde a primeira hora, dizendo aquilo que ninguém se atrevia a dizer e, ainda por cima, bem dito. Dezenas de colaboradores quiseram, sem renitências, associar o seu nome a um projecto que se mostrava coerente e prometia vir para ficar. E ficou. Cá estamos. E com cada vez mais força e motivação para continuar.
De uma forma mais institucional, como a situação requer de uma directora que se preze, neste pontuar dos 30, os meus agradecimentos vão para todos os que nos mantém e não desistem, apesar dos dias em que tudo se torna mais difícil. E estes são muitos mais do que aqueles que nós gostaríamos que fossem.
Uma palavra ao João Carlos Lopes, em primeiro lugar. Meu mestre, meu mentor, meu amigo, a quem eu recorro sempre, um génio por reconhecer, pessoa sem a qual não conseguiríamos dar nem um passo. Sem ele, não haveria certamente jornal. Em segundo lugar, uma palavra ao núcleo duro que mantém de pé o JT, se não há 30 anos, quase: Cristiano, Conceição, Luís Miguel, Élio e mais recentemente Semião. Colegas que continuam, por mero amor à camisola, a escrever aquela que no futuro será a história do nosso concelho.
A todos os que connosco colaboram - cronistas, cartoonistas, correspondentes - o nosso muito obrigada. Seria impossível chegar a todo o lado sozinhos. Aos anunciantes, aqueles que ainda percebem a importância do jornalismo independente e fazem questão de ajudar, o nosso obrigada é pouco. Nunca conseguiríamos sem a vossa ajuda.
Aos que não nos liam e começaram agora a acompanhar as nossas páginas, um agradecimento pelo voto de confiança. Tenho a certeza de que não se irão arrepender.
Aos que nos lêem há 30 anos... O que se pode dizer aos que nos lêem há 30 anos? Apenas transmitir um abraço de gratidão por tamanha lealdade e dizer que se não damos mais, como sabemos que já demos, é porque a situação crítica que todo o jornalismo atravessa não nos permite ter uma equipa permanentemente em cima do acontecimento. Mas não desistimos ainda de voltar a esses tempos. Temos cada vez mais a certeza de que esse é o caminho que queremos traçar e que, com a ajuda de todos, iremos concretizar.
Até lá, a nossa equipa aqui estará, a fazer o que pode com o que tem, sempre tendo por base uma convicção: a manutenção da democracia passa por uma imprensa séria, atenta e sem medo, até nos meios mais pequenos. Por isso mesmo dizemos: não passarão. Por aqui, não. Pelo menos nos próximos trinta anos.
Vinte dos trinta são meus - inês vidal
Sociedade » 2024-09-27Esta é a minha relação – excluindo obviamente todas aquelas inerentes ao simples facto de eu existir – mais longa de todas. Se o jornal completa 30 anos e eu 43, é fácil de ver há quanto tempo nos vamos cruzando por essas ruas e vielas da vila. Ou direi antes, da vida. Juntando isso ao facto de eu ter começado a trabalhar com apenas 21 anos, chegamos ao resultado final.
Amantizei-me com o Jornal Torrejano no ano de 2002. Estamos em 2024 e não me imagino com nenhum outro. É costume dizer-se que podemos trocar de mulher, de carro, mas nunca de clube de futebol. Eu, apesar de sportinguista para sempre, adapto o dizer a meu jeito: podemos trocar de tudo, mas nunca de jornal.
Todos sabem – não escrevesse eu este texto todos os anos – que me fiz jornalista nesta casa. Desta vez vou mais longe. Não só me fiz jornalista, como também me fiz mulher, leitora, lutadora, pretensa escritora, enfim. Pessoa completa.
Nas últimas décadas, vi o melhor e o pior das pessoas. Tornei-me também eu melhor, muito mais vezes do que pior. Conheci as mais fantásticas das pessoas, ouvi as mais mirabolantes estórias, falei com pessoas a quem nunca imaginei chegar, chorei vezes de mais nas mãos dos mais cruéis. Tive a sorte de, ao longo deste período, que já perfaz mais de metade da minha vida, me rodear de pessoas que foram muito mais do que colegas e se tornaram amigos, família, colo, mestres. Tive os primeiros vislumbres do mundo real. Aprendi a escrever, a interrogar e a interrogar-me. Tornei-me um nome. Alguém.
Mas o Jornal Torrejano vai muito além daquilo que tem sido para mim. Aliás, essa é uma ínfima parte, indiferente mesmo, daquele que tem sido o papel do meu jornal. Há 30 anos tínhamos dois jornais no concelho, um com sede em Riachos e sempre com as raízes bem definidas e outro com casa na cidade, assumidamente ligado à Igreja, com uma linha editorial que reflectia bem isso. Brandos costumes, como se queria, sem levantar poeira, ou com todos os cuidados para não comprar inimizades. Notícias ficavam por ser dadas. Caladas. Uma espécie de folhetim com novas por encomenda de quem mandava.
O JT nasceu nesse contexto e desse contexto: a necessidade de haver na cidade um jornal que o fosse, custasse o que custasse, a quem custasse. Um jornal sem dono, independente, pluralista. E assim tem sido. Há três décadas. E por mais que se pudesse acreditar que os leitores procuravam apenas um folhetim pacato, que mais não partilhasse do que horários de missas e um atualizado obituário, eis que fomos todos surpreendidos. O JT é hoje o principal jornal do concelho e os leitores continuam leitores, diria mesmo mais leitores, já que agora sim, lêem notícias que efectivamente o são.
Não posso falar do JT e dos seus 30 anos, sem agradecer em primeira mão a quem percebeu e acreditou que Torres Novas merecia um jornal. Os meus Lopes. O Joaquim e o João que, de máquina de escrever em punho, num qualquer vão de escadas, trouxeram a segunda série do velhinho Jornal Torrejano à luz do dia. Mais do que qualquer faculdade, foram responsáveis pela formação de dezenas de bons jornalistas, mostrando-lhes o que realmente se esperava da profissão. Com eles, também uma série de fantásticos cronistas alinharam desde a primeira hora, dizendo aquilo que ninguém se atrevia a dizer e, ainda por cima, bem dito. Dezenas de colaboradores quiseram, sem renitências, associar o seu nome a um projecto que se mostrava coerente e prometia vir para ficar. E ficou. Cá estamos. E com cada vez mais força e motivação para continuar.
De uma forma mais institucional, como a situação requer de uma directora que se preze, neste pontuar dos 30, os meus agradecimentos vão para todos os que nos mantém e não desistem, apesar dos dias em que tudo se torna mais difícil. E estes são muitos mais do que aqueles que nós gostaríamos que fossem.
Uma palavra ao João Carlos Lopes, em primeiro lugar. Meu mestre, meu mentor, meu amigo, a quem eu recorro sempre, um génio por reconhecer, pessoa sem a qual não conseguiríamos dar nem um passo. Sem ele, não haveria certamente jornal. Em segundo lugar, uma palavra ao núcleo duro que mantém de pé o JT, se não há 30 anos, quase: Cristiano, Conceição, Luís Miguel, Élio e mais recentemente Semião. Colegas que continuam, por mero amor à camisola, a escrever aquela que no futuro será a história do nosso concelho.
A todos os que connosco colaboram - cronistas, cartoonistas, correspondentes - o nosso muito obrigada. Seria impossível chegar a todo o lado sozinhos. Aos anunciantes, aqueles que ainda percebem a importância do jornalismo independente e fazem questão de ajudar, o nosso obrigada é pouco. Nunca conseguiríamos sem a vossa ajuda.
Aos que não nos liam e começaram agora a acompanhar as nossas páginas, um agradecimento pelo voto de confiança. Tenho a certeza de que não se irão arrepender.
Aos que nos lêem há 30 anos... O que se pode dizer aos que nos lêem há 30 anos? Apenas transmitir um abraço de gratidão por tamanha lealdade e dizer que se não damos mais, como sabemos que já demos, é porque a situação crítica que todo o jornalismo atravessa não nos permite ter uma equipa permanentemente em cima do acontecimento. Mas não desistimos ainda de voltar a esses tempos. Temos cada vez mais a certeza de que esse é o caminho que queremos traçar e que, com a ajuda de todos, iremos concretizar.
Até lá, a nossa equipa aqui estará, a fazer o que pode com o que tem, sempre tendo por base uma convicção: a manutenção da democracia passa por uma imprensa séria, atenta e sem medo, até nos meios mais pequenos. Por isso mesmo dizemos: não passarão. Por aqui, não. Pelo menos nos próximos trinta anos.
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