Plano de Nacional de Investimentos: lamúria geral, só Abrantes está feliz
Sociedade » 2020-11-05
O Plano Nacional de Investimentos que o Governo apresentou deixa a Chamusca revoltada, Santarém queixa-se, o PCP diz que os principais investimentos ficam por fazer, o PSD diz mais ou menos o mesmo. O PS distrital está satisfeito, Abrantes rejubila com uma nova ponte à porta. No Ribatejo, cada um puxa para seu lado e só o rio corre no mesmo sentido.
O autarca da Chamusca tem razão para se sentir queimado com as sucessivas promessas de contra-partidas ao seu concelho pelo facto de a “vila branca” ter aceitado, numa perspectiva de missão nacional, receber no seu território o lixo e os resíduos perigosos que ninguém queria à porta. Aquilo que era uma promessa em 2019, a conclusão do IC3 com nova travessia do Tejo e ligação ao nó da A23, com a retirada do tráfego de transporte de produtos perigosos da estrada que atravessa a vila (e também Alpiarça ou Almeirim) e o descongestionamento da velhinha “ponte da Chamusca”, como é conhecida, fica mais uma vez adiado para as calendas.
Santarém pugna pelo desvio da linha do Norte, querendo retirá-la do seu percurso ribeirinho e trazendo-a para mais perto da cidade (acabando, é certo, com a visão de uma das mais fascinantes paisagens portugueses), ao mesmo tempo que protesta porque a linha de alta velocidade, que se anuncia mais uma vez, esquece a velha Scalabis e "volta costas ao distrito". Os municípios da chamada Lezíria puxam os cabelos e atiram-se ao chão, dizendo-se desprezados pelo Governo.
Os comunistas, pela voz da sua estrutura distrital, acham que o distrito exige uma mão cheia de projectos que não cabem naquilo que foi contemplado este ano no Plano Nacional de Investimentos (a conclusão do IC3 entre Atalaia e Almeirim, as novas travessias do Tejo na Chamusca e Constância, a travessia do Vale do Sorraia em Coruche, a modernização da Linha do Norte entre Vale de Santarém e Entroncamento com a variante em Santarém e a modernização da Estação do Entroncamento), enquanto PSD afina pelo mesmo diapasão (acha um erro grosseiro a não conclusão do IC3 e a travessia entre Chamusca e Golegã, e a alta velocidade Lisboa-Porto passar ao lado do distrito).
Os socialistas do distrito, não podendo demarcar-se do Governo que apoiam, são entusiastas das medidas previstas, lembrando timidamente e esquecendo outras que, quando o PS estava na oposição, defendiam com unhas e dentes.
Constância não está convencida da excelência da localização da nova travessia do Tejo, que por sua vez faz as delícias de Abrantes: os abrantinos, com uma presença directa no Governo, querem e dizem que o local para a ligação rodoviária da A23 ao IC9 e IC13 é entre Abrantes e Ponte de Sor, incluindo uma nova ponte sobre o Tejo, a ligar ao Alentejo, que tem de ser entre Rio de Moinhos e Abrantes, enquanto os da antiga Punhete querem-na mais abaixo, junto a Santa Margarida, afirmando que uma única nova ponte sobre o Tejo pode resolver-se o problema de três municípios, Constância, Abrantes e Chamusca.
Baralhando, os autarcas preocupam-se basicamente com quem entra no Ribatejo pelo Sorraia, com quem passa pelo distrito a caminho de Lisboa e Porto e com quem atravessa o norte do distrito entre o litoral e o norte-alentejano. Curiosamente, nem uma palavra consistente sobre o que os une a todos: de Abrantes a Vila Franca, o maior rio da Península Ibérica, talvez o recurso de mais elevado potencial do país, é como se não existisse.
Reclamam, que o distrito está partido em duas CCDR e que devia ter um plano integrado de desenvolvimento com o Oeste, juntando a Lezíria, o Médio Tejo e Oeste numa região-plano, mas continuam a alimentar a panelinha dos negócios de circunstância, acorrendo a legitimar a farsa que foi a eleição dos presidentes da “regiões”. Isto é, quando podiam ter falado grosso, acobardaram-se e participaram no teatro.
E não se lembraram, ao menos, de se juntarem numa qualquer praia aqui perto, durante o verão, para tentar um consenso mínimo de intenções a enviar ao Governo antes das definições do PNI. Cada um calou-se bem calado, mandando recados, movendo influências, esperando as sobras do bodo. Aí estão elas.
O Ribatejo e o distrito não podem ter tudo o que decorre das visões místicas dos seus autarcas. Não pode haver universidades, aeroportos ou TGV espalhados por todo o país. Aliás, já existem politécnicos a mais (porque não há nem haverá alunos que os queiram em tanta quantidade), não se percebe porque não se deixa cair o segundo aeroporto e ninguém entende o que o país ganha com o encurtar da viagem Lisboa/Porto em meia hora.
O distrito de Santarém, o Ribatejo genericamente (na sua versão mínima) mereciam mais tino por parte dos seus autarcas. Tendo eles alguma legitimidade política, integrando duas CIM que congregam, no essencial, o antigo distrito, juntando-se eles para tanta e mais alguma coisa, não se lembraram de fazer duas ou três reuniões para desenharem um acordo sólido, coerente e efectivamente tendente à coesão territorial da região? J.C.L.
Plano de Nacional de Investimentos: lamúria geral, só Abrantes está feliz
Sociedade » 2020-11-05O Plano Nacional de Investimentos que o Governo apresentou deixa a Chamusca revoltada, Santarém queixa-se, o PCP diz que os principais investimentos ficam por fazer, o PSD diz mais ou menos o mesmo. O PS distrital está satisfeito, Abrantes rejubila com uma nova ponte à porta. No Ribatejo, cada um puxa para seu lado e só o rio corre no mesmo sentido.
O autarca da Chamusca tem razão para se sentir queimado com as sucessivas promessas de contra-partidas ao seu concelho pelo facto de a “vila branca” ter aceitado, numa perspectiva de missão nacional, receber no seu território o lixo e os resíduos perigosos que ninguém queria à porta. Aquilo que era uma promessa em 2019, a conclusão do IC3 com nova travessia do Tejo e ligação ao nó da A23, com a retirada do tráfego de transporte de produtos perigosos da estrada que atravessa a vila (e também Alpiarça ou Almeirim) e o descongestionamento da velhinha “ponte da Chamusca”, como é conhecida, fica mais uma vez adiado para as calendas.
Santarém pugna pelo desvio da linha do Norte, querendo retirá-la do seu percurso ribeirinho e trazendo-a para mais perto da cidade (acabando, é certo, com a visão de uma das mais fascinantes paisagens portugueses), ao mesmo tempo que protesta porque a linha de alta velocidade, que se anuncia mais uma vez, esquece a velha Scalabis e "volta costas ao distrito". Os municípios da chamada Lezíria puxam os cabelos e atiram-se ao chão, dizendo-se desprezados pelo Governo.
Os comunistas, pela voz da sua estrutura distrital, acham que o distrito exige uma mão cheia de projectos que não cabem naquilo que foi contemplado este ano no Plano Nacional de Investimentos (a conclusão do IC3 entre Atalaia e Almeirim, as novas travessias do Tejo na Chamusca e Constância, a travessia do Vale do Sorraia em Coruche, a modernização da Linha do Norte entre Vale de Santarém e Entroncamento com a variante em Santarém e a modernização da Estação do Entroncamento), enquanto PSD afina pelo mesmo diapasão (acha um erro grosseiro a não conclusão do IC3 e a travessia entre Chamusca e Golegã, e a alta velocidade Lisboa-Porto passar ao lado do distrito).
Os socialistas do distrito, não podendo demarcar-se do Governo que apoiam, são entusiastas das medidas previstas, lembrando timidamente e esquecendo outras que, quando o PS estava na oposição, defendiam com unhas e dentes.
Constância não está convencida da excelência da localização da nova travessia do Tejo, que por sua vez faz as delícias de Abrantes: os abrantinos, com uma presença directa no Governo, querem e dizem que o local para a ligação rodoviária da A23 ao IC9 e IC13 é entre Abrantes e Ponte de Sor, incluindo uma nova ponte sobre o Tejo, a ligar ao Alentejo, que tem de ser entre Rio de Moinhos e Abrantes, enquanto os da antiga Punhete querem-na mais abaixo, junto a Santa Margarida, afirmando que uma única nova ponte sobre o Tejo pode resolver-se o problema de três municípios, Constância, Abrantes e Chamusca.
Baralhando, os autarcas preocupam-se basicamente com quem entra no Ribatejo pelo Sorraia, com quem passa pelo distrito a caminho de Lisboa e Porto e com quem atravessa o norte do distrito entre o litoral e o norte-alentejano. Curiosamente, nem uma palavra consistente sobre o que os une a todos: de Abrantes a Vila Franca, o maior rio da Península Ibérica, talvez o recurso de mais elevado potencial do país, é como se não existisse.
Reclamam, que o distrito está partido em duas CCDR e que devia ter um plano integrado de desenvolvimento com o Oeste, juntando a Lezíria, o Médio Tejo e Oeste numa região-plano, mas continuam a alimentar a panelinha dos negócios de circunstância, acorrendo a legitimar a farsa que foi a eleição dos presidentes da “regiões”. Isto é, quando podiam ter falado grosso, acobardaram-se e participaram no teatro.
E não se lembraram, ao menos, de se juntarem numa qualquer praia aqui perto, durante o verão, para tentar um consenso mínimo de intenções a enviar ao Governo antes das definições do PNI. Cada um calou-se bem calado, mandando recados, movendo influências, esperando as sobras do bodo. Aí estão elas.
O Ribatejo e o distrito não podem ter tudo o que decorre das visões místicas dos seus autarcas. Não pode haver universidades, aeroportos ou TGV espalhados por todo o país. Aliás, já existem politécnicos a mais (porque não há nem haverá alunos que os queiram em tanta quantidade), não se percebe porque não se deixa cair o segundo aeroporto e ninguém entende o que o país ganha com o encurtar da viagem Lisboa/Porto em meia hora.
O distrito de Santarém, o Ribatejo genericamente (na sua versão mínima) mereciam mais tino por parte dos seus autarcas. Tendo eles alguma legitimidade política, integrando duas CIM que congregam, no essencial, o antigo distrito, juntando-se eles para tanta e mais alguma coisa, não se lembraram de fazer duas ou três reuniões para desenharem um acordo sólido, coerente e efectivamente tendente à coesão territorial da região? J.C.L.
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