Informações desencontradas ou tácticas elementares de contra-informação: na concelhia socialista torrejana, a questão do candidato do PS à câmara foi aflorada. Ou nem por isso, conforme as versões. Como é costume, já se fala de alegadas sondagens, nada favoráveis à actual maioria.

Vejamos: reunida no passado dia 12 de Setembro, a comissão concelhia de Torres Novas do Partido Socialista teria manifestado o seu apoio à recandidatura do actual presidente à câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira - foi esta a versão avançada inicialmente pelo JT com base em declarações de fonte da concelhia, que garantiu ter sido esse apoio reiterado “de uma forma bem expressiva”. Mas uma outra versão, posteriormente colhida pelo JT, também de fonte da concelhia socialista, diria que o assunto não foi debatido "nem houve qualquer manifestação de apoio à recandidatura do actual presidente". "Nem apoio, nem desapoio", comentava a mesma fonte. Os dados estavam lançados.

Os desenvolvimentos do assunto levaram-nos a pedir esclarecimentos ao presidente da concelhia, António Rodrigues, que em declarações ao JT foi lacónico: "O assunto não foi debatido na reunião, não fazia parte da ordem de trabalhos e não foi falado. Quanto ao resto, só posso adiantar que não há ainda nenhuma candidatura à câmara aprovada pelo partido, já que o candidato indicado terá de ser votado pela concelhia, por voto secreto, e nem sequer está ainda prevista a data em que essa votação será realizada". Instado a pronunciar-se sobre se está ainda na corrida para uma candidatura, Rodrigues não quis comentar o assunto.

A carta da Catarina
O assunto fora espoletado, recorde-se, por uma notícia do Público que, citando fontes da comissão permanente do PS, referia a câmara de Torres Novas como uma das que a direcção nacional socialista via com preocupação nas autárquicas de 2017. A notícia, a que o JT deu desenvolvimento mais circunstanciado, teve uma enorme impacto no seio das hostes socialistas locais, que viam na praça pública os receios do partido face ao que se estava a passar em Torres Novas. E logo correram pela cidade rumores sobre alegadas sondagens nada favoráveis à actual maioria socialista, que de resto já eram faladas desde meados de Agosto em meios do PSD local, indicando a perda da maioria absoluta para o PS com Pedro Ferreira à frente da lista e a vitória de Rodrigues, como independente, sobre o actual presidente câmara, caso se defrontassem nas eleições do próximo Outono.

Entretanto, recorde-se, a comissão permanente do PS, para colmatar a fuga de informação para o jornal da SONAE, faz distribuir uma carta aos presidentes das câmaras de Torres Novas e da Golegã (concelho que também tinha sido considerado “problemático” segundo a notícia do Público), subscrita pela secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, dizendo que a notícia do Público de da autoria de Margarida Gomes, “contém um lapso” e informa que há meses foram aprovados no Congresso Nacional e na Comissão Permanente do PS os critérios subjacentes às candidaturas autárquicas: “Serão candidatos todos os Presidentes de Câmara em funções que queiram e que sobre eles não recaia nenhum impedimento ético-jurídico”, posição que é, de resto, há muito conhecida. A carta, dirigida a Pedro Ferreira e Rui Medinas, diz que a signatária, Ana Catarina Mendes, secretária-geral-adjunta, “reitera a confiança do Partido Socialista no trabalho que tem desempenhado” cada um dos autarcas.

No entanto, a carta não negava o conteúdo da notícia do Público, de que o PS considera ser Torres Novas um dos casos complicados das próximas autárquicas, até porque em nenhum passo da notícia, e também daquela que foi publicada pelo JT, se dizia que Pedro Ferreira seria ou não ou não o candidato do PS. Recorde-se que ambas as notícias faziam referência ao facto de o PS avaliar com preocupação a situação de Torres Novas face às autárquicas de 2017, com o JT a referir o ambiente de crispação interna que se vive em Torres Novas desde a “dissidência” de António Rodrigues.

A carta, na verdade, veicula apenas uma posição de princípio do PS tomada há meses para evitar aventurerismos locais e fugas à orientação partidária geral, mas segundo as normas socialistas a direcção pode avocar um decisão sobre candidatos e candidaturas independentemente da decisão das concelhias, que todavia têm de escolher formalmente os candidatos em eleição por voto secreto. E é isso que ainda não foi feito em Torres Novas.