Candidata-se para vencer, não esconde, mas admite que não há vitórias antecipadas. Não concorre contra ninguém, apenas por amor a Torres Novas: “O movimento P’la Nossa Terra nasceu antes das autárquicas de 2017. Nunca imaginei que permanecesse até agora. Limitamo-nos a criticar acções e factos. Não criticamos pessoas. Não nos candidatamos contra ninguém, concorremos por e com Torres Novas”, começou António Rodrigues a sua intervenção de formalização da candidatura à Câmara Municipal de Torres Novas.

Uma sede aprimorada, de quem mostra que não chegou para brincar, foi inaugurada na terça-feira, dia 4 de Maio, dia em que apresentou a sua candidatura ao cargo que ocupou durante mais de vinte anos. Os cabelos brancos e anos de experiência separam o momento em que se apresentou em 1993 e o actual, depois de um interregno de oito anos, patrocinados pela lei de limitação de mandatos. Foi com a emoção de quem nunca pensou voltar à corrida, que assumiu: “Sou candidato à Câmara Municipal de Torres Novas”. O porquê, explicou também: “Gosto muito da minha terra e sinto que é um dever cívico recandidatar-me. Tenho a liberdade que o 25 de Abril me deu para o fazer e além disso sinto que posso e devo fazer mais pelo meu concelho. É preciso fazer mais. Tem-se feito muito pouco”, criticou.

Depois de mais de vinte anos a representar o Partido Socialista, António Rodrigues candidata-se agora como independente. Orgulha-se de ser a primeira candiadatura independente desde o 25 de Abril. No entanto, diz-se bem com o partido e assume mesmo que continua militante socialista.

Ainda sem apresentar equipas ou programa, adiantou no entanto alguns dos pilares que deverão reger a sua actuação, caso seja eleito de novo presidente da Câmara Municipal de Torres Novas: “Primeiro queremos criar condições para captar investimento nacional e internacional para o concelho. Como? É fácil, basta ver como os outros concelhos o estão a fazer. Faremos a ligação do nó da A23 à Zona Industrial (ZI) de Riachos e uniremos as ZI de Riachos e Torres Novas. Temos de apostar na intermunicipalidade com os concelhos vizinhos de Entroncamento, Alcanena e Golegã. O segundo pilar do nosso projecto passará por dinamizar o Rio Almonda como estrutura integradora do turismo. As margens serão alvo de intervenção, criando zonas pedonais, passadiços, ciclovias. Nos primeiros dois anos, faremos as piscinas de Verão.

Por último, devolveremos a vida ao centro histórico, que tanto merece. Tornaremos o centro de Torres Novas num centro ao estilo de Óbidos”.
O pontapé está dado. Rodrigues apresenta-se assim como o primeiro candidato a abrir as portas da sua sede à imprensa. Com ele, um conjunto de caras mais conhecidas que outras, mas na sua maioria afastadas da vida política que temos acompanhado até ao momento.

O combate mais difícil

Em 1993, António Rodrigues andava na órbita do PSD, ele que até tinha sido inscrito no partido mas sem militância reconhecida. Não foi de estranhar que tenha recebido um convite para engrossar a lista do PSD à Câmara, na que seria a recandidatura de Arnaldo Santos, que havia ganho em 1989.

Jovem, dotado de uma crescente notoriedade por causa dos programas na rádio local, bastante ouvida na altura, mas sobretudo pela sua acção à frente dos destinos dos “amarelos”, levando o clube a reviver glórias passadas, António Rodrigues foi-se fazendo caro ao cerco do PSD, não admitindo ficar na lista em segundo lugar, enquanto o PS lhe cantava a canção do bandido, cansado de 12 anos de derrotas e a ver ali a hipótese de arredar o PSD da Câmara.

Alinharam-se apoios, alguns deles determinantes naquele tempo (caso de José Maria Zuzarte Reis) e eis António Rodrigues a fazer o manguito ao PSD e a surgir, impante, à frente da lista socialista.

A coisa foi renhida, como se sabe. Um empate técnico: Rodrigues venceu Arnaldo Santos por 70 votos num universo de 35 mil eleitores. Mas a vitória em cima da mete beneficiou de uma dádiva caída dos céus: à boca das urnas, a UDP, que averbava algumas centenas de votos, anunciou a sua desistência, com António Gomesa apelar ao voto no PS para derrubar o PSD. Daí a quatro anos, Rodrigues inaugurou um ciclo de maiorias absolutas abençoadas pela chuva dos milhões, que ele soube aproveitar com esperteza (ele própria a admitia) para realizar um conjunto de obras públicas que Torres Novas nunca tinha visto nem verá facilmente.

Em 2013, passados 20 anos, com algum desgaste e demasiados anti-corpos gerados por uma gestão a certa altura esgotada, Rodrigues e Pedro Ferreira (seu ajudante de campo durante duas décadas) fizeram uma combinação: Ferreira fazia o mandato de intervalo que a lei obrigava e Rodrigues regressava. Só que, em 2017, Pedro Ferreira tinha tomado o gosto de se sentar no BMW e fez-lhe um toma. Queria mais. E o PS de Lisboa acertou que fosse ele o candidato, decisão secundada pela concelhia torrejana.

Depois de várias hesitações, aí está Rodrigues a disputar uma partida que promete ser politicamente interessante. Se um, Rodrigues, esteve lá 20 anos, o outro, Ferreira, está lá quase há 30. É muito tempo. E muito terão a dizer aos torrejanos, certamente.