A campanha eleitoral do Partido Socialista em Torres Novas está a ser marcada por métodos nunca vistos, indo ao ponto de publicitar, em outdoors gigantes, obras fantasmas que nunca viram a luz do dia, ao mesmo tempo que se divulgam os milhões de investimento nas referidas obras.

Num dos casos, as obras da escola secundária Maria Lamas, que nem sequer começaram nem se sabe quando começam, são dadas como concluídas e com um investimento de mais de um milhão e meio de euros. A situação causou grande perplexidade e alguma indignação entre professores daquele estabelecimento de ensino. Outra delas, anunciada no mesmo outdoor, é a remodelação do Centro Escolar de Santa Maria, um investimento de mais de dois milhões e meio de euros: a empreitada ainda mal começou, mas a obra é dada como concluída. De qualquer modo, a serem alguma vez iniciadas ou concluídas, conforme o caso, a quase totalidade do investimento anunciado é da administração central e de fundos comunitários e não da câmara, como se parece querer dar a entender.

As obras da Escola Manuel de Figueiredo e do Centro Escolar de São Gião, que surgem também nos outdoors, foram pagas igualmente por fundos extra-municipais, mas aparecem como investimentos por baixo do logotipo do Partido Socialista. Os milhões do investimento nessas duas obras, lançadas ainda no mandato de António Rodrigues, vieram da administração central e de fundos comunitários, tendo cabido ao município, apenas, a sua administração.

Outro dos outdoors anuncia em números garrafais, e também por baixo do símbolo do PS,  500 mil euros de investimento na ampliação do Centro de Saúde de Torres Novas, omitindo mais uma vez que o financiamento é da administração central e fundos comunitários, cabendo ao município uma participação insignificante. Mas a conclusão desta obra, tal como muitas das anunciadas, ainda é uma miragem. A oposição interroga-se também do propangandeado investimento de 17 milhões de euros neste mandato, quando se sabe que não foi realizada nenhuma obra que não tivesse sido lançada no mandato anterior.

A oposição já reagiu aos acontecimentos. Para João Quaresma, candidato do PSD, "é o executivo PS na senda da política do vale tudo. Como sabemos, a propaganda eleitoral envolve as acções de natureza política e publicitárias desenvolvidas pelos candidatos, seus apoiantes e mandatários ou representantes, destinadas a influir sobre os eleitores, de modo a obter a sua adesão às candidaturas e, em consequência, a conquistar o seu voto". O candidato social-democrata recorda que decorre da lei que nem tudo é possível nas campanhas eleitorais e que o executivo PS já foi, no decurso da pré campanha para as autárquicas, notificado para retirar a publicidade instituicional que colocou no âmbito das projectadas obras ao abrigo do PEDU. "Vem agora com uma nova leva de outdoors de campanha divulgando mensagens de teor institucional que consubstanciam publicidade institucional encapotada, pois promovem actos, programas, obras ou serviços, que apenas visam enganar a população e os eleitores. E, mais grave, adulterando a verdade", remata Quaresma, para quem o episódio retrata  "a política do desespero, política sem vergonha do PS em Torres Novas".

A candidata do Bloco de Esquerda, Helena Pinto, também já reagiu. Mais parca em palavras, mas igualmente assertiva na condenação da manobra socialista, disse ao JT: "É gravíssimo. Estou perplexa. Mentir em campanha é uma grande falta de respeito. E o que mais me espanta é que até agora não vi  o PS e Pedro Ferreira em particular retratarem-se deste lamentável episódio".

Entretanto, o JT sabe que o PSD está a ponderar remeter uma queixa à Comissão Nacional de Eleições, de modo a obrigar a candidatura socialista a retirar os outdoors.