Uma questão de memória?
Opinião » 2018-05-17 » Eduarda Gameiro" Talvez seja egoísmo, mas o ser humano é mesmo assim: profusamente egoísta."
Sempre fui portadora de uma lacuna de grandes dimensões: a memória. E, quando sou confrontada com uma situação em que esta faculdade tem grande importância, e eu me encontro na sua ausência, há sempre quem me relembre:
- ‘’Andas a comer muito queijo!’’.
A verdade é que considero que o meu raciocínio lógico supre esta deficiência com a qual os deuses desejaram presentear-me e, portanto, sou feliz com minha imperfeição.
A questão com que me debato é, no entanto, a universalização desta lacuna: pode-se afirmar que vivemos num mundo que viaja à velocidade da luz, à boleia da tecnologia, e, consequentemente, somos brindados com informação proveniente dos infinitos cantos do mundo (nunca entendi porque é que se diz que o mundo tem cantos). É lógico que o nosso disco rígido não comporta tantos gigabytes de conteúdo e somos obrigados a ignorar, ainda que inconscientemente, alguns dados de menor relevância.
Mas, quais os critérios com que o nosso inconsciente faz uma seleção da informação? Julgo que guarda aquilo que menos nos aflige e flagela, e deita fora todo o material que nos desconforta. E porquê? Se os cinco sentidos recebem diariamente toneladas de dados, seria impensável prestar atenção e desvendar todos os pormenores de situações desagradáveis com as quais teríamos de ter compaixão e que poderiam, inerentemente, aleijar o nosso bem estar emocional: trata-se de uma boa manutenção da nossa felicidade. Talvez seja egoísmo, mas o ser humano é mesmo assim: profusamente egoísta.
O problema desta universalização é a tendência para negligenciar os contextos de dado acontecimento e para julgá-lo, naturalmente, com base em memórias recentes e não representativas da realidade.
Penso que este solo é adequado ao florescimento do populismo, que se nutre da memória seletiva da maioria dos recetores e executa, quase sem obstáculos, os seus objetivos, dando ensejo ao crescimento de frutos putrefactos e cujo consumo tem consequências nefastas.
Cabe-nos a nós, enquanto indivíduos conscientes e racionais, pugnar por juízos de valor mais assertivos e que tenham por sustento a maior quantidade de juízos de facto possível.
Com bons pilares se construirá uma casa mais estável e mais sólida.
Uma questão de memória?
Opinião » 2018-05-17 » Eduarda GameiroTalvez seja egoísmo, mas o ser humano é mesmo assim: profusamente egoísta.
Sempre fui portadora de uma lacuna de grandes dimensões: a memória. E, quando sou confrontada com uma situação em que esta faculdade tem grande importância, e eu me encontro na sua ausência, há sempre quem me relembre:
- ‘’Andas a comer muito queijo!’’.
A verdade é que considero que o meu raciocínio lógico supre esta deficiência com a qual os deuses desejaram presentear-me e, portanto, sou feliz com minha imperfeição.
A questão com que me debato é, no entanto, a universalização desta lacuna: pode-se afirmar que vivemos num mundo que viaja à velocidade da luz, à boleia da tecnologia, e, consequentemente, somos brindados com informação proveniente dos infinitos cantos do mundo (nunca entendi porque é que se diz que o mundo tem cantos). É lógico que o nosso disco rígido não comporta tantos gigabytes de conteúdo e somos obrigados a ignorar, ainda que inconscientemente, alguns dados de menor relevância.
Mas, quais os critérios com que o nosso inconsciente faz uma seleção da informação? Julgo que guarda aquilo que menos nos aflige e flagela, e deita fora todo o material que nos desconforta. E porquê? Se os cinco sentidos recebem diariamente toneladas de dados, seria impensável prestar atenção e desvendar todos os pormenores de situações desagradáveis com as quais teríamos de ter compaixão e que poderiam, inerentemente, aleijar o nosso bem estar emocional: trata-se de uma boa manutenção da nossa felicidade. Talvez seja egoísmo, mas o ser humano é mesmo assim: profusamente egoísta.
O problema desta universalização é a tendência para negligenciar os contextos de dado acontecimento e para julgá-lo, naturalmente, com base em memórias recentes e não representativas da realidade.
Penso que este solo é adequado ao florescimento do populismo, que se nutre da memória seletiva da maioria dos recetores e executa, quase sem obstáculos, os seus objetivos, dando ensejo ao crescimento de frutos putrefactos e cujo consumo tem consequências nefastas.
Cabe-nos a nós, enquanto indivíduos conscientes e racionais, pugnar por juízos de valor mais assertivos e que tenham por sustento a maior quantidade de juízos de facto possível.
Com bons pilares se construirá uma casa mais estável e mais sólida.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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