A questão central da política - jorge carreira maia
Opinião » 2022-02-20 » Jorge Carreira Maia
Um dos aspectos centrais da última campanha eleitoral foi o crescimento económico. O Professor Viriato Soromenho Marques, em conferência na Academia de Ciências de Lisboa, sublinha o facto dizendo: “Chegou a ser escandaloso, o conceito de crescimento ocupou o palco como se estivéssemos no século XIX”. No Público de 11 de Fevereiro, António Guerreiro chama a atenção para a grande denegação em que as pessoas e as elites políticas vivem em relação ao gravíssimo problema das alterações climáticas de origem humana. Enquanto um terrível desastre se apresta para chegar, onde a sobrevivência da espécie está em jogo, as pessoas – e os políticos, em primeiro lugar – estão surdas aos avisos e cegas aos sinais que apontam para a catástrofe.
O que motivará a cegueira e a surdez tanto dos cidadãos como dos responsáveis políticos? Há, claro, razões económicas, socias e psicológicas, as quais, por norma, são arroladas como causa da incapacidade em lidar com a ameaça. Contudo, o problema tem uma natureza política e reside no esquecimento daquilo que nos torna animais políticos e, consequentemente, aquilo que a política deve, antes de tudo, cuidar. O que está em jogo na política, como sublinhou Hannah Arendt na leitura que fez dos gregos, é a imortalidade da espécie humana. Não se trata de uma imortalidade metafísica, mas da prosaica persistência da espécie ao cimo deste planeta. A política existe, em primeiro lugar, porque a espécie humana está, continuamente, em vias de extinção. A política é o antídoto a essa ameaça.
A modernidade, a partir de certa altura, esqueceu essa função originária da política. Embrenhou-se nos debates entre liberdade e igualdade, entre tradição e inovação, entre conservar e progredir. Tudo querelas interessantes, mas que não tocam no problema com que a espécie, neste momento, se confronta: como assegurar a sua imortalidade, isto é, a sua persistência na Terra, agora que, mais que nunca, somos, por culpa própria, uma espécie em vias de extinção? Ora, recentrar a política na questão fundamental é, nos tempos que correm, uma tarefa de Hércules. Como poderemos admitir que, para sobrevivermos enquanto espécie, teremos de nos tornar drasticamente mais pobres, eliminar muitos dos nossos prazeres, compreender que a natureza não é um armazém à nossa disposição? Aqui enfrentamos o maior dos perigos, pois ninguém com um programa adequado à realidade, prometendo empobrecimento e frugalidade, consegue ganhar eleições, e, mergulhados no esquecimento da função originária da política, não se vislumbra tratamento para a surdez e para a cegueira que nos atingem.
A questão central da política - jorge carreira maia
Opinião » 2022-02-20 » Jorge Carreira MaiaUm dos aspectos centrais da última campanha eleitoral foi o crescimento económico. O Professor Viriato Soromenho Marques, em conferência na Academia de Ciências de Lisboa, sublinha o facto dizendo: “Chegou a ser escandaloso, o conceito de crescimento ocupou o palco como se estivéssemos no século XIX”. No Público de 11 de Fevereiro, António Guerreiro chama a atenção para a grande denegação em que as pessoas e as elites políticas vivem em relação ao gravíssimo problema das alterações climáticas de origem humana. Enquanto um terrível desastre se apresta para chegar, onde a sobrevivência da espécie está em jogo, as pessoas – e os políticos, em primeiro lugar – estão surdas aos avisos e cegas aos sinais que apontam para a catástrofe.
O que motivará a cegueira e a surdez tanto dos cidadãos como dos responsáveis políticos? Há, claro, razões económicas, socias e psicológicas, as quais, por norma, são arroladas como causa da incapacidade em lidar com a ameaça. Contudo, o problema tem uma natureza política e reside no esquecimento daquilo que nos torna animais políticos e, consequentemente, aquilo que a política deve, antes de tudo, cuidar. O que está em jogo na política, como sublinhou Hannah Arendt na leitura que fez dos gregos, é a imortalidade da espécie humana. Não se trata de uma imortalidade metafísica, mas da prosaica persistência da espécie ao cimo deste planeta. A política existe, em primeiro lugar, porque a espécie humana está, continuamente, em vias de extinção. A política é o antídoto a essa ameaça.
A modernidade, a partir de certa altura, esqueceu essa função originária da política. Embrenhou-se nos debates entre liberdade e igualdade, entre tradição e inovação, entre conservar e progredir. Tudo querelas interessantes, mas que não tocam no problema com que a espécie, neste momento, se confronta: como assegurar a sua imortalidade, isto é, a sua persistência na Terra, agora que, mais que nunca, somos, por culpa própria, uma espécie em vias de extinção? Ora, recentrar a política na questão fundamental é, nos tempos que correm, uma tarefa de Hércules. Como poderemos admitir que, para sobrevivermos enquanto espécie, teremos de nos tornar drasticamente mais pobres, eliminar muitos dos nossos prazeres, compreender que a natureza não é um armazém à nossa disposição? Aqui enfrentamos o maior dos perigos, pois ninguém com um programa adequado à realidade, prometendo empobrecimento e frugalidade, consegue ganhar eleições, e, mergulhados no esquecimento da função originária da política, não se vislumbra tratamento para a surdez e para a cegueira que nos atingem.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
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» 2024-03-18
» Hélder Dias
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» Jorge Carreira Maia
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» 2024-03-08
» Pedro Ferreira
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