Joseph de Maistre
"A obra de Maistre encontra-se em fase de reavaliação crítica, pois algumas das suas posições são hoje partilhadas por um espectro político que não se concentra apenas na direita."
Agora que uma certa direita política está a chegar ao poder é altura de olhar para o seu longínquo fundamento. Joseph de Maistre (1753-1821) – juntamente com Louis de Bonnald, Edmund Burke e Giambattista Vico – está na sua origem. É o mais brilhante inimigo da Revolução Francesa, à qual dedica uma parte considerável da sua reflexão política e filosófica. Súbdito do rei da Sardenha, de Maistre, um saboiano, declarou-se, desde o início, um irredutível adversário tanto das práticas revolucionárias como da ideologia iluminista que lhes dava forma. Via na Revolução Francesa um grande acontecimento de ordem metafísica, uma espécie de punição divina à elite aristocrática francesa por ter alimentado ela própria aquilo – o Iluminismo – que a haveria de liquidar.
Entre as suas posições mais marcantes está a supremacia do corpo político – a sociedade e a autoridade – relativamente ao indivíduo. Politicamente, é antiliberal. A autoridade do Estado, fundada na violência, de que o carrasco é o símbolo e o executor, é central no seu pensamento. Defende o Antigo Regime, a monarquia absoluta, a Igreja Católica e o papado. Argumenta a favor da não separação entre a Igreja e o Estado e da teocracia. É um adversário do contratualismo – a ideia de que a comunidade política é o resultado de um contrato social – e elabora uma crítica feroz às constituições escritas provenientes da Revolução Francesa. A ordem política e as leis constitucionais não são o resultado da vontade dos homens, mas o fruto da acção da Providência na História.
O curioso é que este reaccionário empedernido, este defensor da Inquisição espanhola, era um homem pacífico, afável, cordato, com grande poder de sedução, tendo feito, enquanto embaixador do Rei da Sardenha na corte do Czar, uma série de conversões ao catolicismo, entre as damas da aristocracia russa. Escreve um francês de grande elaboração estética. É famosa, pela qualidade literária, a sua descrição da figura do carrasco em Les Soirées de Saint-Pétersbourg. Embora não tenha sido romancista nem poeta, Joseph de Maistre é um dos pais do romantismo francês. Isaiah Berlin viu-o como o predecessor do fascismo. Baudelaire considerava-o um mestre e Cioran é um seu leitor atento. A obra de Maistre encontra-se em fase de reavaliação crítica, pois algumas das suas posições são hoje partilhadas por um espectro político que não se concentra apenas na direita. Uma leitura indispensável, por muito que se discorde com o que é dito, tanto pelo prazer estético que proporciona como para compreender a origem e o fundamento do pensamento político da direita, dessa que está a chegar.
Joseph de Maistre
A obra de Maistre encontra-se em fase de reavaliação crítica, pois algumas das suas posições são hoje partilhadas por um espectro político que não se concentra apenas na direita.
Agora que uma certa direita política está a chegar ao poder é altura de olhar para o seu longínquo fundamento. Joseph de Maistre (1753-1821) – juntamente com Louis de Bonnald, Edmund Burke e Giambattista Vico – está na sua origem. É o mais brilhante inimigo da Revolução Francesa, à qual dedica uma parte considerável da sua reflexão política e filosófica. Súbdito do rei da Sardenha, de Maistre, um saboiano, declarou-se, desde o início, um irredutível adversário tanto das práticas revolucionárias como da ideologia iluminista que lhes dava forma. Via na Revolução Francesa um grande acontecimento de ordem metafísica, uma espécie de punição divina à elite aristocrática francesa por ter alimentado ela própria aquilo – o Iluminismo – que a haveria de liquidar.
Entre as suas posições mais marcantes está a supremacia do corpo político – a sociedade e a autoridade – relativamente ao indivíduo. Politicamente, é antiliberal. A autoridade do Estado, fundada na violência, de que o carrasco é o símbolo e o executor, é central no seu pensamento. Defende o Antigo Regime, a monarquia absoluta, a Igreja Católica e o papado. Argumenta a favor da não separação entre a Igreja e o Estado e da teocracia. É um adversário do contratualismo – a ideia de que a comunidade política é o resultado de um contrato social – e elabora uma crítica feroz às constituições escritas provenientes da Revolução Francesa. A ordem política e as leis constitucionais não são o resultado da vontade dos homens, mas o fruto da acção da Providência na História.
O curioso é que este reaccionário empedernido, este defensor da Inquisição espanhola, era um homem pacífico, afável, cordato, com grande poder de sedução, tendo feito, enquanto embaixador do Rei da Sardenha na corte do Czar, uma série de conversões ao catolicismo, entre as damas da aristocracia russa. Escreve um francês de grande elaboração estética. É famosa, pela qualidade literária, a sua descrição da figura do carrasco em Les Soirées de Saint-Pétersbourg. Embora não tenha sido romancista nem poeta, Joseph de Maistre é um dos pais do romantismo francês. Isaiah Berlin viu-o como o predecessor do fascismo. Baudelaire considerava-o um mestre e Cioran é um seu leitor atento. A obra de Maistre encontra-se em fase de reavaliação crítica, pois algumas das suas posições são hoje partilhadas por um espectro político que não se concentra apenas na direita. Uma leitura indispensável, por muito que se discorde com o que é dito, tanto pelo prazer estético que proporciona como para compreender a origem e o fundamento do pensamento político da direita, dessa que está a chegar.
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