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Saber para quê?

Opinião  »  2016-02-03  »  Maria Augusta Torcato

"DO RIO E DAS MARGENS"

Para saber, claro! Há alguma dúvida?!

Às vezes, apetece-me ser como Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, que afirmava que se ria do que os homens pensavam sobre as coisas, porque sobre as coisas não havia nada para pensar. As coisas são o que são e não o que pensamos delas. Pensar sobre elas parece deturpar-lhes o verdadeiro sentido, as coisas deixam de ser o que são para serem as representações que criamos acerca delas. E as nossas representações, os nossos conceitos, as ideias que formulamos e construímos sobre as coisas não passam de mentiras. E as mentiras não estão nas coisas, mas em nós. Porém, na prática, sabemos que tudo isto é discutível.

Voltando, então, ao que, aparentemente, me leva a dissertar sobre Caeiro, tenho de dizer que me rio, mas com um riso “amarelo”, não com a simplicidade de um regato que bate numa pedra, quando tanta gente anda por aí a confrontar-se com dilemas tão profundos acerca do Saber. Afinal, são precisos exames, para dar sentido e razão de ser ao Saber? Afinal, são precisas motivações extrínsecas, exteriores a nós, até quanto mais afastadas, parece que melhor, para se dar sentido ao Saber? Saber para Saber não basta? Não é suficiente? Eu achava que saber para Saber já trazia em si todos os sentidos. Todos os sentidos, os ocultos e os visíveis.

Fico triste, muito triste, como quem pensa, que se considere que o Saber só sirva para se responder a um conjunto de perguntas fechadas, mesmo quando abertas, num exame. Não, o Saber é mais, é muito mais do que isso. E os que acham que sabem o que é o Saber, os que acham que o Saber é isto, sabem muito pouco, pouquíssimo, perdoem-me a falta de modéstia.

O Saber, o verdadeiro Saber, o bom Saber e o Saber bom, é, essencialmente, determinado por razões intrínsecas, interiores a nós, que fazem com que sintamos algo que nem sei descrever, de tão bom que é Saber. É saber que o Saber nunca está completo, é saber que os exames mais não são do que um pequeníssimo obstáculo, uma prova, no meio das inúmeras provas que a vida nos coloca, quanto ao Saber, um Saber vasto, profundo, complexo, rico, porque não espartilhado e reduzido, para não dizer redutor.

Temo que a nossa Escola e a nossa Sociedade estejam em fase de autodestruição, quando veiculam, para os que as enformam, a necessidade e o imperativo derradeiro de saber para ter bons resultados nos exames X, Y e Z e não para Saber. Para saber Saber.

Haverá alguém que, pensando profundamente (contrariando os conselhos de Caeiro), acreditará que os alunos só aprendem, só podem saber se tiverem de realizar exames? Nada haverá melhor do que fazer um exame de consciência. Então, será que os alunos que até há uns anos atrás só realizavam provas de exame no décimo segundo ano completaram o seu percurso académico sem saberem nada? O facto de terem realizado exames só no final do ensino secundário reduziu-lhes o âmbito do seu Saber? Não creio. A minha experiência diz-me precisamente o contrário. Diz-me que havia um envolvimento, uma entrega e uma participação bem mais atuantes e proficientes na construção das próprias aprendizagens. Aprendia-se, ao longo de cada ano, somando e articulando conhecimentos que não estavam condicionados pelo dito exame naquele dia, daquele mês, daquele ano, mas regulados pela importância do Saber. Era um Saber que fluía ao longo do processo e não um Saber restrito, porque condenado à sua temporalidade.

Tal como um atleta que, numa determinada maratona, desiste porque sentiu uma dor aguda na ilharga, mas não deixa de ser atleta, podendo ser um “bom” atleta, não é um exame que determina o Saber de um aluno. E, infelizmente, quando deixamos que estes momentos pontuais de avaliação determinem os próprios alunos e determinem o modo de operacionalização do processo de saber o Saber, corre-se o risco de nunca se ver o aluno na sua totalidade, corre-se o risco de se verem só fragmentos de conteúdos curriculares, quando o que se deve ver mesmo é o aluno, enquanto pessoa, enquanto gente, que sabe pensar, que sabe correlacionar, que sabe inferir, que sabe escolher e opinar, que assume as suas escolhas e as suas opiniões, no fundo, que sabe o Saber e sabe a função desse Saber. Assim, talvez não restem dúvidas para a necessidade do Saber. Não é apenas para os exames. É para muito mais, muito mais. E, com a consciência desse Saber, venham os exames, venha seja o que for. O Saber é grande.

A sociedade tem de pensar sobre que tipo de homens e mulheres quer que a escola ajude a construir. Por mim, que sempre realizei exames e outras provas, sinceramente, gostaria que a escola ajudasse a construir homens e mulheres que gostassem, amassem o Saber e, nesse sentido o valorizassem. E que tudo fizessem para saber Saber e não apenas saber para realizar o exame. Só o Saber gera Saber. E não imagino o (um) mundo sem Saber. Ou então, que tipo de mundo teremos sem Saber? O Saber vale por si. É isso que todos temos de saber.

 

 

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