Rui Rio faz o seu caminho
Opinião » 2020-01-24 » Jorge Carreira Maia"Rui Rio será liberal na economia, mas não tentará destruir os sindicatos nem o Estado social. Estará mais próximo de Angela Merkel do que de Margaret Thatcher."
Rui Rio tornou a vencer as eleições internas do PSD. Isso terá contrariado muita gente à direita, gente despeitada e ansiosa de que se retorne à política de punição das classes populares imposta por Passos Coelho. Rui Rio representa uma outra vertente do centro-direita. Nele não há ressentimento contra as classes populares, não se ilude com as fantasias dos putativos liberais portugueses e parece conhecer bem a estratificação do nosso tecido social. Tem outras virtudes. É autêntico, diz o que pensa e é capaz de enfrentar os poderes instalados, como se viu no Porto.
Certos sectores da direita – e também na esquerda, claro – acham-no um provinciano e uma personagem a fazer lembrar os tempos do Estado Novo. Será um provinciano, mas também um democrata convicto. Julgo que, apesar dos defeitos e limitações que possui, tem virtudes suficientes para dar um bom primeiro-ministro, que poderá introduzir um conjunto de rupturas importantes para o país, sem esfrangalhar o tecido social e sem devanear com as tontices liberais debitadas pelo grupo que rodeia o jornal Observador. Será liberal na economia, mas não tentará destruir os sindicatos nem o Estado social. Estará mais próximo de Angela Merkel do que de Margaret Thatcher.
Poderá derrotar a esquerda? Neste momento, a tarefa parece impossível. No entanto, a esquerda está mais frágil do que parece. É maioritária, mas não tem um projecto político comum. Mais do que isso, deixou de existir o temor da devastação social que Passos Coelho gerou em toda a esquerda e a uniu. Rui Rio está muito longe de assustar desse modo tanto o BE como o PCP. Por outro lado, a inconsistência, a arrogância e a falta de rumo do actual governo, com uma equipa ministerial fraca, tornar-se-ão, com o passar dos meses, cada vez mais óbvias. Os portugueses começarão a cansar-se de António Costa e a procurar uma alternativa.
Para chegar ao poder, Rui Rio precisa de sorte e de resolver três problemas. O primeiro é a criação de uma alternativa mobilizadora do país, tanto ao nível programático como no das pessoas com que se rodeará. Em segundo lugar, terá de unir o partido, sarar as feridas e curar as fracturas, o que o aroma do poder ajudará. Por fim, terá o problema mais complicado, o de ocupar o terreno da direita social que o estado comatoso do CDS está a deixar em aberto e que pode ser pasto para um partido como o Chega. Apesar da desvalorização que Rio tem feito das reais tendências antidemocráticas e iliberais do partido de André Ventura, seria uma vitória de Pirro ganhar as eleições e depender de gente como essa.
Rui Rio faz o seu caminho
Opinião » 2020-01-24 » Jorge Carreira MaiaRui Rio será liberal na economia, mas não tentará destruir os sindicatos nem o Estado social. Estará mais próximo de Angela Merkel do que de Margaret Thatcher.
Rui Rio tornou a vencer as eleições internas do PSD. Isso terá contrariado muita gente à direita, gente despeitada e ansiosa de que se retorne à política de punição das classes populares imposta por Passos Coelho. Rui Rio representa uma outra vertente do centro-direita. Nele não há ressentimento contra as classes populares, não se ilude com as fantasias dos putativos liberais portugueses e parece conhecer bem a estratificação do nosso tecido social. Tem outras virtudes. É autêntico, diz o que pensa e é capaz de enfrentar os poderes instalados, como se viu no Porto.
Certos sectores da direita – e também na esquerda, claro – acham-no um provinciano e uma personagem a fazer lembrar os tempos do Estado Novo. Será um provinciano, mas também um democrata convicto. Julgo que, apesar dos defeitos e limitações que possui, tem virtudes suficientes para dar um bom primeiro-ministro, que poderá introduzir um conjunto de rupturas importantes para o país, sem esfrangalhar o tecido social e sem devanear com as tontices liberais debitadas pelo grupo que rodeia o jornal Observador. Será liberal na economia, mas não tentará destruir os sindicatos nem o Estado social. Estará mais próximo de Angela Merkel do que de Margaret Thatcher.
Poderá derrotar a esquerda? Neste momento, a tarefa parece impossível. No entanto, a esquerda está mais frágil do que parece. É maioritária, mas não tem um projecto político comum. Mais do que isso, deixou de existir o temor da devastação social que Passos Coelho gerou em toda a esquerda e a uniu. Rui Rio está muito longe de assustar desse modo tanto o BE como o PCP. Por outro lado, a inconsistência, a arrogância e a falta de rumo do actual governo, com uma equipa ministerial fraca, tornar-se-ão, com o passar dos meses, cada vez mais óbvias. Os portugueses começarão a cansar-se de António Costa e a procurar uma alternativa.
Para chegar ao poder, Rui Rio precisa de sorte e de resolver três problemas. O primeiro é a criação de uma alternativa mobilizadora do país, tanto ao nível programático como no das pessoas com que se rodeará. Em segundo lugar, terá de unir o partido, sarar as feridas e curar as fracturas, o que o aroma do poder ajudará. Por fim, terá o problema mais complicado, o de ocupar o terreno da direita social que o estado comatoso do CDS está a deixar em aberto e que pode ser pasto para um partido como o Chega. Apesar da desvalorização que Rio tem feito das reais tendências antidemocráticas e iliberais do partido de André Ventura, seria uma vitória de Pirro ganhar as eleições e depender de gente como essa.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |