Da bazuca à bazooka - jorge carreira maia
Opinião » 2021-03-08 » Jorge Carreira Maia" Ora o alvo do dinheiro da União é, directa ou indirectamente, a economia. A ideia será fazê-la explodir?"
Quando uma palavra utilizada no discurso político como metáfora se torna um lugar comum, devemos desconfiar de que ela não quer dizer rigorosamente nada. A vida social está cheia de palavras que são uma referência ao vazio. Por exemplo, empreendedorismo. De tão utilizada como mezinha para curar os males de que padece a vida económica, chegou ao ponto de não querer dizer absolutamente nada, embora muita gente faça cursos de empreendedorismo, dos quais, por norma, poucos ou nenhuns empreendedores resultam. A metáfora a que me referia é, porém, bazuca. É aplicada aos fundos europeus gigantescos que irão ser mobilizados para enfrentar os danos colaterais da pandemia. Como o empreendedorismo seria a atitude que viria resolver o problema do emprego, a bazuca será a salvação de economias debilitadas pelos confinamentos.
Uma bazuca é uma arma de guerra para fazer explodir alvos inimigos. Ora o alvo do dinheiro da União é, directa ou indirectamente, a economia. A ideia será fazê-la explodir? Imaginemos, todavia, que a bazuca se dirige contra uma recessão económica e a subsequente liturgia da austeridade. Não será a metáfora nem mais elegante nem a com maior poder descritivo. Apesar disso, ela não deixa de fazer salivar muita gente. E é esta salivação que me aborrece. Compreendo que a União Europeia tenha o dever de ter uma estratégia para os seus Estados membros. O sórdido da questão diz respeito à forma como em Portugal há muita gente habituada a viver à custa dos fundos europeus. Estes têm ajudada a disfarçar a nossa pobreza endémica e a bazuca irá, mais uma vez, mascarar essa indigência nacional.
Instalou-se uma cultura de desprezo pelo esforço e pela autonomia do país. Autonomia não significa voltar ao velho soberanismo nacionalista. Significa que através do nosso esforço cuidamos de nós. Os fundos da União Europeia – onde se incluem os da bazuca – deveriam ser entendidos como uma ajuda a que desenvolvêssemos a nossa autonomia, através de um esforço patriótico persistente, que dispensasse a necessidade de mais ajudas. Não parece ser esse o entendimento geral. A ideia parece ser a de vivermos de ajudas crónicas dos outros países. É por isso que a palavra bazuca faz salivar muita gente. São as novas especiarias da Índia, o novo ouro do Brasil. Quando era criança, também havia bazucas, eram umas pastilhas elásticas chamadas precisamente bazooka. Eram óptimas para fazer um balão enorme que rebentava e de lá apenas saía ar. Temo muito que a bazuca europeia, nas mãos nacionais, não passe de uma bazooka.
Da bazuca à bazooka - jorge carreira maia
Opinião » 2021-03-08 » Jorge Carreira MaiaOra o alvo do dinheiro da União é, directa ou indirectamente, a economia. A ideia será fazê-la explodir?
Quando uma palavra utilizada no discurso político como metáfora se torna um lugar comum, devemos desconfiar de que ela não quer dizer rigorosamente nada. A vida social está cheia de palavras que são uma referência ao vazio. Por exemplo, empreendedorismo. De tão utilizada como mezinha para curar os males de que padece a vida económica, chegou ao ponto de não querer dizer absolutamente nada, embora muita gente faça cursos de empreendedorismo, dos quais, por norma, poucos ou nenhuns empreendedores resultam. A metáfora a que me referia é, porém, bazuca. É aplicada aos fundos europeus gigantescos que irão ser mobilizados para enfrentar os danos colaterais da pandemia. Como o empreendedorismo seria a atitude que viria resolver o problema do emprego, a bazuca será a salvação de economias debilitadas pelos confinamentos.
Uma bazuca é uma arma de guerra para fazer explodir alvos inimigos. Ora o alvo do dinheiro da União é, directa ou indirectamente, a economia. A ideia será fazê-la explodir? Imaginemos, todavia, que a bazuca se dirige contra uma recessão económica e a subsequente liturgia da austeridade. Não será a metáfora nem mais elegante nem a com maior poder descritivo. Apesar disso, ela não deixa de fazer salivar muita gente. E é esta salivação que me aborrece. Compreendo que a União Europeia tenha o dever de ter uma estratégia para os seus Estados membros. O sórdido da questão diz respeito à forma como em Portugal há muita gente habituada a viver à custa dos fundos europeus. Estes têm ajudada a disfarçar a nossa pobreza endémica e a bazuca irá, mais uma vez, mascarar essa indigência nacional.
Instalou-se uma cultura de desprezo pelo esforço e pela autonomia do país. Autonomia não significa voltar ao velho soberanismo nacionalista. Significa que através do nosso esforço cuidamos de nós. Os fundos da União Europeia – onde se incluem os da bazuca – deveriam ser entendidos como uma ajuda a que desenvolvêssemos a nossa autonomia, através de um esforço patriótico persistente, que dispensasse a necessidade de mais ajudas. Não parece ser esse o entendimento geral. A ideia parece ser a de vivermos de ajudas crónicas dos outros países. É por isso que a palavra bazuca faz salivar muita gente. São as novas especiarias da Índia, o novo ouro do Brasil. Quando era criança, também havia bazucas, eram umas pastilhas elásticas chamadas precisamente bazooka. Eram óptimas para fazer um balão enorme que rebentava e de lá apenas saía ar. Temo muito que a bazuca europeia, nas mãos nacionais, não passe de uma bazooka.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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