Crónicas de África - Terás tu, para quem te ama:Paz, Amor, Verdade?
Opinião » 2016-06-05 » Ricardo Jorge Rodrigues
Escrevo estas linhas ouvindo na minha cabeça as vozes das inúmeras pessoas que me vão dizendo: “não escrevas sobre política, acontece-te como a espanhola, não te metas nisso”. A espanhola, resumidamente, enfrentou as forças governativas e foi convidada a sair de Moçambique. Não sei grandes contornos do caso por isso não posso fazer julgamentos. Mas o facto de o medo de escrever assombrar tantas pessoas é significativo. Eu gosto de ter uma postura discreta, daí aceitar pacatamente os conselhos. Até que percebi uma coisa: a pior censura é a autocensura. E eu odeio censura. Então escreverei do que me importa escrever, sem que com isso faça julgamentos. Se o preço a pagar será ser expulso de Moçambique? Penso que não sou assim tão importante mas se tiver que ser, saio com a consciência limpa.
O momento político em Moçambique é algo sinistro. Quem contemporizou com os tempos da Guerra Fria poderia sentir aqui algumas semelhanças. Bem sei que o que as televisões transportaram da visita presidencial do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa foi um país alegre que dança a marrabenta em cada esquina e tem as suas crianças a estudar em colégios de primeira categoria. Mas essa não é a realidade em Moçambique.
Sinto, sente-se no ar, um clima de guerra silenciosa. Tenho em mim a sensação de que um passo em falso e a bomba pode rebentar, de vez. O significativo aumento da dívida pública revelado através de negócios pouco claros da empresa pública “Ematum”, os vários empréstimos que o antigo governo moçambicano escondeu do FMI e que levou a que a entidade cortasse o financiamento ao país e a que países europeus (como a Dinamarca, França e o Reino-Unido) se assustassem e fechassem a torneira que alimenta o orçamento de Estado de Moçambique ou as sucessivas descobertas de valas comuns no norte do país fazem soar os alarmes.
Estes problemas económicos fazem desvalorizar o metical perante o euro e o dólar e, consequentemente, aumentar o preço dos bens mais básicos. Isso faz pairar no ar a assombração de mais violência. Nas últimas semanas correram nas redes sociais convocações para manifestações populares que não se concretizaram. Por agora. Mas a agitação foi notória: na rua eram constantes as patrulhas da polícia militar em carros blindados e tornou-se habitual conviver com carros da polícia a passar com as sirenes ligadas “para impor respeito”, dizem. As últimas grandes manifestações em 2010, por causa do aumento do preço do pão, fizeram 10 mortes no primeiro dia.
O povo moçambicano é cordial. É doce, pacífico e merece mais do que sobreviver. Há dias em conversa com um senhor moçambicano, na casa dos seus cinquenta anos, ele confessava-me: “Estamos cansados de guerra. Já brigámos muito tempo. Só queremos paz”. Foram 10 anos de Guerra pela independência e mais 16 anos de guerra civil. Sim, é demasiado tempo. Este povo não merece isso.
Este povo merece paz, amor e verdade. Mas “terás tu, para quem te ama / paz, amor, verdade?”. São esses dois versos do poema Moçambique, de Fátima Negrão, que escolhi para título desta crónica. Porque resumindo anos de guerra, pede um destino feliz e merecido para este povo. Sim Moçambique: mereces paz, amor e verdade. Mereces ser feliz.
Crónicas de África - Terás tu, para quem te ama:Paz, Amor, Verdade?
Opinião » 2016-06-05 » Ricardo Jorge RodriguesEscrevo estas linhas ouvindo na minha cabeça as vozes das inúmeras pessoas que me vão dizendo: “não escrevas sobre política, acontece-te como a espanhola, não te metas nisso”. A espanhola, resumidamente, enfrentou as forças governativas e foi convidada a sair de Moçambique. Não sei grandes contornos do caso por isso não posso fazer julgamentos. Mas o facto de o medo de escrever assombrar tantas pessoas é significativo. Eu gosto de ter uma postura discreta, daí aceitar pacatamente os conselhos. Até que percebi uma coisa: a pior censura é a autocensura. E eu odeio censura. Então escreverei do que me importa escrever, sem que com isso faça julgamentos. Se o preço a pagar será ser expulso de Moçambique? Penso que não sou assim tão importante mas se tiver que ser, saio com a consciência limpa.
O momento político em Moçambique é algo sinistro. Quem contemporizou com os tempos da Guerra Fria poderia sentir aqui algumas semelhanças. Bem sei que o que as televisões transportaram da visita presidencial do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa foi um país alegre que dança a marrabenta em cada esquina e tem as suas crianças a estudar em colégios de primeira categoria. Mas essa não é a realidade em Moçambique.
Sinto, sente-se no ar, um clima de guerra silenciosa. Tenho em mim a sensação de que um passo em falso e a bomba pode rebentar, de vez. O significativo aumento da dívida pública revelado através de negócios pouco claros da empresa pública “Ematum”, os vários empréstimos que o antigo governo moçambicano escondeu do FMI e que levou a que a entidade cortasse o financiamento ao país e a que países europeus (como a Dinamarca, França e o Reino-Unido) se assustassem e fechassem a torneira que alimenta o orçamento de Estado de Moçambique ou as sucessivas descobertas de valas comuns no norte do país fazem soar os alarmes.
Estes problemas económicos fazem desvalorizar o metical perante o euro e o dólar e, consequentemente, aumentar o preço dos bens mais básicos. Isso faz pairar no ar a assombração de mais violência. Nas últimas semanas correram nas redes sociais convocações para manifestações populares que não se concretizaram. Por agora. Mas a agitação foi notória: na rua eram constantes as patrulhas da polícia militar em carros blindados e tornou-se habitual conviver com carros da polícia a passar com as sirenes ligadas “para impor respeito”, dizem. As últimas grandes manifestações em 2010, por causa do aumento do preço do pão, fizeram 10 mortes no primeiro dia.
O povo moçambicano é cordial. É doce, pacífico e merece mais do que sobreviver. Há dias em conversa com um senhor moçambicano, na casa dos seus cinquenta anos, ele confessava-me: “Estamos cansados de guerra. Já brigámos muito tempo. Só queremos paz”. Foram 10 anos de Guerra pela independência e mais 16 anos de guerra civil. Sim, é demasiado tempo. Este povo não merece isso.
Este povo merece paz, amor e verdade. Mas “terás tu, para quem te ama / paz, amor, verdade?”. São esses dois versos do poema Moçambique, de Fátima Negrão, que escolhi para título desta crónica. Porque resumindo anos de guerra, pede um destino feliz e merecido para este povo. Sim Moçambique: mereces paz, amor e verdade. Mereces ser feliz.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
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A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
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