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O MEDO SOCIAL COMO VÍRUS

Opinião  »  2020-04-17  »  José Alves Pereira

"É contra este estado de coisas que os cidadãos têm que se pronunciar, abandonando especulações apocalípticas"

A actual situação, em Portugal obriga-nos a olhar para as suas várias dimensões e consequências, fixando-nos nas que se nos afiguram, de momento, mais relevantes e destas o ambiente criado pela crise e combate à pandemia do COVID-19.

Pode dizer-se que dentro dos meios existentes, apesar dos constrangimentos, não raras vezes empolados por aqueles que tudo têm feito para o enfraquecer, a acção do SNS tem assumido um papel determinante na confiança dos cidadãos. É com ele e por ele, bem como noutras áreas da esfera pública de interesse colectivo, nas dimensões materiais e humanas, que importa defender e aprofundar a intervenção do Estado, resistindo aos cantos de sereia dos que pretendem remeter para a área privada funções essenciais que àquele competem.

Depois de anos e anos a desnatar o aparelho de Estado - sempre demasiado gordo - dos seus recursos essenciais à intervenção na economia e nas finanças, nas infraestruturas básicas, no aparelho produtivo e nas áreas sociais, entregando-o, não raro, à gestão do capital estrangeiro, é de comiseração vê-los hoje a suplicar pelas ajudas do Estado e mesmo pelo seu retorno às alavancas de decisão do país. Não haja ilusões, é fogo de vista que logo se extinguirá passada a crise, que pretendem ser paga pelos trabalhadores, desempregados, pensionistas e todos aqueles que agora foram remetidos para o esconso das dificuldades sociais. Muitos dos constrangimentos que estamos a passar devem-se à dependência económica, depois do abandono de importantes sectores produtivos, seja alimentares ou sanitários, empurrando o país para uma monocultura de serviços, turismo e produtos de consumo importados.

Entretanto, aos portugueses, remetidos para o enclausuramento social, resta-lhe o acesso ao mundo através da televisão, numa explanação informativa repetitiva e monotemática. Notícias e reportagens em que, perseguindo a luta por audiências, impera o alarmismo social e o medo. Títulos garrafais, gráficos e números analisados por especialistas, por vezes mais parecidos com oráculos, num quadro de excitação discursiva feita de insinuações e desconfianças, mergulhando os cidadãos no medo, cepticismo e descrença nas pessoas e instituições. Mesmo quando os sinais apontam algo de positivo e animador, logo vem o comentário que “o pior está para vir”, seguido do “não saia do seu lugar”. É notícia a rua vazia como também o é a barragem policial a cidadãos que na melhor das hipóteses são vistos como irresponsáveis e maus portugueses. Imperam os vídeos das redes sociais dos que sentem chegados o seu minuto de fama, seja para debitar umas graçolas, explicar como se lavam as mãos, se fabricam máscaras, sugerir mezinhas, etc. etc.

Mas algo está a acontecer que não parece merecer realce nem notícia. Enquanto ouvimos tecer loas à resistência, perseverança e bom comportamento dos portugueses, de forma larvar, com o silêncio cúmplice da comunicação social, aumenta a ofensiva impune contra o mundo laboral, através de despedimentos, adiantamento de férias, suspensões, lay offs, etc. Emergem em toda a sua crueza os alçapões permitidos pela legislação laboral, elaborada no conúbio das confederações patronais com o colaboracionismo da UGT, na chamada concertação social, sob o beneplácito dos governos PS/PSD/CDS. Milhares de trabalhadores, grande parte sujeitos a regimes de precariedade, vão engrossando o exército dos desempregados. À boleia do chamado Estado de Emergência, e sem que tal o justifique, condiciona-se a oposição à lei da selva instalada, suspendendo o direito das comissões de trabalhadores e associações sindicais de participar na elaboração das leis do trabalho, condicionando-se o direito de greve, manifestação e resistência.
Os trabalhadores e o movimento sindical unitário são responsáveis e compreendem a actual situação sanitária, pelo que carecem de motivação as limitações impostas. Ou será que se está a preparar o caminho, numa lógica de aceitação, por habituação, para os constrangimentos de uma crise social futura ? Será exagerado associar esta iniciativa à sugestão, dita “patriótica”, lançada pela direita, a que o PR vai dando um comedido alento, de criação de um governo de Salvação Nacional, que outra coisa não seria que o regresso da direita, das suas políticas regressivas e de sustentação dos privilégios de casta ?

Livros e livros sobre as relações humanas nas empresas, resmas de artigos e comentários, que até há pouco, faziam dos trabalhadores - eufemisticamente chamados colaboradores - o verdadeiro activo das empresas, convidando-os a “vestir a sua camisola”, e vemos agora que ao cheiro das primeiras dificuldades, são estes de imediato alijados, passando-os à condição de custos a descartar. Não falo das pequenas empresas, sempre com o síndroma das suas limitações, falo daquelas que, de grandes dimensões, despedem sobre qualquer pretexto, entregando-se ao lay off, mas não deixando de distribuir dividendos entre os seus accionistas.

A reunião do PR com os banqueiros, apelando à sua sensatez e solicitando-lhes ajuda para a resolução dos problemas económicos do país, só pode ser vista como episódio de branqueamento daqueles que ao pedido farão as habituais orelhas moucas. A banca privada, já o vimos há muito, tem como fim primeiro gerar lucros e repartir dividendos entre os seus accionistas e quando dá prejuízos os portugueses pagam. E já lá estão 20 mil milhões de euros !

É contra este estado de coisas que os cidadãos têm que se pronunciar, abandonando especulações apocalípticas, sem orientação nem nexo, esgrimindo contra “moinhos de vento”. Pouco adianta dizer, que depois da pandemia, nada será como dantes, correndo-se o risco de, nada fazendo, a situação ser pior do que antes.

 

 

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