Os novos tempos - jorge carreira maia
Opinião » 2022-10-09 » Jorge Carreira Maia
Não é implausível que daqui a cinco anos, após as presidenciais francesas, todos os países latinos da Europa do Sul sejam governados – pelo menos em coligação – por forças de extrema-direita. Um primeiro passo está dado em Itália. É verdade que, neste país, a presença da extrema-direita no governo não é uma novidade. O primeiro caso deu-se com os pós-fascistas da Alleanza Nazionale, de Gianfranco Fini. Vieram depois outras experiências e, agora, uma coligação do partido de Berlusconi com Salvini, de La Lega, e o novo fenómeno político italiano, Giorgia Meloni, dos Fratelli d’Italia, também um partido pós-fascista. O futuro da coligação, como sempre acontece por aqueles lados, é muito incerto, mas não será impossível que a Itália, nos próximos anos, tenha sempre, de uma forma ou de outra, a extrema-direita no governo.
Na Península Ibéria, as próximas eleições legislativas deverão marcar o momento em que a extrema-direita espanhola, através do Vox, e a portuguesa, através do Chega, alcançam a governação. Já se percebeu duas coisas, tanto lá como cá. Em primeiro lugar, a direita democrática – o Partido Popular (PP), em Espanha, e o PSD, em Portugal – não terá qualquer hipótese de chegar ao poder sozinha. Em segundo lugar, nem o actual PP nem o PSD de Montenegro sentem uma séria repulsa pelo Vox e pelo Chega, aliás, fundados por antigos militantes de um e de outro. Aquilo que os une é mais do que aquilo que os separa. Une-os uma visão liberal da economia e conservadora dos costumes, embora com algumas resistências neste caso tanto no PP como no PSD. Separa-os o verniz, a linguagem e alguns aspectos civilizacionais. Quanto a França, poderá ser impossível, em 2027, travar a senhora Le Pen. Os tempos estão de feição para este tipo de soluções políticas.
Para além da questão dos imigrantes e da presença muçulmana, embora não seja esse o caso português e, em parte, o espanhol, três factores parecem propícios a esta escalada da extrema-direita. O primeiro é a degradação da situação económica, o retorno em força da inflação e o concomitante descontentamento popular, que a esquerda deixou de ser capaz de mobilizar. O segundo é uma mistura de ressentimento social e de incompreensão das transformações ao nível dos costumes. Por fim, o poder de atracção que as soluções autoritárias e iliberais poderão exercer sobre eleitorados à deriva, desejosos de encontrar quem os pastoreie, num mundo complexo, onde a possibilidade de indivíduos e comunidades encontrarem uma vida tranquila e satisfatória está a desaparecer. São os novos tempos, mas nada de novo sob o Sol.
Os novos tempos - jorge carreira maia
Opinião » 2022-10-09 » Jorge Carreira MaiaNão é implausível que daqui a cinco anos, após as presidenciais francesas, todos os países latinos da Europa do Sul sejam governados – pelo menos em coligação – por forças de extrema-direita. Um primeiro passo está dado em Itália. É verdade que, neste país, a presença da extrema-direita no governo não é uma novidade. O primeiro caso deu-se com os pós-fascistas da Alleanza Nazionale, de Gianfranco Fini. Vieram depois outras experiências e, agora, uma coligação do partido de Berlusconi com Salvini, de La Lega, e o novo fenómeno político italiano, Giorgia Meloni, dos Fratelli d’Italia, também um partido pós-fascista. O futuro da coligação, como sempre acontece por aqueles lados, é muito incerto, mas não será impossível que a Itália, nos próximos anos, tenha sempre, de uma forma ou de outra, a extrema-direita no governo.
Na Península Ibéria, as próximas eleições legislativas deverão marcar o momento em que a extrema-direita espanhola, através do Vox, e a portuguesa, através do Chega, alcançam a governação. Já se percebeu duas coisas, tanto lá como cá. Em primeiro lugar, a direita democrática – o Partido Popular (PP), em Espanha, e o PSD, em Portugal – não terá qualquer hipótese de chegar ao poder sozinha. Em segundo lugar, nem o actual PP nem o PSD de Montenegro sentem uma séria repulsa pelo Vox e pelo Chega, aliás, fundados por antigos militantes de um e de outro. Aquilo que os une é mais do que aquilo que os separa. Une-os uma visão liberal da economia e conservadora dos costumes, embora com algumas resistências neste caso tanto no PP como no PSD. Separa-os o verniz, a linguagem e alguns aspectos civilizacionais. Quanto a França, poderá ser impossível, em 2027, travar a senhora Le Pen. Os tempos estão de feição para este tipo de soluções políticas.
Para além da questão dos imigrantes e da presença muçulmana, embora não seja esse o caso português e, em parte, o espanhol, três factores parecem propícios a esta escalada da extrema-direita. O primeiro é a degradação da situação económica, o retorno em força da inflação e o concomitante descontentamento popular, que a esquerda deixou de ser capaz de mobilizar. O segundo é uma mistura de ressentimento social e de incompreensão das transformações ao nível dos costumes. Por fim, o poder de atracção que as soluções autoritárias e iliberais poderão exercer sobre eleitorados à deriva, desejosos de encontrar quem os pastoreie, num mundo complexo, onde a possibilidade de indivíduos e comunidades encontrarem uma vida tranquila e satisfatória está a desaparecer. São os novos tempos, mas nada de novo sob o Sol.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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