Poesia nos posters
Opinião » 2018-09-12 » José Mota Pereira"Pouco a pouco, fui percebendo naqueles posters que a poesia era mais que um conjunto de rimas alinhadas"
Eu não entendia. Nem poderia entender (aos seis, sete, oito anos de idade) o alcance daquelas palavras. Mas havia naqueles dois posters um magnetismo, uma espécie de magia que me prendiam às palavras que deles saltavam para os meus olhos. Pouco a pouco, fui percebendo naqueles posters que a poesia era mais que um conjunto de rimas alinhadas.
Um desses posters, estava afixado na montra da Casa Espanhol. Enquanto olhava para o expositor da montra vertical dos carrinhos de miniatura da loja vizinha, a ECA, não resistia e descobria o “Comum da Terra” que Eugénio de Andrade escreveu para o Companheiro Vasco. Entre os pequenos mercedes e renaults 5 da majorette na montra da ECA, eu lia soletradamente aquelas palavras plantadas nesse poster. Lia-lhes o ritmo e o fôlego, embora não pudesse entender todo o alcance dessahomenagem à construção colectiva de um novo futuro sonhado nesse verão de conquistas onde quase tudo foi possível.
O outro poster estava na entrada da porta da casa dos pais do Álvaro Humberto, meu vizinho, uns anos mais velho, mas onde eu passei muitas tardes com o meu irmão. Subia-se as escadas do prédio e, junto à porta, lá estava, num poster, o “Poema para Galileu” do Antonio Gedeão. Eu não entendia (como poderia entender com aquela idade?) o alcance das palavras simples do poeta, mas que iam tão longe. Imaginava Florença e o que seria esse tribunal da inquisição acusando o velho cientista renascentista de ameaçar as velhas e caducas sabedorias. Enquanto não se abria a porta do nosso amigo Álvaro (filho do José e da Benvinda Ribeiro, desculpem a inconfidência), olhava aquelas palavras, de que não poderia entender senão uma pequena parte, bailando-me pelos olhos e que diante de mim caiam, caiam, caiam..
Talvez isto não interesse muito ao leitor desta crónica. Talvez interesse mesmo quase nada. Fica a confissão escrita que, daqueles poemas, naqueles dois posters, ficou uma marca pessoal forte e expressiva que me faz gostar hoje de ler poesia. Esteja ela numa canção, num livro, ou um poster. Ou num blog pela net. Nessas descobertas iniciais da poesia, poderia também também falar de como outros poemas simples, mas talvez improváveis, me marcaram na infância. Como por exemplo o “Mataram a Tuna”, do Manuel da Fonseca. Sim, esse mesmo, o da fabulosa Marcha Almadanim.
Poesia nos posters
Opinião » 2018-09-12 » José Mota PereiraPouco a pouco, fui percebendo naqueles posters que a poesia era mais que um conjunto de rimas alinhadas
Eu não entendia. Nem poderia entender (aos seis, sete, oito anos de idade) o alcance daquelas palavras. Mas havia naqueles dois posters um magnetismo, uma espécie de magia que me prendiam às palavras que deles saltavam para os meus olhos. Pouco a pouco, fui percebendo naqueles posters que a poesia era mais que um conjunto de rimas alinhadas.
Um desses posters, estava afixado na montra da Casa Espanhol. Enquanto olhava para o expositor da montra vertical dos carrinhos de miniatura da loja vizinha, a ECA, não resistia e descobria o “Comum da Terra” que Eugénio de Andrade escreveu para o Companheiro Vasco. Entre os pequenos mercedes e renaults 5 da majorette na montra da ECA, eu lia soletradamente aquelas palavras plantadas nesse poster. Lia-lhes o ritmo e o fôlego, embora não pudesse entender todo o alcance dessahomenagem à construção colectiva de um novo futuro sonhado nesse verão de conquistas onde quase tudo foi possível.
O outro poster estava na entrada da porta da casa dos pais do Álvaro Humberto, meu vizinho, uns anos mais velho, mas onde eu passei muitas tardes com o meu irmão. Subia-se as escadas do prédio e, junto à porta, lá estava, num poster, o “Poema para Galileu” do Antonio Gedeão. Eu não entendia (como poderia entender com aquela idade?) o alcance das palavras simples do poeta, mas que iam tão longe. Imaginava Florença e o que seria esse tribunal da inquisição acusando o velho cientista renascentista de ameaçar as velhas e caducas sabedorias. Enquanto não se abria a porta do nosso amigo Álvaro (filho do José e da Benvinda Ribeiro, desculpem a inconfidência), olhava aquelas palavras, de que não poderia entender senão uma pequena parte, bailando-me pelos olhos e que diante de mim caiam, caiam, caiam..
Talvez isto não interesse muito ao leitor desta crónica. Talvez interesse mesmo quase nada. Fica a confissão escrita que, daqueles poemas, naqueles dois posters, ficou uma marca pessoal forte e expressiva que me faz gostar hoje de ler poesia. Esteja ela numa canção, num livro, ou um poster. Ou num blog pela net. Nessas descobertas iniciais da poesia, poderia também também falar de como outros poemas simples, mas talvez improváveis, me marcaram na infância. Como por exemplo o “Mataram a Tuna”, do Manuel da Fonseca. Sim, esse mesmo, o da fabulosa Marcha Almadanim.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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