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Torres Novas está lá dentro

Opinião  »  2018-06-06  »  Carlos Tomé

"Torres Novas ainda lhe há-de pedir batatinhas. João Espanhol é muito maior do que as grandes superfícies comerciais"

Casa Espanhol, uma das três lojas mais antigas de Torres Novas, fechou as suas portas no passado dia 30 de Maio. Torres Novas nunca mais será a mesma terra. Com este encerramento encerra-se uma determinada forma de estar na vida, a generosidade e a inteligência de conseguir estar quase 80 anos à frente de um estabelecimento comercial que marcou indelevelmente a vida da cidade.

Amolava facas e tesouras, consertava chapéus-de-chuva, reparava tesouras de poda e de tosquia, mas o João Espanhol sempre foi muito mais do que um amola tesouras. Não usava gaita-de-beiços nem andava pelas ruas de casa em casa ao final da tarde a alertar as necessidades, a cavalo numa bicicleta.

A sua vida de artífice e de cidadão empenhado na participação da vida colectiva da sua terra, interveniente activo no que de mais importante ela tem de geração de amizades, de riqueza de acções e de criação de arte, sempre ultrapassou a de um simples comerciante, sempre saltou aquela imagem feita e estática do homem que estava atrás de um balcão e arranjava fechaduras e chaves e tesouras e desvendava os segredos dos cofres da vida.

O João Espanhol conseguiu moldar a sua cidade à imagem e semelhança da sua casa, fê-la ajoelhar perante si, embevecida pela sua postura simples e pelas suas atitudes genuínas e exemplos claros que lhe transmitia diariamente. Com a sua personalidade solidária, amigo de todos, não olhando a cores partidárias, o João Espanhol e a Casa Espanhol confundiam-se, eram uma só pessoa. Foi essa postura íntegra e popular que conquistou a sua cidade e a vergou aos seus pés.
Torres Novas ainda lhe há-de pedir batatinhas. João Espanhol é muito maior do que as grandes superfícies comerciais que enxameiam todos os cantos da cidade, mais importante que as ruínas que transformam em pó o casco da urbe e reduzem-na a um simulacro de vida, tudo perante a passividade e o assobio para o lado da autarquia que olha para o 30 de Maio com a complacência dos justos, fechando os olhos, escondendo a cabeça na areia e ignorando as suas responsabilidades nesta história toda. João Espanhol tem em si a verticalidade e coerência do hino nacional, da Grândola e do Avante entoados pelo seu vozeirão pondo todos em sentido e a todos tocando e fazendo soar coros espontâneos e improvisados de braço no ar.

Lá dentro está a casa cheia de memórias, referências, opções, pedaços de vida, fotografias da sua veia artística, cumplicidades várias, cânticos, músicas, vivas, punhos no ar. Lá dentro estão as máquinas, as ferramentas, centenas de artefactos usados milhares e milhares de vezes em milhares de gestos repetidos até ao infinito. Artífice da amizade. Lá dentro estão as memórias políticas de um tempo em que as opções eram assumidas de corpo inteiro, custosas, implicando a vida inteira, limitando movimentos mas criando liberdade. O João Espanhol sempre foi razoável, sempre entendeu todas as opções, sempre colocou a amizade num pedestal e as coisas sem importância no caixote do lixo.

É lá dentro que está a vida. Lá dentro também está a vida de Tores Novas. Por isso a Casa Espanhol não pode fechar definitivamente, porque fechando acaba-se com a vida de todos. A memória só pode reviver se alguém a preservar. A memória desta terra está lá dentro. E seremos todos responsáveis se a vida que lá está dentro não for defendida. Se Torres Novas, ela própria, não quiser fechar tem de pedir batatinhas ao João Espanhol e voltar a dar vida à Casa Espanhol.

 

 

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