Equilíbrio entre os pratos da balança: deceção e revolta
Opinião » 2017-01-18 » Maria Augusta Torcato" Tanta gente sem casa; tanta gente em fuga; tanta gente sem o mínimo para sobreviver"
Poder-se-ia pensar em algo positivo, quando se utiliza a palavra equilíbrio, mas, neste momento, o que sinto não se enquadra no campo semântico de “equilíbrio”. Esta ponderação apenas se revela na proporcionalidade entre a deceção e a revolta que me dominam, provocando um grande desequilíbrio interior. A relação é, até, de consequência: a revolta vem na sequência da deceção.
Mais uma vez, tenho tentado cultivar um espírito aberto e crente neste início de ano que, de novo, parece não ter nada. Mas a minha resiliência parece não ser nada resiliente. Mas haverá resiliência que aguente o que se vê e ouve todos os dias? Pertinho de nós, ligeiramente mais longe e longe mesmo. O mundo, estou farta de dizer e farta de escrever e, porventura, alguém farto de ler, está perigoso, muito perigoso.
Mais uma vez, hoje, ao passar os olhos por diferentes suportes informativos li que 8 empresários acumulam em riqueza o mesmo que metade da população pobre mundial, ou seja, o mesmo que têm 3,6 mil milhões de pessoas. 8 para 3600000000. Ora aqui está um enormíssimo desequilíbrio, apesar do “mesmo que…”. Até custa a dizer: 8 ricos têm o mesmo que 3,6 mil milhões de pobres.
Esta vergonha social é a progenitora de todas as vergonhas e de todos os males que grassam pelo mundo. Tanta gente sem casa; tanta gente em fuga; tanta gente sem o mínimo para sobreviver; tanta gente sem trabalho e tanta gente com tanto trabalho mal remunerado ou escravo. Tantas crianças sozinhas, abandonadas e maltratadas; tantas crianças sem acesso à educação e ao saber. Tantos conflitos; tanta competitividade; tanta desumanidade.
Esta vergonha social é que leva à falta de equidade e à falta de igualdade de oportunidades e à perpetuação das desigualdades. Nas administrações, quaisquer que elas sejam, políticas, económico-financeiras e sociais, predominantemente, existem ricos, milionários e bilionários, pessoas distantes dos problemas das pessoas, sem consciência do que são esses problemas, não logrando, por isso, resolvê-los. Ausentes de qualquer empatia. Aliás, a perpetuação desses problemas é precisamente o que lhes dá garantia de se manterem no poder e com poder.
Lembro, muitas vezes, o que o meu pai me dizia: “Filha, tão rico é aquele que lhe chega como aquele que lhe sobra”. Queria com isto dizer que era rico todo aquele que tinha o que era necessário para viver em dignidade e não havia necessidade de sobras, sobras de riqueza é sempre mais e mais riqueza. O problema é precisamente haver alguns com tantas, tantas sobras de riqueza que impedem tantos de ter apenas o que lhes chegasse para serem pessoas, para serem ricos. Porque ter para o que é preciso já é uma forma de riqueza. Não era preciso mais.
Enquanto isto persistir, enquanto os homens e as mulheres não olharem uns para os outros com respeito pela pessoa que cada um é, enquanto houver homens e mulheres que achem que têm mais direitos dos que os restantes homens e mulheres e enquanto estes restantes viverem com medo de perderem o trabalho quando o têm, medo de não arranjarem trabalho quando o não têm, viverem com medo de não conseguirem dar aos filhos o que os pais lhes devem dar, viverem com medo, medo de tudo, não haverá nunca nenhuma balança que possa traduzir o equilíbrio, mesmo que os seus pratos o simulem.
Equilíbrio entre os pratos da balança: deceção e revolta
Opinião » 2017-01-18 » Maria Augusta TorcatoTanta gente sem casa; tanta gente em fuga; tanta gente sem o mínimo para sobreviver
Poder-se-ia pensar em algo positivo, quando se utiliza a palavra equilíbrio, mas, neste momento, o que sinto não se enquadra no campo semântico de “equilíbrio”. Esta ponderação apenas se revela na proporcionalidade entre a deceção e a revolta que me dominam, provocando um grande desequilíbrio interior. A relação é, até, de consequência: a revolta vem na sequência da deceção.
Mais uma vez, tenho tentado cultivar um espírito aberto e crente neste início de ano que, de novo, parece não ter nada. Mas a minha resiliência parece não ser nada resiliente. Mas haverá resiliência que aguente o que se vê e ouve todos os dias? Pertinho de nós, ligeiramente mais longe e longe mesmo. O mundo, estou farta de dizer e farta de escrever e, porventura, alguém farto de ler, está perigoso, muito perigoso.
Mais uma vez, hoje, ao passar os olhos por diferentes suportes informativos li que 8 empresários acumulam em riqueza o mesmo que metade da população pobre mundial, ou seja, o mesmo que têm 3,6 mil milhões de pessoas. 8 para 3600000000. Ora aqui está um enormíssimo desequilíbrio, apesar do “mesmo que…”. Até custa a dizer: 8 ricos têm o mesmo que 3,6 mil milhões de pobres.
Esta vergonha social é a progenitora de todas as vergonhas e de todos os males que grassam pelo mundo. Tanta gente sem casa; tanta gente em fuga; tanta gente sem o mínimo para sobreviver; tanta gente sem trabalho e tanta gente com tanto trabalho mal remunerado ou escravo. Tantas crianças sozinhas, abandonadas e maltratadas; tantas crianças sem acesso à educação e ao saber. Tantos conflitos; tanta competitividade; tanta desumanidade.
Esta vergonha social é que leva à falta de equidade e à falta de igualdade de oportunidades e à perpetuação das desigualdades. Nas administrações, quaisquer que elas sejam, políticas, económico-financeiras e sociais, predominantemente, existem ricos, milionários e bilionários, pessoas distantes dos problemas das pessoas, sem consciência do que são esses problemas, não logrando, por isso, resolvê-los. Ausentes de qualquer empatia. Aliás, a perpetuação desses problemas é precisamente o que lhes dá garantia de se manterem no poder e com poder.
Lembro, muitas vezes, o que o meu pai me dizia: “Filha, tão rico é aquele que lhe chega como aquele que lhe sobra”. Queria com isto dizer que era rico todo aquele que tinha o que era necessário para viver em dignidade e não havia necessidade de sobras, sobras de riqueza é sempre mais e mais riqueza. O problema é precisamente haver alguns com tantas, tantas sobras de riqueza que impedem tantos de ter apenas o que lhes chegasse para serem pessoas, para serem ricos. Porque ter para o que é preciso já é uma forma de riqueza. Não era preciso mais.
Enquanto isto persistir, enquanto os homens e as mulheres não olharem uns para os outros com respeito pela pessoa que cada um é, enquanto houver homens e mulheres que achem que têm mais direitos dos que os restantes homens e mulheres e enquanto estes restantes viverem com medo de perderem o trabalho quando o têm, medo de não arranjarem trabalho quando o não têm, viverem com medo de não conseguirem dar aos filhos o que os pais lhes devem dar, viverem com medo, medo de tudo, não haverá nunca nenhuma balança que possa traduzir o equilíbrio, mesmo que os seus pratos o simulem.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-03-18
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» 2024-04-10
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