O quarto milagre de Fátima
Opinião » 2018-09-13 » Jorge Carreira Maia"A educação vai entrar, por iniciativa do governo, num processo que não foi planeado e avaliado seriamente, para o qual os professores não foram preparados e que exige recursos que não existem."
O começo do ano lectivo é marcado pela generalização de uma nova reforma do sistema educativo. A ideia que está na base de mais uma aventura na educação portuguesa prende-se com a convicção da actual equipa do Ministério da Educação de que o trabalho realizado pelo professorado está globalmente desadequado às exigências do século XXI. Esta é uma crença que depende da fé e não, obviamente e por impossibilidade factual, de nenhuma informação empírica sobre o que será o futuro. Portanto, a reforma faz-se, como sempre, em nome da ideologia. Para além da minha profunda desconfiança com a ideologia educativa que suporta as novas orientações, saliento dois problemas que me parecem fatais.
Em primeiro lugar, a sua preparação. Alterações destas num sistema educativo exigem anos de estudo, planeamento, experimentação, avaliação dos processos e dos seus resultados, antes que se chegue a uma generalização a todo o universo escolar. O que vai entrar em vigor este ano não seguiu nenhum desses trâmites. Não corresponde nem a um estudo nem a um planeamento sólido (é apenas um conjunto de crenças da equipa ministerial). Teve um ano de experimentação – o ano lectivo transacto – em escolas que se voluntariaram, mas, como qualquer pessoas perceberá, um ano não permite qualquer avaliação séria de processos e ainda menos de resultados. Vamos generalizar uma reforma educativa que ninguém sabe se aumenta ou diminui as aprendizagens dos alunos.
O segundo problema diz respeito à exequibilidade material dessa reforma. Em primeiro lugar, ela impõe alterações drásticas na fora de trabalhar com os alunos. Ora isso exige um período relativamente longo de preparação do professorado para que este possa compreender, experimentar e apropriar-se daquilo que o governo pretende. A generalidade dos professores – e não por culpa destes – está a zero (a definição do currículo aconteceu no final de Agosto), sem qualquer tipo de formação. Em segundo lugar, o que se pretende não se compagina com turmas grandes, como continuam a ser, nem com a forma como estão organizados os espaços e os tempos escolares. Só a reforma do número de alunos por turma e a dos espaços escolares implicaria um investimento incomportável para o país.
Em resumo, a educação vai entrar, por iniciativa do governo, num processo que não foi planeado e avaliado seriamente, para o qual os professores não foram preparados e que exige, para que não seja uma catástrofe, recursos humanos, financeiros e de equipamento que não existem nem existirão nos próximos tempos. Talvez os responsáveis políticos acreditem num quarto milagre de Fátima.
O quarto milagre de Fátima
Opinião » 2018-09-13 » Jorge Carreira MaiaA educação vai entrar, por iniciativa do governo, num processo que não foi planeado e avaliado seriamente, para o qual os professores não foram preparados e que exige recursos que não existem.
O começo do ano lectivo é marcado pela generalização de uma nova reforma do sistema educativo. A ideia que está na base de mais uma aventura na educação portuguesa prende-se com a convicção da actual equipa do Ministério da Educação de que o trabalho realizado pelo professorado está globalmente desadequado às exigências do século XXI. Esta é uma crença que depende da fé e não, obviamente e por impossibilidade factual, de nenhuma informação empírica sobre o que será o futuro. Portanto, a reforma faz-se, como sempre, em nome da ideologia. Para além da minha profunda desconfiança com a ideologia educativa que suporta as novas orientações, saliento dois problemas que me parecem fatais.
Em primeiro lugar, a sua preparação. Alterações destas num sistema educativo exigem anos de estudo, planeamento, experimentação, avaliação dos processos e dos seus resultados, antes que se chegue a uma generalização a todo o universo escolar. O que vai entrar em vigor este ano não seguiu nenhum desses trâmites. Não corresponde nem a um estudo nem a um planeamento sólido (é apenas um conjunto de crenças da equipa ministerial). Teve um ano de experimentação – o ano lectivo transacto – em escolas que se voluntariaram, mas, como qualquer pessoas perceberá, um ano não permite qualquer avaliação séria de processos e ainda menos de resultados. Vamos generalizar uma reforma educativa que ninguém sabe se aumenta ou diminui as aprendizagens dos alunos.
O segundo problema diz respeito à exequibilidade material dessa reforma. Em primeiro lugar, ela impõe alterações drásticas na fora de trabalhar com os alunos. Ora isso exige um período relativamente longo de preparação do professorado para que este possa compreender, experimentar e apropriar-se daquilo que o governo pretende. A generalidade dos professores – e não por culpa destes – está a zero (a definição do currículo aconteceu no final de Agosto), sem qualquer tipo de formação. Em segundo lugar, o que se pretende não se compagina com turmas grandes, como continuam a ser, nem com a forma como estão organizados os espaços e os tempos escolares. Só a reforma do número de alunos por turma e a dos espaços escolares implicaria um investimento incomportável para o país.
Em resumo, a educação vai entrar, por iniciativa do governo, num processo que não foi planeado e avaliado seriamente, para o qual os professores não foram preparados e que exige, para que não seja uma catástrofe, recursos humanos, financeiros e de equipamento que não existem nem existirão nos próximos tempos. Talvez os responsáveis políticos acreditem num quarto milagre de Fátima.
Caminho de Abril - maria augusta torcato » 2024-04-22 » Maria Augusta Torcato Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável. |
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
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» 2024-04-22
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