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A cronologia da fivela

Opinião  »  2016-01-20  »  Miguel Sentieiro

Dei um abraço caloroso a um primo que já não via há mais de um ano. Ele olhou-me com atenção e lançou um “Eh pá, estás muito mais gordo!”. Fiquei extremamente sensibilizado; aliás, não esperava frase mais fraternal do que esta para início de reencontro. Ainda bem que não perdeu tempo com lamechices do género “que saudades” ou “gosto muito de te rever” e passou logo para o plano da genuinidade sem filtros. Haverá adjectivação mais adequada a um reencontro de primos? Poderá haver. Em vez do “muito mais gordo”, aparecer um “muito mais velho”, “muito mais careca”, “muito mais desdentado”, “muito mais surdo”, “muito mais senil”. Tudo piropos da mais alta estirpe, lançados a quem se nutre um carinho especial. Esqueci-me de dizer ao meu primo que também o achava “muito mais simpático” e que tinha ficado com vontade de o rever “muito mais tempo depois”. Anda um tipo a remar contra as correntes cronológicas do metabolismo e depois leva com esta avaliação. As corridas matinais para queimar calorias, a ingestão de queijo fresco para reduzir calorias, têm como resultado prático… a acumulação das calorias no diâmetro abdominal(?). Ainda por cima, o “muito mais” aparece ali para não dar margem de erro e eliminar desde logo a dúvida: “se calhar ele achou que eu estou apenas um pouco mais cheiinho”. Na realidade não preciso de primos para perceber que estou mais “composto”. O meu cinto trata de me lembrar. Tenho de trocar de cinto. O meu tem 20 anos. Consigo ver de forma tristemente evidente as diversas marcas da fivela ao longo dos anos. E pensar que a fivela já espetou em 3 orifícios abaixo. Na verdade, com a idade também começamos a ficar mais sábios, aliás “muito mais sábios” (podias ter começado por aqui primo…). E que mal têm as adiposidades? É sinal dos tempos, vividos numa sociedade moderna, onde felizmente existe paparoca da boa, para a confrontarmos com o metabolismo dos “entas”. Dizia-me no outro dia um amigo: “Sabes porque não engordo? Porque nunca paro, estou sempre a fazer coisas; nem tenho tempo de ver televisão...”. Mas ó amigo, eu cá quero parar! Quero embrenhar-me no ócio com todas as minhas forças. Quero não fazer coisas quando não me apetece e quando me permitem não fazê-las. Quero sentar-me a ver um bom filme sem pensar em fazer coisas, quero dormir uma soneca sem pensar em fazer coisas, quero comer um bom prato de feijoada sem pensar em ouvir coisas sobre o incremento do volume da minha barriga. E as evidências dos orifícios do meu cinto, não me fazem confusão? Fazem, se não aceitar de forma ponderada o curso natural do envelhecimento. E o cinto? O cinto cá está para nos lembrar, que nesta idade é natural termos uns quilos a mais dos que tínhamos com 20 anos. Como é natural termos menos cabelo, nos cansarmos mais a subir 5 lanços de escadas, acordar com mais dores nos joelhos, adormecermos no sofá antes de começarmos a ver o filme nocturno. As marcas da fivela no cinto são como as camadas cronológicas dos troncos das árvores, que servem para perceber a sua idade real. O meu cinto está a cumprir a sua função na perfeição. A inexistência de barriga, depois dos 40, significa que algo não está bem: ou padece de depressão, ou fuma, ou foi extrair o dente do siso, ou passa por um processo de divórcio, ou vive no Uganda, ou corre ultra-maratonas. A propósito, conheço um tipo de 50 anos que começou nas ultra-maratonas para não engordar e já troca de cinto com o filho adolescente. Se calhar, também eu deveria começar nas ultra-maratonas. Estava todo o tempo livre a correr e quando não estivesse a correr, estaria a fazer coisas, muitas coisas para enganar a fivela do meu cinto. Talvez assim, já pudesse encontrar o meu primo daqui a 5 anos, de forma totalmente relaxada, porque iria ouvir “Eh pá, estás muito mais magro! Parece que envelheceste 10 anos…”

 

 

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