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UM PARTIDO COM GENTE DENTRO

Opinião  »  2021-03-06  »  José Mota Pereira

"“[um partido de] Gente dentro, também aqui de Torres Novas. Desde a fundação, que desta vila operária há noticias da existência do Partido"

Há efemérides incontornáveis. Uma delas, é o centenário do PCP, que se comemora a 6 de Março deste ano. Independentemente das opções de cada um, é impossível ignorar o significado dos 100 anos do PCP - o Partido Comunista Português. Ou como a maioria dos seus militantes se lhe referem, simplesmente, o Partido.

Nascido em 1921, quatro anos depois da Revolução Russa, na sequência de diversos movimentos de organização de sectores operários na I República, os seus membros foram desde cedo alvo de perseguição. Repressão que seria ampliada a partir de 1926, com a implantação do Estado Novo fascista que decretaria o fim da sua existência legal, mas seria incapaz de lhe impedir a actividade, a luta e resistência tenazes ao longo de 48 anos. Uma luta e um combate que passou pelas prisões do Aljube, Angra do Heroísmo, Caxias, Peniche e pelo Campo Prisional do Tarrafal, onde morreu entre outros, o seu secretário-geral Bento Gonçalves.

Uma luta pela liberdade, que não pode ser ignorada e foi paga com a própria vida por muitos militantes. Depois de Abril, o Partido viveu entusiasticamente o Verão de todas as canções e quando chegou o Inverno de Novembro, soube encontrar o seu espaço na democracia de um Portugal integrado no século XXI na União Europeia. Como se explica que um Partido, vindo de tão longe, tenha ainda hoje uma implantação na sociedade praticamente incomparável no Mundo Ocidental?

Álvaro Cunhal, definiu nos anos 1980, o PCP como o Partido com paredes de vidro. Eu, pessoalmente, acrescentaria a essa definição que o PCP foi e ainda é, na minha opinião, o Partido com gente dentro. Esta gente que fez e faz o Partido é provavelmente o segredo da sua longevidade.

Gente como o velho militante, José Maria “Migas” de seu nome, que aos sábados de manhã, nos primeiros anos da Liberdade me habituei a ver, era eu um puto, na porta da casa dos meus pais distribuindo o Avante! Enrolados no bolso do casaco, desafiando o seu formato xxl, os jornais vinham acompanhados de um sorriso que não disfarçava a satisfação pelo cumprimento da tarefa. Tal como ainda hoje, muitos militantes vão cumprindo essa e outras tarefas de forma voluntária e generosa.

Fundado por trabalhadores e para os trabalhadores, abriu as suas portas a muitos outros sectores que aí encontraram o seu espaço de intervenção política. O Partido tem nos seus registos de militância alguns dos maiores nomes das artes e da cultura nacional. Um património único e inigualável na sociedade portuguesa, cuja memória merece ser respeitada.

Um Partido que contou e conta com muitos que não deixando nome assinado no arquivo dos militantes, caminharam e juntos seguem ao seu lado na mesma estrada. A capacidade de encontrar convergências ao longo da sua História é factual e não pode ser esquecida pelos seus militantes de hoje.

Nele passaram, ao longo destes anos, muitos homens e mulheres que viram nele, nalguma fase das suas vidas, o espaço para o cumprimento de lutas, projectos, sonhos e um ideal de construção de uma outra sociedade mais justa e mais fraterna. E se nele entraram, muitos dele desistiram. Desse caminho de abandono, houve muitas e diferentes razões e motivações. Mas daquilo que cada um deu, por pouco que tenha sido, também se faz o Partido de hoje. Não podem ser apagados da História.

O PCP não é uma abstração, uma entidade mística ou etérea. Por isso, o seu percurso também foi feito de erros e desvios; sectarismos e diluições ideológicas; desconfianças inúteis e traições oportunistas. Reconhecê-los será a melhor forma de evitar que sejam cometidos novamente. A capacidade de auto-crítica terá de ser, se assim o quiserem, uma tarefa permanente para os seus militantes.

Gente dentro, também aqui de Torres Novas. Desde a fundação, que desta vila operária há noticias da existência do Partido. No seu primeiro congresso, realizado em 1923, há notícia da presença de delegados das grandes cidades operárias de Lisboa e do Porto, a que se juntaram delegados de Coimbra, Évora, São Manços, Beja, Tomar, Amadora e Barcarena e...Torres Novas. [1]

Conquistando influência nos meios operários torrejanos, a sua organização  local cresceu após a Segunda Guerra Mundial, tendo merecido vigilância atenta da polícia política, resultando em frequentes e sucessivas vagas de prisão de torrejanos. Uma influência que se viria a materializar ao longo dos últimos anos da ditadura em diferentes planos da vida social da vila, fazendo de Torres Novas um reconhecido pólo de resistência e de activismo ao fascismo. Com actividade na própria noite de 24 para 25 de Abril de 1974!

Nos anos seguintes da Liberdade, continuaram a passar pelo Partido muitos sonhos de construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Um Partido que assistiu à queda do muro de Berlim mas soube permanecer vivo, quando outros desistiram e desapareceram. Este é o Partido que vive para além dos votos contados nas eleições e permanece todos os dias na vida concreta das pessoas. Vive nas empresas, nos sindicatos, nas comissões cívicas, em diversas associações socio-económicas e nas autarquias. Viverá enquanto mantendo-se fiel aos seus princípios ideológicos, recusar dogmas e cristalizações de pensamento, souber construir pontes e plataformas de entendimento, perceber novas realidades da vida social e não tiver medo do novo.

Viverá o Partido mais cinco, dez, vinte, cem anos? Viverá enquanto houver gente desta, que assim o fez e vive, dentro! De pé!... pela tal terra sem amos.

 

*militante do PCP

 

 

 

 

 

 

 



[1] https://www.dorl.pcp.pt/index.php/histria-do-pcp-menumarxismoleninismo-103/85-momentos-da-historia-do-pcp/207-artigos-de-85-momentos-da-historia-do-pcp/684-o-partido-na-histria-os-primeiros-comunistas-presos e http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1224000428R7cCN0wh5Nx94ZE8.pdf

 

 

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