Chaminés - inês vidal
Opinião » 2022-12-06 » Inês Vidal"“Torres Novas nunca poderá ser grande quando entregue a gente pequenina e as pessoas pequeninas nunca terão grandeza suficiente para perceber que estão a ma"
Esta história não difere muito de uma que a Maria Rita me contou um destes dias. Nada fazia sentido ou batia certo. A única coisa que era evidente é que alguém não estava a contar a verdade toda. A diferença de monta nesta minha comparação é que a Maria Rita tem nove anos e queria esquivar-se de um sermão. Nesta história que vos trazemos hoje, os intervenientes são todos rapazes crescidos, com responsabilidades acrescidas e, verdade seja dita, com um tremendo mau gosto e uma falta de mundo ainda maior.
Não preciso de vos contar os pormenores da bárbara demolição das chaminés da “Alves da Lãs”. Já foi por demais esmiuçada a questão e publicamos ainda, nestas páginas, um extenso dossiê sobre o assunto, para quem quiser aprofundar a temática. A questão que se coloca hoje, para mim, é a impunidade que forra estes actos. Isso e a capacidade que algumas pessoas têm de dormir à noite depois de assinar por baixo, ainda que oficiosamente ou por inércia, tamanha barbaridade.
Consigo imaginar os responsáveis por determinadas decisões a rir-se entre charutos, ovos rotos e whisky do mais caro, enquanto nós, tontinhos, nos erguemos das mais diversas formas face a hediondos crimes contra o nosso património cultural. E imagino mais. Imagino os mil contornos não contados que antecederam e se sucederam àquele sábado dia 19, os contactos não oficializados, os diálogos sussurrados e os “avais” insinuados. Já vi muito e já vi gente capaz de tudo. Pouco mais me choca, muito menos em Torres Novas.
O pior de tudo, o que mais me dana, o que mais me entristece é que nada poderá ser feito para remediar a situação. Por mais que gritemos, denunciemos ou lutemos, as chaminés estão destruídas. Seja qual for a decisão tomada ou a verdadeira verdade, as chaminés não voltam, o património está desfeito, a história não se reconstrói. Todos os responsáveis pela demolição daquelas chaminés, símbolo do património industrial torrejano, sairão impunes, ilesos e, no fundo, vitoriosos por terem conseguido o que queriam, sem que ninguém pudesse fazer nada para o evitar. E continuarão a rir-se entre dentes, a falar para o lado de forma irónica, típico de quem ataca porque não se pode defender, sem respeito por nada nem por ninguém, à espera que os ânimos se acalmem e os olhos das gentes arranjem novo foco e esqueçam mais este crime de lesa património simbólico dos torrejanos.
Esta terra entristece-me. Sinto que não me merece. Nem a mim, nem à maioria de nós. Quase que me dá vontade de desistir e se calhar é mesmo isso que vou fazer. De pouco adianta o nosso esforço e o de tantos outros como nós, para entretanto nos falhar a memória e assinarmos por mais outros quatro anos. Torres Novas nunca poderá ser grande quando entregue a gente pequenina e as pessoas pequeninas nunca terão grandeza suficiente para perceber que estão a mais. Enquanto as formos deixando ficar, elas ficarão, agarradas a uma cadeira que, a não ser que parta, não as deixará cair.
Chaminés - inês vidal
Opinião » 2022-12-06 » Inês Vidal“Torres Novas nunca poderá ser grande quando entregue a gente pequenina e as pessoas pequeninas nunca terão grandeza suficiente para perceber que estão a ma
Esta história não difere muito de uma que a Maria Rita me contou um destes dias. Nada fazia sentido ou batia certo. A única coisa que era evidente é que alguém não estava a contar a verdade toda. A diferença de monta nesta minha comparação é que a Maria Rita tem nove anos e queria esquivar-se de um sermão. Nesta história que vos trazemos hoje, os intervenientes são todos rapazes crescidos, com responsabilidades acrescidas e, verdade seja dita, com um tremendo mau gosto e uma falta de mundo ainda maior.
Não preciso de vos contar os pormenores da bárbara demolição das chaminés da “Alves da Lãs”. Já foi por demais esmiuçada a questão e publicamos ainda, nestas páginas, um extenso dossiê sobre o assunto, para quem quiser aprofundar a temática. A questão que se coloca hoje, para mim, é a impunidade que forra estes actos. Isso e a capacidade que algumas pessoas têm de dormir à noite depois de assinar por baixo, ainda que oficiosamente ou por inércia, tamanha barbaridade.
Consigo imaginar os responsáveis por determinadas decisões a rir-se entre charutos, ovos rotos e whisky do mais caro, enquanto nós, tontinhos, nos erguemos das mais diversas formas face a hediondos crimes contra o nosso património cultural. E imagino mais. Imagino os mil contornos não contados que antecederam e se sucederam àquele sábado dia 19, os contactos não oficializados, os diálogos sussurrados e os “avais” insinuados. Já vi muito e já vi gente capaz de tudo. Pouco mais me choca, muito menos em Torres Novas.
O pior de tudo, o que mais me dana, o que mais me entristece é que nada poderá ser feito para remediar a situação. Por mais que gritemos, denunciemos ou lutemos, as chaminés estão destruídas. Seja qual for a decisão tomada ou a verdadeira verdade, as chaminés não voltam, o património está desfeito, a história não se reconstrói. Todos os responsáveis pela demolição daquelas chaminés, símbolo do património industrial torrejano, sairão impunes, ilesos e, no fundo, vitoriosos por terem conseguido o que queriam, sem que ninguém pudesse fazer nada para o evitar. E continuarão a rir-se entre dentes, a falar para o lado de forma irónica, típico de quem ataca porque não se pode defender, sem respeito por nada nem por ninguém, à espera que os ânimos se acalmem e os olhos das gentes arranjem novo foco e esqueçam mais este crime de lesa património simbólico dos torrejanos.
Esta terra entristece-me. Sinto que não me merece. Nem a mim, nem à maioria de nós. Quase que me dá vontade de desistir e se calhar é mesmo isso que vou fazer. De pouco adianta o nosso esforço e o de tantos outros como nós, para entretanto nos falhar a memória e assinarmos por mais outros quatro anos. Torres Novas nunca poderá ser grande quando entregue a gente pequenina e as pessoas pequeninas nunca terão grandeza suficiente para perceber que estão a mais. Enquanto as formos deixando ficar, elas ficarão, agarradas a uma cadeira que, a não ser que parta, não as deixará cair.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
|
Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |