A questão colonial - jorge carreira maia
Opinião » 2023-02-18 » Jorge Carreira Maia" Uma democracia deve aprender a olhar para o seu passado com aquilo que teve de exaltante e de aviltante."
A requalificação do Jardim da Praça do Império, de Lisboa, e, especificamente, os brasões das províncias ultramarinas em pedra abrem nova frente de conflito entre direita e esquerda. Não é indiferente dizer província ultramarina ou colónia. Esta linguagem dividia aqueles que apoiavam o regime e os que estavam na oposição, embora entre estes pudesse haver adeptos da colonização. A ideia de império colonial português atravessa tanto a Monarquia como a República e permanece no Estado Novo, reforçando-se com os conflitos coloniais dos anos sessenta e setenta. Salazar abandona a designação de colónias quando os ventos internacionais mudam e a colonização é vista como um atentado à liberdade e à dignidade dos povos colonizados. Portugal, na retórica de Salazar, era uma entidade una que ia do Minho a Timor.
Com o desencadear das guerras coloniais, a oposição, das várias cores, afastou-se do devaneio colonial. O problema é que parte significativa da intelligentsia e da militância da direita democrática e moderada vive na saudade simbólica desse devaneio artificioso que era o Portugal pluricontinental. Tem dificuldade em dizer guerra nas colónias e soletra guerra no ultramar. É uma saudade interessante, pois não acarreta riscos. Aos jovens de direita não se põe o problema de ir combater na guerra e os pais não têm de ver os filhos partir, ou se influentes, usar a influência para que o rapaz tenha uma tropa confortável, longe da frente de combate. Um dos principais problemas do nosso regime, que emerge sempre que se trata do passado, é a cumplicidade da direita portuguesa, ao contrário da italiana ou francesa, com a ditadura. Só o 25 de Abril a libertou e tornou democrática.
Uma democracia deve aprender a olhar para o seu passado com aquilo que teve de exaltante e de aviltante. Faz parte do exaltante o facto de Portugal ter sido um dos artesãos principais da primeira globalização e, desse modo, ter também preparado o mundo para os tempos modernos. Isso não pode tapar o facto de Portugal ter sido uma potência colonial, que esbracejou com outras potências coloniais europeias o domínio de territórios onde existiam pessoas que foram colonizadas e escravizadas. Era o espírito europeu da época, mas esse espírito era objectivamente errado, mesmo que os políticos da altura não o achassem. Era importante que os partidos democráticos, à esquerda e à direita, tivessem uma visão comum sobre a questão colonial, pois esta não é um problema apenas do passado. Toca as relações com os Povos Africanos de Língua Oficial Portuguesa, que terão pouca paciência para o negacionismo luso.
A questão colonial - jorge carreira maia
Opinião » 2023-02-18 » Jorge Carreira MaiaUma democracia deve aprender a olhar para o seu passado com aquilo que teve de exaltante e de aviltante.
A requalificação do Jardim da Praça do Império, de Lisboa, e, especificamente, os brasões das províncias ultramarinas em pedra abrem nova frente de conflito entre direita e esquerda. Não é indiferente dizer província ultramarina ou colónia. Esta linguagem dividia aqueles que apoiavam o regime e os que estavam na oposição, embora entre estes pudesse haver adeptos da colonização. A ideia de império colonial português atravessa tanto a Monarquia como a República e permanece no Estado Novo, reforçando-se com os conflitos coloniais dos anos sessenta e setenta. Salazar abandona a designação de colónias quando os ventos internacionais mudam e a colonização é vista como um atentado à liberdade e à dignidade dos povos colonizados. Portugal, na retórica de Salazar, era uma entidade una que ia do Minho a Timor.
Com o desencadear das guerras coloniais, a oposição, das várias cores, afastou-se do devaneio colonial. O problema é que parte significativa da intelligentsia e da militância da direita democrática e moderada vive na saudade simbólica desse devaneio artificioso que era o Portugal pluricontinental. Tem dificuldade em dizer guerra nas colónias e soletra guerra no ultramar. É uma saudade interessante, pois não acarreta riscos. Aos jovens de direita não se põe o problema de ir combater na guerra e os pais não têm de ver os filhos partir, ou se influentes, usar a influência para que o rapaz tenha uma tropa confortável, longe da frente de combate. Um dos principais problemas do nosso regime, que emerge sempre que se trata do passado, é a cumplicidade da direita portuguesa, ao contrário da italiana ou francesa, com a ditadura. Só o 25 de Abril a libertou e tornou democrática.
Uma democracia deve aprender a olhar para o seu passado com aquilo que teve de exaltante e de aviltante. Faz parte do exaltante o facto de Portugal ter sido um dos artesãos principais da primeira globalização e, desse modo, ter também preparado o mundo para os tempos modernos. Isso não pode tapar o facto de Portugal ter sido uma potência colonial, que esbracejou com outras potências coloniais europeias o domínio de territórios onde existiam pessoas que foram colonizadas e escravizadas. Era o espírito europeu da época, mas esse espírito era objectivamente errado, mesmo que os políticos da altura não o achassem. Era importante que os partidos democráticos, à esquerda e à direita, tivessem uma visão comum sobre a questão colonial, pois esta não é um problema apenas do passado. Toca as relações com os Povos Africanos de Língua Oficial Portuguesa, que terão pouca paciência para o negacionismo luso.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
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A carne e os ossos - pedro borges ferreira |