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O Almonda e o colapso - pedro ferreira

Opinião  »  2022-09-09  »  Pedro Ferreira

" “Os nossos netos não serão ração para máquinas nem escravos de ninguém, porque muito provavelmente não serão nem os meus nem os teus a herdarem esta Terra infernal."

Vivemos uma distopia. Em criança, fui grande fã de trilogias como “O Senhor dos Anéis” e “Matrix”. Hoje, são raros os dias que passam sem notar os paralelismos entre estas histórias e a realidade. A sociedade industrial cria riqueza capaz de matar a fome a todos e destruir a pobreza. Porém, prefere a escassez artificial, para pilhar o mundo de todos os seus recursos, gerando a maior desigualdade material alguma vez vista tal e qual o reino de Sauron. Em vez do pão e da felicidade humana, a sociedade industrial prefere a tecnologia mais avançada, a máquina, o robô, a inteligência artificial, a realidade virtual do Metaverso, já em desenvolvimento pela antiga Facebook e que é nada mais nada menos que uma Matrix primordial.

 Não sou Frodo nem Neo, mas quero tanto quanto eles que esta sociedade colapse. Deixa-me tranquilo pensar que ela vai colapsar. E se ela vai colapsar…

 No início de Agosto, fui até Azinhaga para constatar com os meus olhos aquilo que já circulava nas redes sociais e nos canais televisivos: mais um rio seco, o nosso Almonda. Vi a terra morrer de sede e dura como pedra. Peixes, moluscos e crustáceos por toda a parte que, juntamente com o cheiro nauseabundo que emanava da sua decomposição, criavam uma imagem de morte e colapso ambiental. Enquanto isto, bombas sugavam a água do rio para produzir bens de consumo desnecessários, desde a nascente até à Azinhaga onde este, consequentemente, seca. 

 Nesse dia, tive uma premonição do colapso da sociedade industrial. Deste colectivo com a inteligência de uma cultura de bactérias, que explode e se multiplica até morrer intoxicado pelos próprios produtos da metabolização. Ou das algas que causaram a extinção em massa através de alterações climáticas e se congelaram a si próprias no período Permiano.


Não há relação mais direta que aquela entre a vida e a água. A própria composição dos nossos corpos é em mais de metade água. Ainda assim, olhamos para a estrangulação do único curso de água permanente do concelho de Torres Novas com a mesma apatia de quem vê o “O Joker”. Somos uns formatados, apáticos a tudo menos o que prejudique o sistema e as nossas miseráveis vidas dentro dele.

 Foi uma experiência difícil de digerir.

 Dias mais tarde, partilharam comigo a imagem do fluxo dos rios europeus criada pelo programa “Copernicus”. Esta mostra que não estamos perante mais um caso excepcional de desgoverno torrejano ou português. Nem pensar. A seca é geral. Transcontinental, até. Se há rios europeus com mais água, é porque os glaciares que os alimentam estão a derreter mais depressa que em anos anteriores, ameaçando também eles secar por completo num Verão próximo. Os problemas de arrefecimento de centrais nucleares juntos a certos rios mostram-nos que já vamos tarde para tecnocracias com energia ilimitada.

 A ciência, a arma da categorização e planeamento da exploração de todo o mundo, acalmou-me. Ela é tão terrível na forma como permite continuamente avançar os limites da exploração dos seres humanos e não humanos deste mundo como na acepção do estado da nossa sociedade: a distopia vai acabar. Os nossos netos não serão ração para máquinas nem escravos de ninguém, porque muito provavelmente não serão nem os meus nem os teus a herdarem esta Terra infernal. 

 Ninguém sabe se será numa guerra nuclear pela última gota de água que a nossa sociedade acabará. Por um herói corajoso como Frodo ou num hacker visionário como Neo não será certamente. O cenário mais provável é de um lento processo de decrescimento populacional e tecnológico devido a sucessivas secas e consequente escassez de alimento, que culminará na dissolução desta sociedade industrial, cada vez mais globalizada e, por conseguinte, menos resiliente. Quanto mais cedo acontecer, melhor. Em Torres Novas já começou. 2012 e 2019 foram dois anos próximos em que o rio secou e que nos mostram que este é o novo normal. Sabemos o futuro, resta lutar pelo cenário menos mau.

 

 

 

 

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