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O CINECLUBE QUE CONHECI

Opinião  »  2020-02-22  »  José Alves Pereira

"A partir de 1969, com a chamada primavera marcelista e maior participação cívica e política, também o CineClube ganhou outra animação,"

«Muitas referências se fizeram já acerca do papel do CineClube na vida torrejana. Eu, que vivi algum desse tempo, aqui deixo, em registo de memória pessoal, alguns apontamentos. Dada a perspectiva cultural que ali se abria num país tão obscuro e falho de liberdades, em 1965, pelos meus 16 anos fiz-me sócio. Naqueles anos, as actividades eram asseguradas pelo Joaquim Canais Rocha, que organizava e programava as sessões de cinema e a recolha documental de apoio e o António José Cardoso, mais ligado aos aspectos técnicos da fotografia e às tarefas logísticas das projecções de filmes para crianças aos sábados à tarde.

A partir de 1969, com a chamada primavera marcelista e maior participação cívica e política, também o CineClube ganhou outra animação, alargando-se o leque de colaboradores e frequentadores habituais. Pouco depois é escolhido o Dr. Carlos Trincão Marques para presidente da direcção. A sede era uma plataforma de passagem de pessoas ocasionalmente em Torres Novas: professores, militares do GACA 2, funcionários, estudantes,etc. Subia-se as escadas, ali na rua Artur Gonçalves, para saber “novidades” locais ou nacionais. Aos fins de semana, a frequência alargava-ve aos jovens estudantes que, vindos de Lisboa e Coimbra, traziam as últimas dos movimentos estudantis. O debate público, tão aberto e plural quanto a situação o permitia, fazia convergir pessoas que ali encontravam uma “fresta de liberdade”. Liam-se os jornais da tarde, nomeadamente o República e o Diário de Lisboa, os semanários Expresso e Notícias da Amadora e outros leriam, no recato clandestino de outras paragens o Avante.

Escutavam-se os discos do José Mário Branco, Sérgio Godinho, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luís Cília, Patxi Andion, os franceses do Chant du Monde, etc. Nas sessões do Virgínia passavam os Bergman, Antonioni, Fellini, os neorealistas do cinema italiano, Rosselini, Elmano Olmi, o novo cinema português, etc. O interesse suscitado pelas exposições de fotografia levou à criação de um laboratório de revelação e tratamento de películas fotográficas, sendo feita uma sessão de divulgação das novas máquinas fotográficas da Pentax, com a chamada lente de peixe ou grande angular, que permitia fotos de 180º. Um sucesso!

Com o duelo xadrezístico entre Fisher (EUA) e Spasky (URSS), para o campeonato do mundo, e análise diária dos jogos pelo João Cordovil, no Telejornal, a febre tomou conta do CineClube culminando num torneio de simultâneas com um clube da Figueira da Foz.

As actividades estendiam-se por colóquios, feiras do livro, projecção de filmes e sessões de animação cultural nalgumas aldeias do concelho, exposições de fotografia e temáticas, caso da dedicada a Charlie Chaplin. Relembro a teatralização da “Invenção do Amor”, da autoria do poeta caboverdiano Daniel Filipe, encenada pelo prof. Eduardo Bento. Do entusiasmo dos ensaios e da tensão no dia da representação, com a sala cheia, todos sabendo que o sujeito sentado lá atrás, muito atento, iria fazer o relatório delator. Comentada pelo Dr. Trincão Marques, foi uma audição musical de um LP do Alexandre Nevski, de Prokofiev. Grande audiência tiveram as conferências de gastronomia e macrobiótica, de Júlio Roberto, que pertencia à ITAU, uma organização então em moda.
Os boletins mensais enviados aos sócios, que com algum dispêndio financeiro eram impressos na tipografia Conde Marques, passaram a ser feitos internamente. Escolher os temas, desenhar as capas e escrever os textos, batê-los à máquina no stencil – quem saberá hoje o que é isto - imprimir na policopiadora manual, endereçar e levar aos CTT. Mais tarde, uma Gestetner nova e eléctrica, vai permitir uma melhor gestão de meios e economias. Sob a orientação do Alberto Kemp, artista gráfico, se fizeram as obras de remodelação da sala de convívio.

A criação do MIC (Movimento Inter Colectividades) comemora o Dia Internacional da Criança com exposição de desenhos feitos pelas crianças do concelho, sob orientação dos respectivos professores; realiza-se uma gincana na praça 5 de Outubro com a colaboração da Prevenção Rodoviária Portuguesa; os Bombeiros saem com as suas viaturas para mostrar às crianças; projectam-se filmes na sede da Columbófila.

Hoje, tudo isto parece banal e susceptível de alguns sorrisos complacentes, mas naquele tempo e contexto, num curto espaço de cinco anos, foi aventura e coragem. A última sessão de cinema deu-se a 24 de Abril de 1974 – véspera do novo dia – sendo exibido o filme soviético Djamília. Quantas coisas, pessoas e nomes, aqui não couberam, seja porque a memória não vai tão longe, seja por limitação de espaço. Ficará como objectivo posterior e mais completo. O Cine Clube foi um importante espaço de intervenção e prática cívica, aberto a múltiplos modos de olhar a vida cultural, social e política. Diferentemente do que então se propagandeava, como justificação persecutória, nunca as suas actividades sofreram questionamentos políticos ou tutelas ideológicas. Neste início de ano, o CineClube celebrou os seus 60 anos com uma cerimónia de abertura de novas instalações. Por ali passaram recordações e velhos amigos, num ambiente amistoso e institucional. Como diria o Chico Buarque, “foi bonita a festa, pá”.

 

 

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