Deixa arder
Opinião » 2016-08-24 » João Carlos Lopes
A acreditar nos dados de um estudo da União Europeia divulgado há um ano, Portugal teve mais incêndios que a Espanha, França, Itália e Grécia juntos no período entre 2000 e 2013. Este pequeno país registou, mais concretamente, 54% do número total de incêndios dos países mediterrânicos, quando a sua área total, no conjunto dos cinco, pouco passa dos 10%. Esta tenebrosa vitória portuguesa foi amplamente projectada acrescentando exactamente os os fogos ocorridos neste verão de má sina.
Recentemente, o responsável da Protecção Civil portuguesa disse categoricamente que o que havia a fazer, em termos de meios, feito está: o país detém todos os meios julgados necessários para combate aos incêndios falando de veículos, homens, recursos, apoios financeiros e outros, aliás sempre aumentados anos após ano porque nunca chegavam, até ao ponto em que já era escandaloso continuar a pedir mais e mais num registo de linguagem que, às vezes, rondava a chantagem.
E já com o pais a arder, foi o próprio ministro que veio dizer publicamente que a indústria do combate aos fogos dá milhões a ganhar a muita gente. Não há nada como ouvir quem sabe.
Postas as coisas assim no ponto em que estão, e acreditando, quem acredita, que o Altíssimo, na sua infinita misericórdia, não terá razões para castigar mais os portugueses que os italianos ou espanhóis, tão filhos Dele como nós, temos razões sólidas para pensar que a indústria do fogo posto em Portugal continua em grande, ajudada pelas televisões com as suas nojentas coberturas dos incêndios, que dão ideias e instigam ao mimetismo os malucos, voyeurs diversos e negociantes de vários ramos. O exemplo da Madeira vai repetir-se: um único tonto foi capaz de pôr uma ilha a ferro e fogo e isto deve-se, não haja hesitações em afirmá-lo e constatá-lo, à cobertura assassina que as televisões fazem dos fogos.
O incêndio da Madeira já mobilizou o governo regional, o da República, fundos de socorro da UE, aviões russos, protecções civis várias, programas de reabilitação, tudo por obra de um tonto que já tinha ateado mais de vinte fogos e que confessou gostar de ver as chamas pela televisão.
Há por isso, é verdade, muito combustível para vender, muitos aviões de negócio sazonal para alugar, muitos recursos necessários à indústria do combate aos fogos, muitos carros dos bombeiros para reparar e manter e tudo isso, afinal de contas, dá a sua contribuiçãozita para o PIB. Teoria da conspiração? Não, apenas o tão singular “deixa arder” português, que encaixa que nem uma luva noutra expressão tão linda e a talhe de foice: não há fumo sem fogo. A televisão escandalosamente faz o resto.
Deixa arder
Opinião » 2016-08-24 » João Carlos LopesA acreditar nos dados de um estudo da União Europeia divulgado há um ano, Portugal teve mais incêndios que a Espanha, França, Itália e Grécia juntos no período entre 2000 e 2013. Este pequeno país registou, mais concretamente, 54% do número total de incêndios dos países mediterrânicos, quando a sua área total, no conjunto dos cinco, pouco passa dos 10%. Esta tenebrosa vitória portuguesa foi amplamente projectada acrescentando exactamente os os fogos ocorridos neste verão de má sina.
Recentemente, o responsável da Protecção Civil portuguesa disse categoricamente que o que havia a fazer, em termos de meios, feito está: o país detém todos os meios julgados necessários para combate aos incêndios falando de veículos, homens, recursos, apoios financeiros e outros, aliás sempre aumentados anos após ano porque nunca chegavam, até ao ponto em que já era escandaloso continuar a pedir mais e mais num registo de linguagem que, às vezes, rondava a chantagem.
E já com o pais a arder, foi o próprio ministro que veio dizer publicamente que a indústria do combate aos fogos dá milhões a ganhar a muita gente. Não há nada como ouvir quem sabe.
Postas as coisas assim no ponto em que estão, e acreditando, quem acredita, que o Altíssimo, na sua infinita misericórdia, não terá razões para castigar mais os portugueses que os italianos ou espanhóis, tão filhos Dele como nós, temos razões sólidas para pensar que a indústria do fogo posto em Portugal continua em grande, ajudada pelas televisões com as suas nojentas coberturas dos incêndios, que dão ideias e instigam ao mimetismo os malucos, voyeurs diversos e negociantes de vários ramos. O exemplo da Madeira vai repetir-se: um único tonto foi capaz de pôr uma ilha a ferro e fogo e isto deve-se, não haja hesitações em afirmá-lo e constatá-lo, à cobertura assassina que as televisões fazem dos fogos.
O incêndio da Madeira já mobilizou o governo regional, o da República, fundos de socorro da UE, aviões russos, protecções civis várias, programas de reabilitação, tudo por obra de um tonto que já tinha ateado mais de vinte fogos e que confessou gostar de ver as chamas pela televisão.
Há por isso, é verdade, muito combustível para vender, muitos aviões de negócio sazonal para alugar, muitos recursos necessários à indústria do combate aos fogos, muitos carros dos bombeiros para reparar e manter e tudo isso, afinal de contas, dá a sua contribuiçãozita para o PIB. Teoria da conspiração? Não, apenas o tão singular “deixa arder” português, que encaixa que nem uma luva noutra expressão tão linda e a talhe de foice: não há fumo sem fogo. A televisão escandalosamente faz o resto.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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