Afeganistão e Thánatos - jorge carreira maia
Opinião » 2021-08-30 » Jorge Carreira Maia"Catástrofes naturais sempre aconteceram, mas o que se está a passar ultrapassa o que seria a acção normal da natureza"
Afeganistão (1). Nas imagens chegam do Afeganistão, desde as que mostram a facilidade com que os talibans se apoderaram do país até às do desespero de quem procura sair, há qualquer coisa que deveria fazer corar de vergonha aos ocidentais. Não tanto a derrota militar, mas o abandono a que estão votados todos aqueles que, aproveitando a intervenção americana, pretenderam construir um país fora das garras do radicalismo islâmico. Perder é uma coisa, trair e abandonar os amigos, mesmo em política, onde os imperativos éticos se subordinam à vantagem política, é outra.
Afeganistão (2). Também deveriam corar de vergonha os que vêem uma derrota do imperialismo a saída dos americanos do Afeganistão. É tomar a nuvem por Juno. A derrota americana não é apenas a derrota americana. É uma derrota de todos aqueles que acham que política e religião devem estar separadas, de todos aqueles que defendem que as mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens e que não as olham como seres humanos de segunda que necessitam de uma tutela masculina. É uma derrota dos que julgam que cada um deve fazer o que bem entende da sua vida, desde que isso não ponha em causa direitos de terceiros.
Thánatos (1). Esta palavra grega significa morte. Sigmund Freud utiliza-a, na teoria psicanalítica, para designar – ao lado de Éros, a pulsão para a vida – a pulsão para a morte, para a destruição. Quando se observa as imagens dos protestos em França ou nos Países Baixos, também em outros lugares, contra as medidas de combate à pandemia, percebe-se muito claramente que, por detrás das reivindicações de liberdade e da denúncia delirante de putativas conspirações, o que fala é a pulsão de morte e de destruição que habita o inconsciente humano. Quando se vêem aquelas manifestações ou quando se ouvem os negacionistas, não é Éros que fala, é Thánatos.
Thánatos (2). Catástrofes naturais sempre aconteceram, mas o que se está a passar ultrapassa o que seria a acção normal da natureza. A negação do papel humano nas alterações climáticas e a omissão ao seu combate, é ainda Thánatos, a pulsão para a morte, que se manifesta. Não se pense que essa pulsão, nas questões climáticas, é apenas dos negacionistas e dos que têm interesses económicos em que tudo continue como está. Thánatos habita cada um de nós e manifesta-se mesmo naqueles que estão conscientes do problema e do dever de combater essas alterações. Poucos, muito poucos, são os que estão dispostos a abandonar o tipo de vida que produz continuamente a degradação do clima.
Afeganistão e Thánatos - jorge carreira maia
Opinião » 2021-08-30 » Jorge Carreira MaiaCatástrofes naturais sempre aconteceram, mas o que se está a passar ultrapassa o que seria a acção normal da natureza
Afeganistão (1). Nas imagens chegam do Afeganistão, desde as que mostram a facilidade com que os talibans se apoderaram do país até às do desespero de quem procura sair, há qualquer coisa que deveria fazer corar de vergonha aos ocidentais. Não tanto a derrota militar, mas o abandono a que estão votados todos aqueles que, aproveitando a intervenção americana, pretenderam construir um país fora das garras do radicalismo islâmico. Perder é uma coisa, trair e abandonar os amigos, mesmo em política, onde os imperativos éticos se subordinam à vantagem política, é outra.
Afeganistão (2). Também deveriam corar de vergonha os que vêem uma derrota do imperialismo a saída dos americanos do Afeganistão. É tomar a nuvem por Juno. A derrota americana não é apenas a derrota americana. É uma derrota de todos aqueles que acham que política e religião devem estar separadas, de todos aqueles que defendem que as mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens e que não as olham como seres humanos de segunda que necessitam de uma tutela masculina. É uma derrota dos que julgam que cada um deve fazer o que bem entende da sua vida, desde que isso não ponha em causa direitos de terceiros.
Thánatos (1). Esta palavra grega significa morte. Sigmund Freud utiliza-a, na teoria psicanalítica, para designar – ao lado de Éros, a pulsão para a vida – a pulsão para a morte, para a destruição. Quando se observa as imagens dos protestos em França ou nos Países Baixos, também em outros lugares, contra as medidas de combate à pandemia, percebe-se muito claramente que, por detrás das reivindicações de liberdade e da denúncia delirante de putativas conspirações, o que fala é a pulsão de morte e de destruição que habita o inconsciente humano. Quando se vêem aquelas manifestações ou quando se ouvem os negacionistas, não é Éros que fala, é Thánatos.
Thánatos (2). Catástrofes naturais sempre aconteceram, mas o que se está a passar ultrapassa o que seria a acção normal da natureza. A negação do papel humano nas alterações climáticas e a omissão ao seu combate, é ainda Thánatos, a pulsão para a morte, que se manifesta. Não se pense que essa pulsão, nas questões climáticas, é apenas dos negacionistas e dos que têm interesses económicos em que tudo continue como está. Thánatos habita cada um de nós e manifesta-se mesmo naqueles que estão conscientes do problema e do dever de combater essas alterações. Poucos, muito poucos, são os que estão dispostos a abandonar o tipo de vida que produz continuamente a degradação do clima.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
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» 2024-03-08
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