Grécia, Alemanha e... Portugal
A vitória do Syriza encheu de júbilo não só a esquerda portuguesa, mas até os comentadores de direita e a generalidade dos meios de comunicação social do nosso país não esconderam o seu contentamento. E no entanto ...
Ninguém comentou o facto de Marie Le Pen ter mostrado idêntico júbilo. Ora a extrema direita francesa não tem qualquer afinidade ideológica com o Syriza, nem é de esperar que defenda qualquer tipo de solidariedade para com o povo grego. O que leva então, Le Pen, a desejar esta vitória? E porquê tão estranho silêncio dos opinadores?
O entusiasmo pela vitória eleitoral do Syriza, cuja legitimidade ninguém questionou, parece fazer esquecer que os gregos apenas elegeram o governo da Grécia e não o governo da União Europeia, nem os governos dos restantes países da União. O ministro Yanis Varoufakis, por exemplo, não manda no Bundesbank.
Devido a um segundo equívoco, encadeado no anterior, esquece-se que outros governos da UE, nomeadamente o alemão, também saíram de eleições onde foi expressa a vontade do respetivos povos e que as opiniões públicas destes países não estão em sintonia com a helénica.
Os equívocos não se ficam por aqui: generalizou-se a imagem duma Alemanha impondo a sua política a 27 países, mais ou menos manietados. Ora esta visão não é sustentada sustentada pelas notícias que nos chegam, por exemplo, da Finlândia, Holanda, Países Bálticos e Eslováquia, que manifestaram a sua hostilidade para com as pretensões helénicas. A verdade é que a dita liderança germânica não está isolada. Portanto, no confronto Sul-Norte, tão acarinhado por helénicos e lusos, a correlação de forças é bem desfavorável a esta vaga aliança meridional.
A simpatia que a causa grega gera entre largos setores das opiniões públicas de Portugal ou Espanha, não se replica por essa Europa fora. Em Portugal, os gregos são vistos como o povo eleito e os alemães como untermensch (*). Não estaremos a resvalar para um bizarro racismo anti-teutónico? Quando se ouve, repetidamente, a acusação de Passos Coelho de ser mais alemão que Merkel, está-se objetivamente a identificar o mal com o ser-se alemão. Se isto não é xenofobia ...
Mas o mais inquietante de tudo é que a exaltação pró helénica a par com a xenofobia anti-alemã têm servido de cortina de fumo a esconder a imperiosa reflexão sobre nós mesmos e sobre os erros que cometemos na primeira década deste milénio. Temos a segunda melhor rede de autoestradas da Europa, com muitos troços inúteis (e que estão por pagar!). Será que os finlandeses ou eslovacos têm a obrigação de saldar essas dívidas? Não vamos mais longe: será razoável exigir que o contribuinte alemão desembolse os milhões necessários para cobrir o prejuízo que o Almonda Parque acumulou?
(*) sub humano
Grécia, Alemanha e... Portugal
A vitória do Syriza encheu de júbilo não só a esquerda portuguesa, mas até os comentadores de direita e a generalidade dos meios de comunicação social do nosso país não esconderam o seu contentamento. E no entanto ...
Ninguém comentou o facto de Marie Le Pen ter mostrado idêntico júbilo. Ora a extrema direita francesa não tem qualquer afinidade ideológica com o Syriza, nem é de esperar que defenda qualquer tipo de solidariedade para com o povo grego. O que leva então, Le Pen, a desejar esta vitória? E porquê tão estranho silêncio dos opinadores?
O entusiasmo pela vitória eleitoral do Syriza, cuja legitimidade ninguém questionou, parece fazer esquecer que os gregos apenas elegeram o governo da Grécia e não o governo da União Europeia, nem os governos dos restantes países da União. O ministro Yanis Varoufakis, por exemplo, não manda no Bundesbank.
Devido a um segundo equívoco, encadeado no anterior, esquece-se que outros governos da UE, nomeadamente o alemão, também saíram de eleições onde foi expressa a vontade do respetivos povos e que as opiniões públicas destes países não estão em sintonia com a helénica.
Os equívocos não se ficam por aqui: generalizou-se a imagem duma Alemanha impondo a sua política a 27 países, mais ou menos manietados. Ora esta visão não é sustentada sustentada pelas notícias que nos chegam, por exemplo, da Finlândia, Holanda, Países Bálticos e Eslováquia, que manifestaram a sua hostilidade para com as pretensões helénicas. A verdade é que a dita liderança germânica não está isolada. Portanto, no confronto Sul-Norte, tão acarinhado por helénicos e lusos, a correlação de forças é bem desfavorável a esta vaga aliança meridional.
A simpatia que a causa grega gera entre largos setores das opiniões públicas de Portugal ou Espanha, não se replica por essa Europa fora. Em Portugal, os gregos são vistos como o povo eleito e os alemães como untermensch (*). Não estaremos a resvalar para um bizarro racismo anti-teutónico? Quando se ouve, repetidamente, a acusação de Passos Coelho de ser mais alemão que Merkel, está-se objetivamente a identificar o mal com o ser-se alemão. Se isto não é xenofobia ...
Mas o mais inquietante de tudo é que a exaltação pró helénica a par com a xenofobia anti-alemã têm servido de cortina de fumo a esconder a imperiosa reflexão sobre nós mesmos e sobre os erros que cometemos na primeira década deste milénio. Temos a segunda melhor rede de autoestradas da Europa, com muitos troços inúteis (e que estão por pagar!). Será que os finlandeses ou eslovacos têm a obrigação de saldar essas dívidas? Não vamos mais longe: será razoável exigir que o contribuinte alemão desembolse os milhões necessários para cobrir o prejuízo que o Almonda Parque acumulou?
(*) sub humano
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |