Dois beijos ao meu irmão
Opinião » 2015-02-06 » Ricardo Jorge Rodrigues
É este o estranho mas saudável hábito que devo guardar há mais anos. Talvez uma forma de dizer: há algo mais que nos une além da obrigatoriedade de convivermos; talvez seja um sinal de honra e respeito como se eu fosse o aprendiz que se curva perante o velho e sábio mestre; por ventura é apenas a minha forma de demonstrar o respeito e o orgulho sem sequer ter de me comprometer com palavras que por vezes custam a sair.
É este o meu pecad não lhe conseguir falar o que os meus olhos dizem.
Então, dou-lhe dois beijos no rosto. Quando ele chega ou quando ele vai.
Não me agrada, de todo, qualquer sentido egocêntrico, mas de facto reconheço em mim a qualidade de dar o devido valor às pessoas no seu devido tempo. Para mim, é algo que deveria ser tão natural no ser humano que nem sequer é uma qualidade: às vezes, é simplesmente diferente do que vejo neste mundo, em que só há tempo para os que amamos quando já é tarde demais.
Tenho cerca de oito anos de diferença do meu irmão. Oito anos de avanço que o fizeram crescer depressa de mais, que o obrigaram a ser homem antes de ser criança, que o transformaram numa figura paternal que ainda hoje me serve de guia.
Houve dias em que toquei o fundo do poço. Em que, tornar-me num caso falhado, alguém que seguiu a via errada, era o caminho mais fácil a seguir. Mas não o segui, e sei-o, porque tive alguém que me segurou e me disse qual o caminho certo. Esse alguém foi – sobretudo – ele, a quem dois beijos no rosto são apenas uma forma envergonhada de dizer ”obrigado”.
Não sinto, como já me questionaram, qualquer tipo de embaraço ou incómodo em dar dois beijos ao meu irmão, seja onde for: em eventos familiares ou à porta do banco onde trabalha. E, se alguém julgar que dois beijos no rosto a uma pessoa que me merece tanto me envergonharia, é porque não sabe o que é amar.
Sentir vergonha de beijar o meu irmão é sentir embaraço por lhe dizer obrigado, é ser egoísta. É trair aquilo que de mais puro há em mim.
O meu irmão fez esta semana 34 anos. Poderá viver outros tantos que jamais terei palavras, gestos ou acções que me permitam exprimir a dimensão do meu obrigado por ele. Deixei de me esforçar por perceber que era impossível recompensá-lo de tudo aquilo em que me deu a mão. Percebi que a dimensão de quem já nasce homem é impossível de alcançar por comuns aprendizes. E fico-me por isso para lhe agradecer: dou-lhe dois beijos no rosto.
Dois beijos ao meu irmão
Opinião » 2015-02-06 » Ricardo Jorge RodriguesÉ este o estranho mas saudável hábito que devo guardar há mais anos. Talvez uma forma de dizer: há algo mais que nos une além da obrigatoriedade de convivermos; talvez seja um sinal de honra e respeito como se eu fosse o aprendiz que se curva perante o velho e sábio mestre; por ventura é apenas a minha forma de demonstrar o respeito e o orgulho sem sequer ter de me comprometer com palavras que por vezes custam a sair.
É este o meu pecad não lhe conseguir falar o que os meus olhos dizem.
Então, dou-lhe dois beijos no rosto. Quando ele chega ou quando ele vai.
Não me agrada, de todo, qualquer sentido egocêntrico, mas de facto reconheço em mim a qualidade de dar o devido valor às pessoas no seu devido tempo. Para mim, é algo que deveria ser tão natural no ser humano que nem sequer é uma qualidade: às vezes, é simplesmente diferente do que vejo neste mundo, em que só há tempo para os que amamos quando já é tarde demais.
Tenho cerca de oito anos de diferença do meu irmão. Oito anos de avanço que o fizeram crescer depressa de mais, que o obrigaram a ser homem antes de ser criança, que o transformaram numa figura paternal que ainda hoje me serve de guia.
Houve dias em que toquei o fundo do poço. Em que, tornar-me num caso falhado, alguém que seguiu a via errada, era o caminho mais fácil a seguir. Mas não o segui, e sei-o, porque tive alguém que me segurou e me disse qual o caminho certo. Esse alguém foi – sobretudo – ele, a quem dois beijos no rosto são apenas uma forma envergonhada de dizer ”obrigado”.
Não sinto, como já me questionaram, qualquer tipo de embaraço ou incómodo em dar dois beijos ao meu irmão, seja onde for: em eventos familiares ou à porta do banco onde trabalha. E, se alguém julgar que dois beijos no rosto a uma pessoa que me merece tanto me envergonharia, é porque não sabe o que é amar.
Sentir vergonha de beijar o meu irmão é sentir embaraço por lhe dizer obrigado, é ser egoísta. É trair aquilo que de mais puro há em mim.
O meu irmão fez esta semana 34 anos. Poderá viver outros tantos que jamais terei palavras, gestos ou acções que me permitam exprimir a dimensão do meu obrigado por ele. Deixei de me esforçar por perceber que era impossível recompensá-lo de tudo aquilo em que me deu a mão. Percebi que a dimensão de quem já nasce homem é impossível de alcançar por comuns aprendizes. E fico-me por isso para lhe agradecer: dou-lhe dois beijos no rosto.
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