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Meteorologia natalícia

Opinião  »  2015-01-01  »  Miguel Sentieiro

Estava a minha dentição entretida a trucidar os coscorões e todas as iguarias que o metabolismo merece enfardar no dia de Natal, quando alguém teve a genial ideia de ligar a televisão. Em uníssono, ouvimos um apelo colectiv ”Esse tipo é que não!... desliga isso, senão a fruta cristalizada não passa no esófago!!” Entre o ligar, o apelo e o desligar, sobraram alguns segundos, suficientes para ficar colada aos nossos coscorões a mítica frase ”desde há muitos anos que os portugueses não terão a acumulação de nuvens negras no seu horizonte”. Várias dúvidas me assaltaram e nenhuma tinha a ver com a carga calórica dos coscorões. A primeira questão prendia-se com o facto de, no dia em que comemoramos o nascimento do menino Jesus, aparecer o primeiro ministro a falar ao país. Não sei se a ideia seria colar-se ao nascimento do salvador e ele próprio apanhar essa onda, deixando no ar a imagem de que também nasceu o redentor económico ”sabem, eu não tive uma vaquinha nem um burrinho para me aconchegar o berço, mas tive uns tipos do banco central europeu muito simpáticos que me deram aconchego nos momentos em que eu mais precisei; esses e os chineses que nos compraram a energia; esses e os brasileiros que nos compraram e venderam as comunicações aos franceses; esses e outros que não sabemos bem quem, a que entregámos os correios”. Nasce, assim, Passos como o salvador de todos os nossos pecados da gula, afastando o espectro do terror e da falência. Por falar em falência, ”Ó Passos, então e aquela história do BES? Da solidez dos investimentos?” Da regulação fictícia do Banco de Portugal?...” ”Banco? Qual banco?...hoje vim aqui falar de prosperidade!!!... já de propósito, para evitar mal entendidos, troquei um banco de madeira por esta cadeira vermelha igual à que o pai natal utiliza nos centros comerciais para vender fotografias aos meninos que se conseguirem sentar ao seu colo”.

Voltemos à frase meteorológica lançada pelo primeiro ministro sobre a acumulação de nuvens negras no horizonte. Um claro sinal de que o tipo tem poderes maiores do que o malogrado Anthímio de Azevedo, que só conseguia prever as baixas pressões para um período de 5 dias com alguma segurança. Passos lança-se seguro para a certeza de uma baixa acumulação de nuvens negras nos próximos tempos, ou seja, entre o dia de Natal e as eleições legislativas. É d’homem! Ou antes, é d’homem poderoso! Ou melhor, é d’homem poderoso a puxar para o milagroso!

Trincamos o peito do peru ao memo tempo que ouvimos a notícia de que a idade da reforma irá aumentar para os 66 anos e 2 meses. Lembramo-nos da nuvem negra na fase dos coscorões, engolimos o peru à pressa e começamos a fazer a nossa análise introspectiva: ”Grande mentiroso! Então que tudo iria ser melhor; que faria um sol radioso e dá-nos a perspectiva de gozar a reforma a trabalhar?” ”Disseste mentiroso? Não confundiste com poderoso e milagroso? Pensa bem no ”oso” que colocas no final do adjectivo.” Na verdade Passos não mentiu, porque domina a metáfora meteorológica como ninguém. Lança a redução da acumulação nuvens negras como uma coisa boa, sabendo que, para um alentejano, assolado pela seca e falta de água, e ansioso por uma bela carrada de chuva e negridão no horizonte, a redução das nuvens revela-se como uma má notícia. A metáfora meteorológica não compromete; a nuvem pode ser má para um minhoto ou boa para um algarvio. ”Quem disse que as coisas iriam melhorar?... eu só falei em nuvens negras, mais nada!”. Mais nada?... falou também que ”Será o primeiro Natal desde há muitos anos em que temos o futuro aberto diante de nós”. Aqui já ultrapassa a previsão meteorológica e entra no domínio do consideravelmente estúpido. Talvez por um erro de sintaxe. O nosso futuro sempre esteve aberto diante de nós; aberto e repleto de figuras, cujas competências deveriam estar ao dispor do Instituto do Mar e da Atmosfera e nunca aos comandos da complexa gestão de um país. Se tivesse dito ”temos mais futuro aberto diante de nós”, a coisa já faria algum sentido; de facto, percebo que tenho cada vez mais futuro a trabalhar, mesmo que para isso tenha de levar comigo as artroses e o andarilho.

Acabei agora de consultar a previsão meteorológica para os próximos dias e fiquei a saber que não haverá nuvens no horizonte. Ufa, ainda bem. Seremos brindados com um fabuloso frio glaciar para testar as nossas adiposidades. Enquanto a nuvem não vai e o frio não vem, vou continuar agarrado aos coscorões e ao peito de peru, com a certeza de que só abrirei a televisão para conferir os números do euromilhões, que desta vez me lembrei de fazer. Pode ser que o futuro se abra perante nós com a nebulosidade adequada.

 

 

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