Meteorologia natalícia
Opinião » 2015-01-01 » Miguel Sentieiro
Voltemos à frase meteorológica lançada pelo primeiro ministro sobre a acumulação de nuvens negras no horizonte. Um claro sinal de que o tipo tem poderes maiores do que o malogrado Anthímio de Azevedo, que só conseguia prever as baixas pressões para um período de 5 dias com alguma segurança. Passos lança-se seguro para a certeza de uma baixa acumulação de nuvens negras nos próximos tempos, ou seja, entre o dia de Natal e as eleições legislativas. É d’homem! Ou antes, é d’homem poderoso! Ou melhor, é d’homem poderoso a puxar para o milagroso!
Trincamos o peito do peru ao memo tempo que ouvimos a notícia de que a idade da reforma irá aumentar para os 66 anos e 2 meses. Lembramo-nos da nuvem negra na fase dos coscorões, engolimos o peru à pressa e começamos a fazer a nossa análise introspectiva: ”Grande mentiroso! Então que tudo iria ser melhor; que faria um sol radioso e dá-nos a perspectiva de gozar a reforma a trabalhar?” ”Disseste mentiroso? Não confundiste com poderoso e milagroso? Pensa bem no ”oso” que colocas no final do adjectivo.” Na verdade Passos não mentiu, porque domina a metáfora meteorológica como ninguém. Lança a redução da acumulação nuvens negras como uma coisa boa, sabendo que, para um alentejano, assolado pela seca e falta de água, e ansioso por uma bela carrada de chuva e negridão no horizonte, a redução das nuvens revela-se como uma má notícia. A metáfora meteorológica não compromete; a nuvem pode ser má para um minhoto ou boa para um algarvio. ”Quem disse que as coisas iriam melhorar?... eu só falei em nuvens negras, mais nada!”. Mais nada?... falou também que ”Será o primeiro Natal desde há muitos anos em que temos o futuro aberto diante de nós”. Aqui já ultrapassa a previsão meteorológica e entra no domínio do consideravelmente estúpido. Talvez por um erro de sintaxe. O nosso futuro sempre esteve aberto diante de nós; aberto e repleto de figuras, cujas competências deveriam estar ao dispor do Instituto do Mar e da Atmosfera e nunca aos comandos da complexa gestão de um país. Se tivesse dito ”temos mais futuro aberto diante de nós”, a coisa já faria algum sentido; de facto, percebo que tenho cada vez mais futuro a trabalhar, mesmo que para isso tenha de levar comigo as artroses e o andarilho.
Acabei agora de consultar a previsão meteorológica para os próximos dias e fiquei a saber que não haverá nuvens no horizonte. Ufa, ainda bem. Seremos brindados com um fabuloso frio glaciar para testar as nossas adiposidades. Enquanto a nuvem não vai e o frio não vem, vou continuar agarrado aos coscorões e ao peito de peru, com a certeza de que só abrirei a televisão para conferir os números do euromilhões, que desta vez me lembrei de fazer. Pode ser que o futuro se abra perante nós com a nebulosidade adequada.
Meteorologia natalícia
Opinião » 2015-01-01 » Miguel SentieiroVoltemos à frase meteorológica lançada pelo primeiro ministro sobre a acumulação de nuvens negras no horizonte. Um claro sinal de que o tipo tem poderes maiores do que o malogrado Anthímio de Azevedo, que só conseguia prever as baixas pressões para um período de 5 dias com alguma segurança. Passos lança-se seguro para a certeza de uma baixa acumulação de nuvens negras nos próximos tempos, ou seja, entre o dia de Natal e as eleições legislativas. É d’homem! Ou antes, é d’homem poderoso! Ou melhor, é d’homem poderoso a puxar para o milagroso!
Trincamos o peito do peru ao memo tempo que ouvimos a notícia de que a idade da reforma irá aumentar para os 66 anos e 2 meses. Lembramo-nos da nuvem negra na fase dos coscorões, engolimos o peru à pressa e começamos a fazer a nossa análise introspectiva: ”Grande mentiroso! Então que tudo iria ser melhor; que faria um sol radioso e dá-nos a perspectiva de gozar a reforma a trabalhar?” ”Disseste mentiroso? Não confundiste com poderoso e milagroso? Pensa bem no ”oso” que colocas no final do adjectivo.” Na verdade Passos não mentiu, porque domina a metáfora meteorológica como ninguém. Lança a redução da acumulação nuvens negras como uma coisa boa, sabendo que, para um alentejano, assolado pela seca e falta de água, e ansioso por uma bela carrada de chuva e negridão no horizonte, a redução das nuvens revela-se como uma má notícia. A metáfora meteorológica não compromete; a nuvem pode ser má para um minhoto ou boa para um algarvio. ”Quem disse que as coisas iriam melhorar?... eu só falei em nuvens negras, mais nada!”. Mais nada?... falou também que ”Será o primeiro Natal desde há muitos anos em que temos o futuro aberto diante de nós”. Aqui já ultrapassa a previsão meteorológica e entra no domínio do consideravelmente estúpido. Talvez por um erro de sintaxe. O nosso futuro sempre esteve aberto diante de nós; aberto e repleto de figuras, cujas competências deveriam estar ao dispor do Instituto do Mar e da Atmosfera e nunca aos comandos da complexa gestão de um país. Se tivesse dito ”temos mais futuro aberto diante de nós”, a coisa já faria algum sentido; de facto, percebo que tenho cada vez mais futuro a trabalhar, mesmo que para isso tenha de levar comigo as artroses e o andarilho.
Acabei agora de consultar a previsão meteorológica para os próximos dias e fiquei a saber que não haverá nuvens no horizonte. Ufa, ainda bem. Seremos brindados com um fabuloso frio glaciar para testar as nossas adiposidades. Enquanto a nuvem não vai e o frio não vem, vou continuar agarrado aos coscorões e ao peito de peru, com a certeza de que só abrirei a televisão para conferir os números do euromilhões, que desta vez me lembrei de fazer. Pode ser que o futuro se abra perante nós com a nebulosidade adequada.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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