• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Terça, 16 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Sex.
 26° / 14°
Períodos nublados com aguaceiros e trovoadas
Qui.
 28° / 14°
Períodos nublados
Qua.
 28° / 13°
Períodos nublados
Torres Novas
Hoje  27° / 11°
Períodos nublados
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

Um piscar de olho à cultura

Opinião  »  2015-12-18  »  Adelino Pires

"Pura coincidência (ou não), a exposição decorre em pleno fervor republicano com os nervos à flor da pele. É nela que nos surge o piscar de olho do maior vulto da língua pátria, esse mesmo, o Luís Vaz de Camões, acreditando na tradição, nosso vizinho em Constância."

Numa louvável iniciativa conjunta, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação da Casa de Bragança têm patente desde o passado dia 13 de Novembro e até 15 de Fevereiro de 2016, a notável exposição «D. MANUEL II e os livros de CAMÕES».

D. Manuel de Bragança, último rei de Portugal, foi um apaixonado bibliófilo. A nostalgia pelo seu país que o longo exílio inglês tanto aprofundou fez com que tenha dedicado então o melhor do seu tempo ao estudo do Portugal de quinhentos.

Perdido o Brasil, ameaçadas as possessões africanas com nuvens negras apesar do mapa cor de rosa e instaurada a República, que mais restaria a um exilado “profundamente português”, de cultura superior, com acesso privilegiado a meios culturais e literários de prestígio, se não mergulhar na sua paixão de bibliófilo?

Quando morre, em 1932, D. Manuel possuía um invejável conjunto de 112 obras camonianas editadas entre 1528 e 1928, tornando-se o maior coleccionador particular alusivo a Camões.

O catálogo da exposição é, por si só, como que uma ementa para uma refeição gourmet, servida com talher de prata. Foi-me trazido por um amigo, camoniano convicto, dos primeiros a visitá-la. Obrigado Mário, pela cortesia.

Pura coincidência (ou não), a exposição decorre em pleno fervor republicano com os nervos à flor da pele. É nela que nos surge o piscar de olho do maior vulto da língua pátria, esse mesmo, o Luís Vaz de Camões, acreditando na tradição, nosso vizinho em Constância.

Curiosamente, quem estuda a iconografia camoniana, sabe bem que o poeta nem sempre cerra o mesmo olho. Tanto pisca o olho à esquerda como o faz à direita, consoante quem o retrata.

As dúvidas vão mesmo mais longe e fixam-se na primeira edição de “Os Lusíadas” de 1572, a primeira epopeia escrita em língua portuguesa e em que, em duas versões com a mesmíssima data, a figura do pelicano da portada do livro, nos aparece com o bico ora voltado para um lado, ora para o outro. Ironias quinhentistas.

Por lá está também a segunda edição portuguesa, conhecida como a «edição dos piscos» editada já em período filipino (1584) e censurada por nuestros hermanos, a de Pedro Crasbeeck, a de Emílio Biel, enfim, tantas outras e tudo aquilo que, dificilmente, se voltará a reunir no espaço e no tempo.

Por fim, para vos desafiar à visita, transcrevo apenas um pequeno excerto de uma Carta de D. Manuel II ao camonista José Maria Rodrigues (07.XI.1929):

“... não pertenço ao mundo dos bibliófilos que não querem (que) ninguém veja os tesouros que possuem...»

Camões sabia bem o que fazia, quando piscava o olho à cultura...

 


(Adelino Correia-Pires, Novembro 2015)

 

 

 

 Outras notícias - Opinião


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias

Este mundo e o outro - joão carlos lopes »  2024-02-22 

Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”.
(ler mais...)


2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões »  2024-02-22  »  Jorge Cordeiro Simões

 

 


O dia 5 de Fevereiro de 2032, em que o Francisco Falcão fez 82 anos - aos quais nunca julgara ir chegar -, nasceu ainda mais frio do que os anteriores e este Inverno parecia ser nisso ainda pior que os que o antecederam, o que contribuiu para que cada vez com mais frequência ele se fosse deixando ficar na cama até mais tarde e neste dia festivo só de lá iria sair depois do meio-dia.
(ler mais...)


Avivar a memória - antónio gomes »  2024-02-22  »  António Gomes

Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento.

Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa.
(ler mais...)

 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-03-18  »  Hélder Dias Eleições "livres"...
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia