Gold! E a Ética?
Opinião » 2014-06-06 » Carlos Ramos
Portugal é um país rico em gold e na produtividade de difamações e insinuações. O nosso querido Portugal, muito dado aos gold, não olhou a meios na prestação de serviços de hotelaria aos nossos hermanos, que decidiram apoiar o seu Real ou o seu Atlético na cidade de Lisboa. Os preços dos quartos surgiram à gold, só com cartão dourado era possível alugar um quarto. O habitual, ganhar tudo no mesmo dia, ganhar sem olhar a meios, ou seja sem olhar ao futuro.
Nós somos um povo criativo e com uma capacidade de ”fazer dinheiro” impressionante. Decidimos criar os ”vistos gold” (isto é, a atribuição de autorização de residência em condições mais favoráveis a cidadãos estrangeiros que no nosso país invistam quantias acima de determinado montante) e têm tido um verdadeiro sucesso na dinamização do mercado do imobiliário em tempos de crise. Criamos um modelo para ganhar dinheiro, e de um modo, preferencialmente rápido. Os perigos são imensos e há quem alerte, para o branqueamento de capitais, dinheiro de origem ilegal ou criminosa. Para que estes, eventuais, perigos sejam controlados, será necessário um controlo rígido e ético na concessão e cancelamento dos vistos.
Eu interrogo-me sobre a ética do regime destes vistos gold! Creio que um visto deverá considerar éticamente aquele que se encontra num estado de vulnerabilidade e possa ser mais carecido de proteção (discriminação positiva). Os vistos gold é um especial favor de quem dessa proteção menos carecerá!
O interesse pragmático e utilitarista está em voga até na concessão dos vistos. Parece-me um atentado aos critérios de justiça social. O cálculo utilitário parece estar, infelizmente, à frente de critérios éticos. Que consequências sociais advêm de decisões politicas assentes em critérios utilitaristas e pragmáticos desta natureza?
Vejamos, como a cultura do utilitarismo está presente em muitas medidas e propostas de reforma: a) criação de tribunais especiais para a regulação de problemas com maior alcance monetário (e as pequenas empresas e particulares, continuam sujeitas à morosidade judicial?); b) abolição de direitos dos trabalhadores em nome da promoção do investimento; c) aumento do contributo TSU por parte do trabalhador; d) centralização dos serviços de saúde (em detrimento do acesso universal e qualidade do serviço nacional de saúde); cheque aluno (em detrimento da promoção do ensino público); tratamento especial em termos fiscais para os rendimentos do capital (em detrimento dos rendimentos do trabalho, que continuam a ser penalizados); etc.
A cultura utilitarista e ultraliberal tende a fechar os olhos à corrupção das grandes entidades bancárias, dos grandes grupos económicos, etc. Afinal, onde trabalham alguns dos antigos governantes? Muitos dos atuais governantes onde trabalhavam antes? A confusão de papéis pode originar ambiguidades no momento da decisão. A imparcialidade só está ao alcance de alguns! Por vezes parece que vivemos num país que fecha os olhos à corrupção e à violação dos direitos humanos!
A cultura utilitarista recorre ao conceito da redução de danos colaterais. Ou seja pretende-se reduzir, eventuais, danos em nome de um dito bem maior, pretensamente. Vejamos alguns exemplos: a) como evitar o malefício do aborto clandestino na saúde pública - propõe-se a legalização do aborto, nem mais nem menos; c) como evitar o malefício da prostituição e consumo de drogas - propõe-se a legalização da prostituição e da distribuição controlada da droga; d) como reduzir a despesa na saúde pública - redução de serviços de saúde e despedimento de pessoal médico e de enfermagem; e) como reduzir as despesas na educação - aumentar as turmas e despedir professores - como fazer? - exames de acesso aos professores e aumentar trabalhos de ordem burocrática até à exaustão, para rescindirem os contratos de livre vontade; etc.
Os governantes podem decidir, mas terão que saber respeitar as obrigações do Estado para com as populações, qualquer que seja o seu credo, opção política, etc. O respeito pelas obrigações do Estado deveriam ser respeitadas pelos governantes, mas a confusão entre governação e obrigações do Estado é grande. O derrube da barreira ética é grave e coloca em causa a legitimidade de governar. A legitimidade é muito mais do que o resultado de um sufrágio, a legitimidade advêm de um compromisso para com o bem de um país, de um estado. Mas as propostas da oposição, também, tem sido marcadas pela fraqueza e pobreza de objetividade. Daí a elevada taxa de abstenção nas últimas eleições, afinal a grande e única vencedora. Nisto os políticos deviam pensar mais, em vez de se guerrearem, em nome não sei de quê!
O conceito da redução de danos colaterais terá que enquadrar-se com a verdade dos problemas e encontrar para eles decisões éticas e com futuro na sustentabilidade do país. Há que saber eliminar os problemas na sua raíz, como por exemplo o da prostituição, com medidas preventivas e formativas.
O cálculo utilitarista está a criar em Portugal a ”opção preferencial pelos ricos”, completamente contrária à ”opção preferencial pelos pobres”. Viver impregnados na atual cultura é assumir o dever de uma cultura mais crítica e, devidamente, fundamentada em critérios éticos, como o Papa Francisco nos convida a viver.
Gold! E a Ética?
Opinião » 2014-06-06 » Carlos RamosPortugal é um país rico em gold e na produtividade de difamações e insinuações. O nosso querido Portugal, muito dado aos gold, não olhou a meios na prestação de serviços de hotelaria aos nossos hermanos, que decidiram apoiar o seu Real ou o seu Atlético na cidade de Lisboa. Os preços dos quartos surgiram à gold, só com cartão dourado era possível alugar um quarto. O habitual, ganhar tudo no mesmo dia, ganhar sem olhar a meios, ou seja sem olhar ao futuro.
Nós somos um povo criativo e com uma capacidade de ”fazer dinheiro” impressionante. Decidimos criar os ”vistos gold” (isto é, a atribuição de autorização de residência em condições mais favoráveis a cidadãos estrangeiros que no nosso país invistam quantias acima de determinado montante) e têm tido um verdadeiro sucesso na dinamização do mercado do imobiliário em tempos de crise. Criamos um modelo para ganhar dinheiro, e de um modo, preferencialmente rápido. Os perigos são imensos e há quem alerte, para o branqueamento de capitais, dinheiro de origem ilegal ou criminosa. Para que estes, eventuais, perigos sejam controlados, será necessário um controlo rígido e ético na concessão e cancelamento dos vistos.
Eu interrogo-me sobre a ética do regime destes vistos gold! Creio que um visto deverá considerar éticamente aquele que se encontra num estado de vulnerabilidade e possa ser mais carecido de proteção (discriminação positiva). Os vistos gold é um especial favor de quem dessa proteção menos carecerá!
O interesse pragmático e utilitarista está em voga até na concessão dos vistos. Parece-me um atentado aos critérios de justiça social. O cálculo utilitário parece estar, infelizmente, à frente de critérios éticos. Que consequências sociais advêm de decisões politicas assentes em critérios utilitaristas e pragmáticos desta natureza?
Vejamos, como a cultura do utilitarismo está presente em muitas medidas e propostas de reforma: a) criação de tribunais especiais para a regulação de problemas com maior alcance monetário (e as pequenas empresas e particulares, continuam sujeitas à morosidade judicial?); b) abolição de direitos dos trabalhadores em nome da promoção do investimento; c) aumento do contributo TSU por parte do trabalhador; d) centralização dos serviços de saúde (em detrimento do acesso universal e qualidade do serviço nacional de saúde); cheque aluno (em detrimento da promoção do ensino público); tratamento especial em termos fiscais para os rendimentos do capital (em detrimento dos rendimentos do trabalho, que continuam a ser penalizados); etc.
A cultura utilitarista e ultraliberal tende a fechar os olhos à corrupção das grandes entidades bancárias, dos grandes grupos económicos, etc. Afinal, onde trabalham alguns dos antigos governantes? Muitos dos atuais governantes onde trabalhavam antes? A confusão de papéis pode originar ambiguidades no momento da decisão. A imparcialidade só está ao alcance de alguns! Por vezes parece que vivemos num país que fecha os olhos à corrupção e à violação dos direitos humanos!
A cultura utilitarista recorre ao conceito da redução de danos colaterais. Ou seja pretende-se reduzir, eventuais, danos em nome de um dito bem maior, pretensamente. Vejamos alguns exemplos: a) como evitar o malefício do aborto clandestino na saúde pública - propõe-se a legalização do aborto, nem mais nem menos; c) como evitar o malefício da prostituição e consumo de drogas - propõe-se a legalização da prostituição e da distribuição controlada da droga; d) como reduzir a despesa na saúde pública - redução de serviços de saúde e despedimento de pessoal médico e de enfermagem; e) como reduzir as despesas na educação - aumentar as turmas e despedir professores - como fazer? - exames de acesso aos professores e aumentar trabalhos de ordem burocrática até à exaustão, para rescindirem os contratos de livre vontade; etc.
Os governantes podem decidir, mas terão que saber respeitar as obrigações do Estado para com as populações, qualquer que seja o seu credo, opção política, etc. O respeito pelas obrigações do Estado deveriam ser respeitadas pelos governantes, mas a confusão entre governação e obrigações do Estado é grande. O derrube da barreira ética é grave e coloca em causa a legitimidade de governar. A legitimidade é muito mais do que o resultado de um sufrágio, a legitimidade advêm de um compromisso para com o bem de um país, de um estado. Mas as propostas da oposição, também, tem sido marcadas pela fraqueza e pobreza de objetividade. Daí a elevada taxa de abstenção nas últimas eleições, afinal a grande e única vencedora. Nisto os políticos deviam pensar mais, em vez de se guerrearem, em nome não sei de quê!
O conceito da redução de danos colaterais terá que enquadrar-se com a verdade dos problemas e encontrar para eles decisões éticas e com futuro na sustentabilidade do país. Há que saber eliminar os problemas na sua raíz, como por exemplo o da prostituição, com medidas preventivas e formativas.
O cálculo utilitarista está a criar em Portugal a ”opção preferencial pelos ricos”, completamente contrária à ”opção preferencial pelos pobres”. Viver impregnados na atual cultura é assumir o dever de uma cultura mais crítica e, devidamente, fundamentada em critérios éticos, como o Papa Francisco nos convida a viver.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
|
Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |