Sem Nome
Opinião » 2014-03-20 » Afonso Borga
Todos os dias, faça chuva ou faça sol, o vejo, com uma manta sobre as pernas, encostado ao frio pilar, defronte para a pastelaria. À hora de almoço geralmente costuma descer a rua e fica junto à porta da igreja. Como se de uma rotina se tratasse. O nosso caminho cruza-se. Diariamente.
Quando a noite cobre a capital são centenas os que, à sua semelhança, procuram o melhor abrigo nas ruas lisboetas para passar a noite. Os últimos dados, lançados pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, estimam que existam cerca de cinco centenas de sem-abrigo em Lisboa. Segundo os mesmos resultados, cerca de 5% têm um curso superior... São os ”novos pobres”!
Cruzamo-nos, cada vez mais, no nosso quotidiano, com estas pessoas, que perderam o laço comum com a sociedade e que deixaram de seguir um percurso de vida considerado ”normal”. Homens e mulheres que, por não terem outra solução, por cansaço, angústia, ou revolta, se afastaram de tudo o que antes lhes pertencia e os identificava, passando a viver numa ”liberdade” que os limita, que os aprisiona. Presos a um vício, presos a uma história que os condena, presos a estereótipos que os afastam da comunidade, cada vez mais postos à margem por uma política que os exclui.
Sim, porque a ”liberdade pode ser prisão”!
Numa das rotineiras noites de sexta-feira, as histórias ambulantes, contadas na primeira pessoa, têm sempre um ponto em comum…
- Isto cada vez vai pior, rapaz… estas associações vão-me consolando o estômago com uma refeição quente pela noite. Somos uns incógnitos para a sociedade, uns ”sem -nome”.
Pouco a pouco, estes sem-nome começam a tornar-se elementos comuns da paisagem, tão enraizados que estão no nosso dia-a-dia. Passam cada vez mais despercebidos perante a confusão citadina, a febre frenética do consumismo, ou a pressa de chegar ao trabalho ou à escola. Aquelas noites de sextas-feira tornam-se numa viagem afetiva pelas ruas da cidade, uma viagem onde dominam os vícios, as estórias, os sonhos de homens e mulheres que esperam por uma ajuda mais abrangente, e que vá para além da distribuição das refeições que lhes permite matar a fome. Aos olhos dos estereótipos são eles que, ou não fazem nada para mudar a sua situação, ou não querem ajuda. Eu digo-vos que grande parte já perdeu a vontade, e a muitos nem a esperança lhes sobra.
apborga@live.com.pt
Sem Nome
Opinião » 2014-03-20 » Afonso BorgaTodos os dias, faça chuva ou faça sol, o vejo, com uma manta sobre as pernas, encostado ao frio pilar, defronte para a pastelaria. À hora de almoço geralmente costuma descer a rua e fica junto à porta da igreja. Como se de uma rotina se tratasse. O nosso caminho cruza-se. Diariamente.
Quando a noite cobre a capital são centenas os que, à sua semelhança, procuram o melhor abrigo nas ruas lisboetas para passar a noite. Os últimos dados, lançados pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, estimam que existam cerca de cinco centenas de sem-abrigo em Lisboa. Segundo os mesmos resultados, cerca de 5% têm um curso superior... São os ”novos pobres”!
Cruzamo-nos, cada vez mais, no nosso quotidiano, com estas pessoas, que perderam o laço comum com a sociedade e que deixaram de seguir um percurso de vida considerado ”normal”. Homens e mulheres que, por não terem outra solução, por cansaço, angústia, ou revolta, se afastaram de tudo o que antes lhes pertencia e os identificava, passando a viver numa ”liberdade” que os limita, que os aprisiona. Presos a um vício, presos a uma história que os condena, presos a estereótipos que os afastam da comunidade, cada vez mais postos à margem por uma política que os exclui.
Sim, porque a ”liberdade pode ser prisão”!
Numa das rotineiras noites de sexta-feira, as histórias ambulantes, contadas na primeira pessoa, têm sempre um ponto em comum…
- Isto cada vez vai pior, rapaz… estas associações vão-me consolando o estômago com uma refeição quente pela noite. Somos uns incógnitos para a sociedade, uns ”sem -nome”.
Pouco a pouco, estes sem-nome começam a tornar-se elementos comuns da paisagem, tão enraizados que estão no nosso dia-a-dia. Passam cada vez mais despercebidos perante a confusão citadina, a febre frenética do consumismo, ou a pressa de chegar ao trabalho ou à escola. Aquelas noites de sextas-feira tornam-se numa viagem afetiva pelas ruas da cidade, uma viagem onde dominam os vícios, as estórias, os sonhos de homens e mulheres que esperam por uma ajuda mais abrangente, e que vá para além da distribuição das refeições que lhes permite matar a fome. Aos olhos dos estereótipos são eles que, ou não fazem nada para mudar a sua situação, ou não querem ajuda. Eu digo-vos que grande parte já perdeu a vontade, e a muitos nem a esperança lhes sobra.
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As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |