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Equilíbrio - inês vidal

Opinião  »  2021-04-10 

"A dez milhões de latinos, gente de sol e de fiesta, pediram, pela segunda vez, que se fechassem em casa, que evitassem os amigos, a família."

É e sempre foi uma questão de equilíbrio. Tudo. E todos o sabemos. O difícil é chegar lá, encontrá-lo, ter a racionalidade e o bom senso suficientes para o ter e para o ser. E para saber que o equilíbrio de hoje não é obrigatoriamente o de amanhã, muito menos o que era ontem. Talvez por isso, por essa mutabilidade e efemeridade, o equilíbrio é, sem sombra de dúvidas, das coisas mais difíceis de alcançar. Sempre. E em tudo. E tudo o que acontece ou deixa de acontecer, depende dele.

Odeio fundamentalismos. O mundo não é a preto e branco, há toda uma paleta de cores, com nuances e degradés, que nos permite vê-lo a várias velocidades. Tento, desde que tenho uma pequena lucidez latente, manter o equilíbrio. Pelos outros, mas essencialmente por mim. A minha fraca alma precisa de estabilidade, regras, rotinas e uma certa noção de tempo e de espaço, de certo e de errado, para se manter à tona. Sempre, sem esquecer que o errado pode parecer certo em muitos momentos, a tanta gente, a qualquer um de nós, incluindo a mim. Não censuro e sei que o problema reside exactamente aí. Saber onde está a linha que separa os campos.

Pauto-me, como dizia, por tentar perceber que se algo não for esquerda, não quer dizer que seja obrigatoriamente direita, que se não for bom, não quer dizer que seja obrigariamente mau. Há timings, contextos, entremeios a ter em conta. Há um equilíbrio a alcançar. A dificuldade é, mais uma vez, como em tudo, tentar garantir que a emoção não tolde a razão e que tamanha lengalenga não seja apenas e só isso mesmo, uma lengalenga...

Na segunda-feira, entrámos numa segunda fase de desconfinamento, neste que é o segundo mega-confinamento em apenas um ano de vida. Raras foram as vezes que, durante uma vida toda, teremos proferido a palavra “confinamento”. Actualmente, um ano depois, não só se tornou um dos vocábulos mais usados, como o sentimos verdadeiramente na pele. Duas vezes. Até ver.

A dez milhões de latinos, gente de sol e de fiesta, pediram, pela segunda vez, que se fechassem em casa, que evitassem os amigos, a família, os colegas de trabalho, o convívio em geral. Que não fizessem festas, festivais, viagens, que evitassem os beijos e os abraços. No fundo, qualquer tipo de contacto. Agora, coincidentemente num dia de 27 graus à sombra, depois de um Inverno frio e cinzento de mais, abrem finalmente as esplanadas. E pedem-nos calma e cuidado. É o mesmo que oferecer um ovo Kinder à Maria Rita antes de almoço e esperar que faça uma refeição capaz e guarde o chocolate para o fim.

As esplanadas abriram na segunda-feira. Donos sedentos de vida nos seus quintais, pessoas a precisar de sol, de normalidade e de outras pessoas, que não as que vêem habitualmente ao espelho. O resultado foi animador, para quem anseia por dias e rotinas iguais às que sempre conheceu, assustador para quem gere futuros em quadrados cor de laranja e verdes, com “rs” e “ts” que mal conseguimos entender.

Nós, que apenas falamos a língua da vida, ansiamos que as pessoas voltem à rua, que encham as lojas fechadas há tempo de mais, os museus que não existem sem gente, as esplanadas onde se respira devagar, onde o tempo não tem pressa. Os mais conscientes, cuja razão não consegue toldar a emoção, pedem cautela nesta hora, temendo que todo este tamanho esforço colectivo tenha sido em vão.

É o tal equilíbrio entre o quer e o deve, quase impossível de atingir depois de uma vida que nos foi abruptamente e democraticamente roubada. Um equilíbrio penoso de pesar: uma economia que precisa de andar, as crianças que precisam de brincar, os adolescentes que precisam de beijar, os idosos que precisam de conversar, os divorciados que precisam de se encontrar, as famílias que precisam de respirar... Tudo isto, sem que morramos aos montes, quais números que caem como tordos, numa vala que ficará sempre por tapar.

As esplanadas abriram e encheram-se na segunda-feira. Eram dezenas, aos molhos e sem máscaras. Riam felizes com a luz ao fundo. Não sei se será esse o caminho para o fim do momento que atravessamos. Mas, garantidamente, o caminho também não poderá nunca ser aquele cinzento que conhecemos há um ano, o da prisão, do isolamento, o da solidão. Há um equilíbrio a achar aqui. Não faço ideia de qual possa ser e não sei se algum dos senhores das reuniões no Infarmed saberá qual ele é. Chegámos a um daqueles cruzamentos sem resposta certa: privar-nos de viver poderá ser o caminho para eventuais dias melhores, aos quais nos arriscamos a não chegar, ou a sobrevivência da espécie humana justificará qualquer esforço que nos venha a ser pedido?

 

 

 

 

 

 

 

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