Que dia é hoje? - carlos paiva
"“Sobre o ambiente, os dez por cento em falta para encerrar o tema da poluição da ribeira da Boa Água, a apropriação da nascente do Rio Almonda, marcaram presença noutros discursos. Neste não. Outro la"
Uma das novidades que a vida virtual trouxe à minha pobre existência foi o facto de existirem dias comemorativos de tudo e mais alguma coisa. Todos os dias é dia de algo. Desde o dia do abraço, do amigo, da música, do cão, do gato, até aos mais tradicionais digamos, dia da mãe, da criança, da liberdade, do trabalhador. E nós, humanos pejados de deficiências inventadas pela superioridade de uma entidade imaginária, só almejamos alguma hipotética decência se manifestarmos sensibilidade aos temas programados nos dias programados, nesse maravilhoso mundo virtual. Caso contrário, seremos sumariamente julgados pelos nossos pares como umas autênticas bestas insensíveis, egoístas alienados. Nada bate a integração na mediocridade. Um must.
O dia da liberdade, o 25 de Abril, concedeu-nos entre outras coisas, a liberdade de expressão. Passámos a poder verbalizar o que bem nos apetecer, dentro dos limites do bom senso e da educação administrada pelos nossos progenitores. Pai e mãe, ambos devidamente assinalados em dias próprios. Diz-se dos já idos, a saudade, o sacrifício, a gratidão. Raramente a educação, os valores, a cultura, a liberdade de pensamento e expressão do mesmo, o exercício de cidadania. Não se vá roubar prestígio ao outro dia. O trabalho, esse também em dia próprio, tem tendência em enclausurar-se dentro dos limites operários, fazendo cara de pau ao independente, aos recibos verdes, à escravatura assalariada. Simulando uma preocupação genérica atrás da parangona do “trabalho precário” sem nunca meter o dedo na ferida, sem acusar os responsáveis, sem apontar alternativas.
Numa evidente demonstração de falta de bom senso, o espaço virtual da Câmara Municipal não fez referência às comemorações do 25 de Abril. Um lapso. O evento ocorreu de facto, apareceu na comunicação social regional e a presidência discursou sobre criação de emprego, sem mencionar que o esforço à data se traduz em trabalho precário. Outro lapso. O orgulho na recuperação do centro histórico, anunciado pela mesma presidência em programa televisivo pago com o dinheiro dos contribuintes umas semanas antes, é mencionado agora como aspecto a ser corrigido. Outro lapso. A propaganda difundida ao longo dos últimos dois anos (para ser simpático) acerca das qualidades e virtudes da rede de cuidados de saúde na região, acompanhada de fotografias com presidentes sorridentes, apresenta-se agora como mais um item “a ser melhorado” no discurso presidencial. Outro lapso. A melhoria da rede escolar, até então perfeitamente satisfatória e funcional, é outro item. Outro lapso. Sobre o ambiente, os dez por cento que persistem em falta para encerrar o tema da poluição da ribeira da Boa Água, a apropriação da nascente do Rio Almonda, marcaram presença noutros discursos. Neste não. Outro lapso.
De lapso em lapso, diz-se o que apetece dizer, nas comemorações do dia da liberdade. Ao abrigo da liberdade de expressão obtida nesse mesmo dia. Será seguro concluir que, conforme sublinhado no discurso, “a conquista da autonomia do poder local”, se revelou no dia do lapso. Isto, respeitando o bom senso e sendo simpático.
Que dia é hoje? - carlos paiva
“Sobre o ambiente, os dez por cento em falta para encerrar o tema da poluição da ribeira da Boa Água, a apropriação da nascente do Rio Almonda, marcaram presença noutros discursos. Neste não. Outro la
Uma das novidades que a vida virtual trouxe à minha pobre existência foi o facto de existirem dias comemorativos de tudo e mais alguma coisa. Todos os dias é dia de algo. Desde o dia do abraço, do amigo, da música, do cão, do gato, até aos mais tradicionais digamos, dia da mãe, da criança, da liberdade, do trabalhador. E nós, humanos pejados de deficiências inventadas pela superioridade de uma entidade imaginária, só almejamos alguma hipotética decência se manifestarmos sensibilidade aos temas programados nos dias programados, nesse maravilhoso mundo virtual. Caso contrário, seremos sumariamente julgados pelos nossos pares como umas autênticas bestas insensíveis, egoístas alienados. Nada bate a integração na mediocridade. Um must.
O dia da liberdade, o 25 de Abril, concedeu-nos entre outras coisas, a liberdade de expressão. Passámos a poder verbalizar o que bem nos apetecer, dentro dos limites do bom senso e da educação administrada pelos nossos progenitores. Pai e mãe, ambos devidamente assinalados em dias próprios. Diz-se dos já idos, a saudade, o sacrifício, a gratidão. Raramente a educação, os valores, a cultura, a liberdade de pensamento e expressão do mesmo, o exercício de cidadania. Não se vá roubar prestígio ao outro dia. O trabalho, esse também em dia próprio, tem tendência em enclausurar-se dentro dos limites operários, fazendo cara de pau ao independente, aos recibos verdes, à escravatura assalariada. Simulando uma preocupação genérica atrás da parangona do “trabalho precário” sem nunca meter o dedo na ferida, sem acusar os responsáveis, sem apontar alternativas.
Numa evidente demonstração de falta de bom senso, o espaço virtual da Câmara Municipal não fez referência às comemorações do 25 de Abril. Um lapso. O evento ocorreu de facto, apareceu na comunicação social regional e a presidência discursou sobre criação de emprego, sem mencionar que o esforço à data se traduz em trabalho precário. Outro lapso. O orgulho na recuperação do centro histórico, anunciado pela mesma presidência em programa televisivo pago com o dinheiro dos contribuintes umas semanas antes, é mencionado agora como aspecto a ser corrigido. Outro lapso. A propaganda difundida ao longo dos últimos dois anos (para ser simpático) acerca das qualidades e virtudes da rede de cuidados de saúde na região, acompanhada de fotografias com presidentes sorridentes, apresenta-se agora como mais um item “a ser melhorado” no discurso presidencial. Outro lapso. A melhoria da rede escolar, até então perfeitamente satisfatória e funcional, é outro item. Outro lapso. Sobre o ambiente, os dez por cento que persistem em falta para encerrar o tema da poluição da ribeira da Boa Água, a apropriação da nascente do Rio Almonda, marcaram presença noutros discursos. Neste não. Outro lapso.
De lapso em lapso, diz-se o que apetece dizer, nas comemorações do dia da liberdade. Ao abrigo da liberdade de expressão obtida nesse mesmo dia. Será seguro concluir que, conforme sublinhado no discurso, “a conquista da autonomia do poder local”, se revelou no dia do lapso. Isto, respeitando o bom senso e sendo simpático.
![]() Até os mais distraídos na escola, fui um deles, se devem lembrar do princípio mais básico da física. Para qualquer acção, há uma reacção. Por incrível que pareça, por muito tosco que seja, é o princípio base que orienta e rege todo o método científico, até o de ponta. |
![]() O conflito em curso na Ucrânia veio dar maior visibilidade à sua capital e sede de governo, Kiev. Como todos os cidadãos, vejo com uma sensação de perda a destruição das estruturas materiais e das vidas, mas igualmente das irreparáveis, no curto prazo, fracturas nas relações humanas. |
![]() Está calor. Em vez de falar de política, como habitualmente, o melhor é derivar e falar de literatura. Não é que o assunto interesse mais aos portugueses do que a política. Não interessa, mas ajuda a suportar o calor e a inflação. |
![]() |
![]() Sempre quis ser espanhola. Gosto e invejo o ritual das cañas e pinchos, ao mesmo tempo que me questiono, intrigada, sobre onde enfiam as crianças para poderem passar os fins de tarde na esplanada. Adoro o conceito. Sempre quis ser espanhola. |
![]() Somos conhecidos no mundo inteiro como o povo do desenrasca. Não é pelo vinho do Porto, não é pelo CR7, não é pelos descobrimentos, não é pelo clima e pelas praias. É pelo desenrasca. Como testemunham os hábitos de leitura nacionais, temos uma facilidade nata em absorver conhecimento pela prática. |
![]() Dos três princípios da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – este último permaneceu sempre numa espécie de limbo. Os grandes debates e os grandes conflitos ideológicos estruturaram-se em torno dos outros dois. |
![]() Há longos anos que desafiamos a sorte com a tragédia logo ali à espreita no centro histórico de Torres Novas. As derrocadas das casas abandonadas sucedem-se, felizmente ainda ninguém foi apanhado. A última, na rua da Corrente, veio apenas confirmar a sorte que temos tido e a tragédia que está por perto. |
![]() |
![]() |
» 2022-06-02
» Hélder Dias
Rei Carlos? |
» 2022-06-17
» Hélder Dias
Fantoche... |
» 2022-06-04
Sim, dou licença - inês vidal |
» 2022-06-18
» Jorge Carreira Maia
Escavar no romance português - jorge carreira maia |
» 2022-06-18
» Carlos Paiva
Tomatina - carlos paiva |