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Para acabar de vez com o “convento do Carmo”

Opinião  »  2017-07-20 

"Edifício do antigo hospital é alvo de atentado à verdade histórica"

Costuma dizer-se que uma mentira mil vezes repetida acaba por ser uma verdade, mas neste caso não é possível. Não há nada a fazer e é uma verdade histórica com quase 200 anos: não há nenhum “Convento do Carmo” em Torres Novas. Existe, sim, o edifício do antigo hospital, construído de raiz e inaugurado em 1882. Tudo o resto é um delírio e um atestado de estupidez passado a dezenas de milhares de torrejanos.

Quando, em 1866, o governo do Reino cedeu à Misericórdia de Torres Novas o terreno, edifício e Cerca do antigo convento do Carmo, já o convento do Carmo não existia há trinta anos. Extinto em 1834, o edifício conventual era uma construção térrea e relativamente pobre, destacando-se dele um alpendre na frontaria. Na data da concessão, apenas o alpendre estava de pé, mas praticamente em ruínas, pelo que teve de ser logo demolido. Para a construção do hospital teria de ser também demolida a torre da igreja do Carmo, que estava contígua ao extinto convento.

A construção do novo complexo, um edifício hospitalar moderno e arrojado para as posses da Misericórdia e do município, teve início ainda na década de 60 desse século XIX e mobilizou recursos vários e imensos: da própria confraria, de particulares, donativos do povo e subsídios oficiais. Na carta de lei que enquadrava a cedência, estipulava-se que, “em qualquer tempo”, se o edifício viesse e servir outro fim que não o de hospital, tudo reverteria para a Fazenda Pública: o terreno, o edifício e ainda as receitas arrecadadas pela Misericórdia na venda dos valiosos terrenos da Cerca que envolviam o antigo convento. Quer isto dizer que, quando o actual edifício deixou de servir como hospital, tudo o que ali estava era do Estado. Um decreto do governo Sócrates reverteu o estatuto jurídico da concessão, permitindo que o Estado, via câmara municipal, pagasse à Misericórdia quase um milhão de euros por um bem que lhe pertencia.

Voltemos ao actual edifício. Trata-se de um edifício hospitalar projectado obviamente para esse fim e com requisitos técnicos avançados para a época, visíveis na dimensão e pé direito dos amplos corredores, na área das enfermarias e outros aposentos, ou até no sistema de ventilação, assente em caixas de ar por baixo dos soalhos. Era, para época, um hospital moderno. Na década de 30, Artur Gonçalves escrevia que o hospital de Torres Novas ainda era considerado um dos mais modernos da província. Não era bairrismo, era verdade.

Literalmente, no edifício do hospital que todos conhecemos não havia uma ripa, um prego, um tijolo, um grão de areia que fosse do edifício do antigo convento. Nem o novo edifício do hospital, como se compreende, tinha algo que ver, em termos de desenho, planta ou volumetria sequer, com o extinto e demolido convento. Quando se inaugurou o hospital, em 1882, já meio século passara sobre o fim do antigo convento que estivera naquele local e que não passava já de uma ténue lembrança.

A verdade é que as obras de requalificação, agora concluídas no local, são obras de requalificação do edifício do antigo hospital de Torres Novas. Chamando as coisas e os factos pelos nomes, pode dizer-se que está ali o edifício dos futuros Paços do Concelho e que se tratou de um programa de reabilitação do edifício do antigo hospital. Não há nenhum “convento do Carmo”, não se reconstruíu nem reabilitou nenhum “convento do Carmo”.

Havendo dificuldades em dizer publicamente que se vão inaugurar os futuros Paços do Concelho, por causa do período de nojo de cinco anos decorrente da aldrabice junto dos fundos comunitários, e muitos pruridos em dizer que se iram inaugurar as obras de requalificação do edifício do antigo hospital (seria assim a formulação correcta), ao menos que se desenhasse uma opção credível, tipo “Paços do Carmo”. Agora “convento do Carmo” não lembrava nem ao Menino Jesus de África que é pretinho.

Persistir nessa mentira, que parece decorrer de um qualquer pathos instalado que tende para a indigência mental e o delírio, constitui uma afronta à história, à inteligência, à verdade. Os que persistem nessa palhaçada de mau gosto que é aldrabar a verdade histórica de modo dolorosamente anedótico e até confrangedor, estão a querer chamar estúpidos e atrasados mentais a milhares de torrejanos que sabem que aquele edifício era o do antigo hospital, o “hospital velho”, como o povo diz.

Poderão pois, na sua teimosia e na sua ignorância, continuar a falar num “convento do Carmo” que foram desenterrar sabe-se lá a que corredores esconsos das suas meninges. Tenham paciência: não há “convento do Carmo”, nunca haverá “convento do Carmo”. A luminosa verdade e a soberania da história são mais fortes que os estilhaços do foguetório do momento.
João Carlos Lopes

 

 

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