António Costa
Opinião » 2016-01-06 » Jorge Carreira Maia"António Costa revelou-se não apenas hábil na manobra política mas ainda um profundo conhecedor da realidade portuguesa."
Agora que os ânimos mais exaltados descobriram o ridículo em que navegavam, vale a pena tentar perceber o significado político das opções de António Costa, da troca da velha aliança com a direita por uma aliança à esquerda. A leitura mais simplista é dizer que o fez para não sair da vida política. Isto não é falso, mas é não entender tudo o que estava em jogo. Para além do futuro político de António Costa, o do Partido Socialista. Se o PS fizesse aquilo que a direita ou Francisco Assis pretendiam – apoiar um governo de PSD/CDS – o futuro do PS seria muito negro. Tornar-se-ia, a curto prazo, irrelevante no panorama político português.
António Costa revelou-se não apenas hábil na manobra política mas ainda um profundo conhecedor da realidade portuguesa, tanto da realidade das elites políticas como do espírito popular. Calculou que a sua esquerda não tinha outro remédio senão apoiar um governo seu, mesmo que não esteja especialmente entusiasmada com a experiência, como é o caso do PCP. Calculou que a direita e o Presidente da República, para além da indignação e da exaltação, só tinham de aceitar a nova configuração parlamentar e dar posse a um governo PS. Não temeu sequer que a direita conseguisse organizar uma fronda contra a sua solução. Na verdade, a fronda foi tentada, mas a sociedade não se comoveu por ver PSD e CDS postos fora da governação. Não estamos em tempo de Marias da Fonte.
Será esta opção eficaz para salvar o PS da irrelevância? No mínimo dá-lhe tempo. A situação política na Europa, da qual depende a nossa, é muito instável e imprevisível. Se a Europa persistir na imposição de uma austeridade extrema, o mais natural é António Costa deixar de ter espaço de manobra para manter o acordo com os partidos à sua esquerda. Estes, contudo, ficam com o ónus de o derrubarem, de abrirem o caminho para uma nova vitória da direita e, o que é uma real possibilidade, de verem uma parte do seu eleitorado votar PS.
Se a Europa tiver aprendido alguma coisa e se António Costa tiver o mesmo grau de habilidade política e de conhecimento dos actores europeus que teve no caso português, então é possível que o governo se mantenha até ao fim da legislatura. O que ganha o PS com isso? Evitar o seu desaparecimento como grande partido e, ao mesmo tempo, reforçar a possibilidade de acordos à esquerda, trazendo o BE e a CDU para a esfera da governação e da responsabilidade pelos destinos do país. Ao mesmo tempo o PS recentra a vida política. Por outro lado, os socialistas serão julgados por aquilo que o governo de António Costa fizer e não pela governação de José Sócrates. Não será pouco.
António Costa
Opinião » 2016-01-06 » Jorge Carreira MaiaAntónio Costa revelou-se não apenas hábil na manobra política mas ainda um profundo conhecedor da realidade portuguesa.
Agora que os ânimos mais exaltados descobriram o ridículo em que navegavam, vale a pena tentar perceber o significado político das opções de António Costa, da troca da velha aliança com a direita por uma aliança à esquerda. A leitura mais simplista é dizer que o fez para não sair da vida política. Isto não é falso, mas é não entender tudo o que estava em jogo. Para além do futuro político de António Costa, o do Partido Socialista. Se o PS fizesse aquilo que a direita ou Francisco Assis pretendiam – apoiar um governo de PSD/CDS – o futuro do PS seria muito negro. Tornar-se-ia, a curto prazo, irrelevante no panorama político português.
António Costa revelou-se não apenas hábil na manobra política mas ainda um profundo conhecedor da realidade portuguesa, tanto da realidade das elites políticas como do espírito popular. Calculou que a sua esquerda não tinha outro remédio senão apoiar um governo seu, mesmo que não esteja especialmente entusiasmada com a experiência, como é o caso do PCP. Calculou que a direita e o Presidente da República, para além da indignação e da exaltação, só tinham de aceitar a nova configuração parlamentar e dar posse a um governo PS. Não temeu sequer que a direita conseguisse organizar uma fronda contra a sua solução. Na verdade, a fronda foi tentada, mas a sociedade não se comoveu por ver PSD e CDS postos fora da governação. Não estamos em tempo de Marias da Fonte.
Será esta opção eficaz para salvar o PS da irrelevância? No mínimo dá-lhe tempo. A situação política na Europa, da qual depende a nossa, é muito instável e imprevisível. Se a Europa persistir na imposição de uma austeridade extrema, o mais natural é António Costa deixar de ter espaço de manobra para manter o acordo com os partidos à sua esquerda. Estes, contudo, ficam com o ónus de o derrubarem, de abrirem o caminho para uma nova vitória da direita e, o que é uma real possibilidade, de verem uma parte do seu eleitorado votar PS.
Se a Europa tiver aprendido alguma coisa e se António Costa tiver o mesmo grau de habilidade política e de conhecimento dos actores europeus que teve no caso português, então é possível que o governo se mantenha até ao fim da legislatura. O que ganha o PS com isso? Evitar o seu desaparecimento como grande partido e, ao mesmo tempo, reforçar a possibilidade de acordos à esquerda, trazendo o BE e a CDU para a esfera da governação e da responsabilidade pelos destinos do país. Ao mesmo tempo o PS recentra a vida política. Por outro lado, os socialistas serão julgados por aquilo que o governo de António Costa fizer e não pela governação de José Sócrates. Não será pouco.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
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