Os silenciosos
Opinião » 2016-10-21 » Acácio Gouveia
Antes de mais há que saudar a edição mil do JT! Saudar pela qualidade jornalística, pela longevidade e pela resiliência.
Nas reflexões de João Carlos Lopes saltou-me à vista um queixume sobre a menor participação de classes profissionais (exemplificou: professores e médicos) que antigamente contribuíam para o enriquecimento dos jornais regionais com artigos de opinião. Penso que tem razão: estamos perante um empobrecimento da discussão pública e, de certa forma, da própria democracia.
Quanto às causas desse abandono, atrevo-me a propor duas. Uma, especulação minha, terá que ver com aparecimento em cena de novas tecnologias de comunicação: blogs, fóruns de discussão na net, a abertura ao comentário das notícias nos meios de comunicação on line, etc... Esses novos canais de comunicação representam uma séria concorrência (mas não necessariamente significaram uma melhoria qualitativa) aos modelos clássicos de tertúlia escrita.
Na qualidade de alguém com historial de intervenção em meios de comunicação, avanço outra causa para esta deserção: a subvalorização da tecnocracia e, portanto, das classes profissionais citadas. No paradigma vigente em Portugal, passou a sobrevalorizar-se o chamado “poder político” à custa da desvalorização do poder técnico. As soluções passaram a ser “políticas”, em antagonismo mecanicista com ao saber técnico. Este paradigma não se confina às elites políticas: está mesmo a impregnar a sociedade civil. Os técnicos estão a ser afastados dos espaços de discussão, sem grande resistência da parte destes, diga-se de passagem. E, quando opinam são ignorados, sem que alguém se dê ao trabalho de os refutar. Cito, como exemplo, opiniões sobre a maternidade em Torres Novas recentemente vindas a lume, verdadeiramente um não assunto que desvia a discussão de temas bem mais importantes no domínio da política de saúde. Como tal, é natural que potenciais colaboradores julguem inútil uma participação que adivinham vir a ser ignorada.
Não se defende, evidentemente, a monopolização da discussão pública por uma espécie dum “concílio de sábios”, mas convenhamos que discussão pública à revelia dos peritos é uma insensatez.
Se me é permitida uma tirada especulativa, interrogo-me se o longo e penoso caminho iniciado há muitos séculos por gente da têmpera de Roger Bacon, em direção à autonomia do saber científico, não estará a sofrer uma inflexão a caminho de uma nova idade das trevas.
Os silenciosos
Opinião » 2016-10-21 » Acácio GouveiaAntes de mais há que saudar a edição mil do JT! Saudar pela qualidade jornalística, pela longevidade e pela resiliência.
Nas reflexões de João Carlos Lopes saltou-me à vista um queixume sobre a menor participação de classes profissionais (exemplificou: professores e médicos) que antigamente contribuíam para o enriquecimento dos jornais regionais com artigos de opinião. Penso que tem razão: estamos perante um empobrecimento da discussão pública e, de certa forma, da própria democracia.
Quanto às causas desse abandono, atrevo-me a propor duas. Uma, especulação minha, terá que ver com aparecimento em cena de novas tecnologias de comunicação: blogs, fóruns de discussão na net, a abertura ao comentário das notícias nos meios de comunicação on line, etc... Esses novos canais de comunicação representam uma séria concorrência (mas não necessariamente significaram uma melhoria qualitativa) aos modelos clássicos de tertúlia escrita.
Na qualidade de alguém com historial de intervenção em meios de comunicação, avanço outra causa para esta deserção: a subvalorização da tecnocracia e, portanto, das classes profissionais citadas. No paradigma vigente em Portugal, passou a sobrevalorizar-se o chamado “poder político” à custa da desvalorização do poder técnico. As soluções passaram a ser “políticas”, em antagonismo mecanicista com ao saber técnico. Este paradigma não se confina às elites políticas: está mesmo a impregnar a sociedade civil. Os técnicos estão a ser afastados dos espaços de discussão, sem grande resistência da parte destes, diga-se de passagem. E, quando opinam são ignorados, sem que alguém se dê ao trabalho de os refutar. Cito, como exemplo, opiniões sobre a maternidade em Torres Novas recentemente vindas a lume, verdadeiramente um não assunto que desvia a discussão de temas bem mais importantes no domínio da política de saúde. Como tal, é natural que potenciais colaboradores julguem inútil uma participação que adivinham vir a ser ignorada.
Não se defende, evidentemente, a monopolização da discussão pública por uma espécie dum “concílio de sábios”, mas convenhamos que discussão pública à revelia dos peritos é uma insensatez.
Se me é permitida uma tirada especulativa, interrogo-me se o longo e penoso caminho iniciado há muitos séculos por gente da têmpera de Roger Bacon, em direção à autonomia do saber científico, não estará a sofrer uma inflexão a caminho de uma nova idade das trevas.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato |
» 2024-03-18
» Hélder Dias
Eleições "livres"... |
» 2024-03-08
» Jorge Carreira Maia
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia |
» 2024-03-08
» Pedro Ferreira
A carne e os ossos - pedro borges ferreira |