DE-VA-GA-RI-NHO
Opinião » 2020-04-17 » Jorge Salgado Simões"O refrear súbito da velocidade abre-nos a possibilidade de fazer tudo muito mais devagar"
Nas últimas semanas já houve quem visse os Himalaias a mais de duzentos quilómetros de distância. Já houve quem preconizasse o fim do capitalismo, o fim das ditaduras, o fim dos regimes populistas, ou o fim da nossa vida em sociedade. E houve até quem jurasse ver golfinhos nos canais de Veneza. Bem, o momento é histórico e deixará marcas. Mas naturalmente também é dado a coisas com pouco sentido.
A minha perceção é que, aos poucos, esquecidos do que se passou, regressaremos aos velhos caminhos que seguíamos até março de 2020. E é até com alguma pena que o digo porque, na verdade, esta paragem forçada tem revelado possibilidades que valeria a pena enraizar no pós-crise epidemiológica. Deixo-vos quatro exemplos disto mesmo:
A VIDA MAIS LIGADA. Parece um paradoxo que em tempos de distanciamento nos vejamos mais ligados uns aos outros. Na verdade, o que temos vivido é uma crescente necessidade de adaptação que se tem manifestado num aprofundamento rápido, porque necessário, da utilização das ferramentas digitais que já tínhamos disponíveis e que agora temos mesmo de utilizar.
A VIDA RECENTRADA. Menos dependente das grandes centralidades urbanas e sujeita a mobilidades mais voluntárias e espaçadas, permitindo a desconcentração que estamos mesmo a precisar do ponto de vista da ocupação do território. As distâncias vão-se manter, mas a acessibilidade será cada vez mais determinada pela disponibilidade e qualidade da ligação digital.
A VIDA MENOS FICCIONADA. Com menos realidades inventadas. As discussões em torno da confiança dos dados da pandemia, dos meios que temos e não temos para a combater, e até da comunicação que é feita por estes dias, provam que, de governos e autoridades, precisamos de verdade e assertividade, mais conteúdo e menos imagem, truques ou sucessões de anúncios de coisas que um dia podem, eventualmente, acontecer.
A VIDA MAIS DEVAGAR. Não há necessidade de grandes pressas. O refrear súbito da velocidade abre-nos a possibilidade de fazer tudo muito mais devagar, pensado e executado com mais sentido. E se calhar, no final, concluiremos que é assim que devemos continuar, com tempo a sobrar para fazer outras coisas, usufruir do que por aqui anda à nossa volta ou mesmo para não fazer absolutamente mais nada.
Confesso que não sei se isto são tendências de facto ou apenas desejos que se vêm manifestando por conta do meu próprio confinamento. Pelo sim pelo não, mantenham-se por aí para vermos como é que isto acaba.
DE-VA-GA-RI-NHO
Opinião » 2020-04-17 » Jorge Salgado SimõesO refrear súbito da velocidade abre-nos a possibilidade de fazer tudo muito mais devagar
Nas últimas semanas já houve quem visse os Himalaias a mais de duzentos quilómetros de distância. Já houve quem preconizasse o fim do capitalismo, o fim das ditaduras, o fim dos regimes populistas, ou o fim da nossa vida em sociedade. E houve até quem jurasse ver golfinhos nos canais de Veneza. Bem, o momento é histórico e deixará marcas. Mas naturalmente também é dado a coisas com pouco sentido.
A minha perceção é que, aos poucos, esquecidos do que se passou, regressaremos aos velhos caminhos que seguíamos até março de 2020. E é até com alguma pena que o digo porque, na verdade, esta paragem forçada tem revelado possibilidades que valeria a pena enraizar no pós-crise epidemiológica. Deixo-vos quatro exemplos disto mesmo:
A VIDA MAIS LIGADA. Parece um paradoxo que em tempos de distanciamento nos vejamos mais ligados uns aos outros. Na verdade, o que temos vivido é uma crescente necessidade de adaptação que se tem manifestado num aprofundamento rápido, porque necessário, da utilização das ferramentas digitais que já tínhamos disponíveis e que agora temos mesmo de utilizar.
A VIDA RECENTRADA. Menos dependente das grandes centralidades urbanas e sujeita a mobilidades mais voluntárias e espaçadas, permitindo a desconcentração que estamos mesmo a precisar do ponto de vista da ocupação do território. As distâncias vão-se manter, mas a acessibilidade será cada vez mais determinada pela disponibilidade e qualidade da ligação digital.
A VIDA MENOS FICCIONADA. Com menos realidades inventadas. As discussões em torno da confiança dos dados da pandemia, dos meios que temos e não temos para a combater, e até da comunicação que é feita por estes dias, provam que, de governos e autoridades, precisamos de verdade e assertividade, mais conteúdo e menos imagem, truques ou sucessões de anúncios de coisas que um dia podem, eventualmente, acontecer.
A VIDA MAIS DEVAGAR. Não há necessidade de grandes pressas. O refrear súbito da velocidade abre-nos a possibilidade de fazer tudo muito mais devagar, pensado e executado com mais sentido. E se calhar, no final, concluiremos que é assim que devemos continuar, com tempo a sobrar para fazer outras coisas, usufruir do que por aqui anda à nossa volta ou mesmo para não fazer absolutamente mais nada.
Confesso que não sei se isto são tendências de facto ou apenas desejos que se vêm manifestando por conta do meu próprio confinamento. Pelo sim pelo não, mantenham-se por aí para vermos como é que isto acaba.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
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» 2024-03-08
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